Diretor do Ibase diz que democracia exige que vencedor não se torne ‘dono’ do posto

Para o sociólogo Cândido Grybowsky, ditadura do poder econômico na política será diminuída quando for assegurado ao cidadão o direito de se fazer, de fato, representado por quem elege

Eleitores aguardam vez de votar em seção instalada numa escola de Porto Alegre (RS). Democracia do país amadurece a cada pleito (CC/Fora do Eixo)

São Paulo – O principal saldo das eleições municipais é que o Brasil pode celebrar uma democracia que funciona. A avaliação é do sociólogo Cândido Grybowsky, diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). E, seguindo numa análise otimista, ele assinala que o sistema político ainda tem aspectos em que pode melhorar.

“Temos uma democracia que funciona, dentro do que a cultura política e o sistema eleitoral permitem. Mas ainda podemos caminhar para um modelo que valorize mais o voto dos cidadãos, e menos a ditadura dos partidos e do poder econômico”, afirmou o sociólogo. “O eleitor, no geral, colocou à frente os interesses de sua cidade.”

Para Grybowsky, porém, ainda pesa o poder econômico. “E, mais que isso, ainda é muito presente o fato de que os vencedores se tornam donos do posto conquistado, e não representantes de fato dos que o elegeram”, observou.

Como exemplo de que o eleitorado valorizou sentir-se representado ele cita a vitória expressiva de Eduardo Paes, no Rio de Janeiro. “Ele soube aproveitar a conjuntura favorável, com investimentos dos governos federal e estadual, e respondeu com um bom governo. Enquanto alguns setores da sociedade querem levar o centro para a Barra (da Tijuca), ele caminhou do centro para o norte, para a periferia. A política de urbanização de favelas, por exemplo, é um reconhecimento da favela como forma de cidade; em detrimento dos que esperam o fim da favela, a substituição do espaço por outra forma de ocupação”, analisou.

O resultado expressivo obtido por Marcelo Freixo também é digno de registro, segundo avalia Gryboswsky. “O PSOL acabou aparecendo bem no Rio e em Belém. Já o tão falado PSD, do Kassab, não se destacou pelo país afora como esperavam os analistas. O PMDB, por sua vez, mantém-se como força de centro e um aliado a ser cobiçado.”

O diretor do Ibase considerou também que não se confirmaram expectativas dos que achavam que o PT, e partidos do centro para a esquerda, sofreriam uma redução. O episódio mais emblemático a ilustrar que o chamado mensalão teve peso diminuto no resultado eleitoral foi o primeiro lugar alcançado pelo PT em Osasco – a candidatura de João Paulo, condenado, foi substituída pela de Jorge Lapas e ele está com 60% dos votos considerados válidos.

Ele destacou também as vitórias do PSB em Recife e em Belo Horizonte, como resultado da força da lideranças locais e como forma de o eleitorado dizer “não tragam para minha cidade problemas que não são da minha cidade”. “Se bem que em BH a vitória foi do PSB ligado ao Aécio Neves. Mesmo assim, não se pode desprezar o desempenho de Patrus Ananias. Mesmo perdendo, foi uma votação e tanto pela forma coma a candidatura foi lançada e trabalhada.”