Dilma evoca herança trabalhista e compara Brizola Neto a João Goulart

Na posse do ministro do Trabalho, presidenta disse que Brasil vai na contramão da economia internacional, que eliminou 50 milhões de vagas em cinco anos. E defendeu juros e impostos mais baixos

Para Dilma, Brizola Neto, dono de herança histórica, representa 50 anos de conquistas trabalhistas (Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência)

São Paulo – Na posse de Brizola Neto no Ministério do Trabalho e Emprego, hoje (3), a presidenta Dilma Rousseff evocou a herança trabalhista de Getúlio Vargas e João Goulart, além do próprio avô do novo ministro, Leonel Brizola. Segundo ela, a nomeação de alguém que carrega os sobrenomes Brizola e Goulart significa um “reconhecimento da importância histórica do trabalhismo na formação do nosso país”. Ao mesmo tempo, afirmou que a posse “reforça também a parceria com o PDT”, partido ao qual ela já foi filiada e que emitiu sinais de insatisfação com a escolha da presidenta para a pasta.

Para Dilma, Brizola Neto é “um jovem que representa mais de meio século de lutas sociais e conquistas de direitos por parte dos trabalhadores”. E lembrou o que considera uma coincidência histórica: a posse de João Goulart no Ministério do Trabalho em 1953, aos 34 anos – o novo ministro, sobrinho-neto de Jango, completará 34 em 11 de outubro. “Foi Jango que deu à pasta do Trabalho peso político e grande dimensão”, afirmou, citando a “visão de estadista” de Vargas”, a “grande visão social” de João Goulart e direitos trabalhistas assegurados naquele período, como a jornada de oito horas diárias, o salário mínimo, a organização sindical e a legislação de proteção ao trabalhador.

A presidenta disse ainda que, em vez de precarizar direitos, o Brasil escolheu outro modelo de desenvolvimento. “Queremos um país estável e que possa crescer pela educação e pela qualificação dos trabalhadores. É a nossa missão.” Segundo ela, o país tem “três grandes problemas” a solucionar: juros, câmbio e impostos. “Queremos um país com taxas de juros mais compatíveis com aquelas praticadas no mercado internacional”, afirmou, voltando a criticar os bancos, desta vez de forma menos explícita. “Queremos que o país tenha impostos mais baixos para assegurar a produtividade”, acrescentou.

E destacou que o Brasil segue na “contramão” da economia internacional em relação ao mercado de trabalho, criando milhões de empregos nos últimos anos, diferente do que ocorre na maioria dos países. “Nesta semana, a OIT (Organização Internacional do Trabalho) mostrou, em relação a 2007, o mundo perdeu 50 milhões de vagas formais, que foram pulverizadas, pela crise e por políticas de austeridade exageradas.” Dilma citou ainda taxas de desemprego que chegam a 24% na Espanha, por exemplo. “Apesar dos impactos inevitáveis da crise internacional, o Brasil passa por um período de expansão de oportunidades.”

A referência a Brizola emocionou tanto a presidenta como o novo ministro, cuja mãe, Nereida Daudt Brizola, estava presente na posse. Ele defendeu a presença do Estado na economia. “Não quer dizer que as relações do trabalho não devam ser modernizadas”, ressaltou. É necessário que a presença do Estado se atualize, acrescentou, desde que se mantenha voltado para “a dignificação do trabalhador, princípio e fim de toda atividade econômica”. Tal presença, disse Brizola Neto, “não é um óbice à atividade empresarial”.

Para ele, o Ministério do Trabalho mantém sua função de “equilibrar” as relações capital-trabalho. Defendeu um ministério “ágil, transparente e inovador” e “presente na formulação das políticas econômicas”.

A pasta ficou cinco meses sob o comando interino do secretário-executivo, Paulo Roberto Pinto, desde a saída de Carlos Lupi, no início de dezembro. “A história vai contar o que o senhor fez”, disse o ex-interino ao transmitir o cargo. Lupi estava na primeira fila de convidados, ao lado do presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), João Oreste Dalazen. Atrás dele, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, também do PDT. Os presidentes das seis centrais (CUT, Força, CTB, UGT, NCST e CGTB) estavam presentes. À tarde, eles se reúnem com Dilma.

“Tijolaço”

Brizola Neto publicou hoje um texto de despedida em seu blog, “Tijolaço”, falando de sua posse. Ele afirmou que as ações do ministro e do ministério terão sempre publicidade e a prestação de contas será contínua, mas pelos canais institucionais. “Mas que ninguém, nem por um segundo, duvide que o Ministro do Trabalho tem um posicionamento do qual não se afasta e do qual não pode se afastar, quando temos um governo que possui uma firme posição em favor do povo trabalhador, de seus direitos e da elevação da qualidade de sua vida”, afirmou. “O que não exclui, muito ao contrário, a defesa da empresa brasileira ou daquela que aqui se instale ou queira se instalar e participar da vida econômica e social do povo brasileiro num sentido positivo e moderno de gerar cada vez mais emprego e produção, mais riqueza e equidade, porque riqueza sem equidade é odiosa e equidade sem riqueza é inviável.”

A decisão de interromper as publicações no blog deve-se à obrigação de austeridade imposta pelo cargo. “Não apenas porque é a austeridade é indispensável a um homem público como, mais ainda, é vital a alguém que sabe que será examinado e vigiado com lentes, por seu sobrenome, por suas posições de enfrentamento ao poder das empresas de comunicação e, claro, por fazer parte do Governo Dilma”, disse Brizola Neto. Para ele, expor publicamente as opiniões deveria fazer parte de uma política transparente. “Infelizmente, porém, é tido como “atacar” a imprensa. A menos que pretender ter opiniões próprias e eventualmente dissonantes  e poder externá-las diretamente, sem o filtro da grande imprensa, seja um ataque à liberdade.”