36 anos do PT

Dilma diz que divergência com partido é encarada com normalidade

Em entrevista coletiva no Chile, presidenta Dilma Rousseff minimiza crise com partido e ausência em comemorações realizadas hoje no Rio de Janeiro; em carta ao partido, Dilma defende Lula

Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma entre a secretária executiva da Cepal, Alicia Bárcena, e a presidenta do Chile, Michelle Bachelet

São Paulo – Em entrevista coletiva concedida hoje (27) em Santiago, Chile, a presidenta Dilma Rousseff negou que sua ausência nas comemorações do aniversário do partido hoje, no Rio de Janeiro, indique tensões ou mágoas com o PT.

O problema de relacionamento teria surgido com a aprovação nesta semana, no Senado, de projeto do senador José Serra (PSDB-SP), o PLS 131/15, que revoga a obrigatoriedade da Petrobras no pré-sal. Na negociação para a votação, Dilma apoiou substitutivo do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que trocou a obrigatoriedade de 30% da Petrobras nos campos de exploração do pré-sal, segundo a Lei de Partilha, de 2010, pela preferência à empresa nas futuras licitações.

Indagada se não participaria das comemorações do PT hoje, Dilma afirmou que “gostaria muito, mas eu imagino que você (dirigindo-se à jornalista que perguntou) perceba que o Chile e o Brasil têm um problema de distância, aliás, que nós mesmos dissemos aqui para todos aqueles, tanto chilenos, quanto brasileiros, que são responsáveis pela construção da nossa realidade econômica, política e comercial, que está importante, com US$ 26 bilhões de estoque, de investimento chileno no Brasil, não é desprezível. Mas nós sabemos a distância, são quatro horas de avião, e eu ainda tenho um almoço com a presidenta Bachelet (Michelle Bachelet), e ainda tenho uma fala na Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos). O PT foi avisado que eu não compareceria”.

Perguntada novamente sobre a ausência, se seria “justa”, Dilma respondeu: “Não acho que seja uma questão de justiça, ou não. Eu acho que nós vivemos em uma democracia. O governo é uma coisa, os partidos são outra. Em que pese eles serem a base, às vezes eles divergem. Isso é normal, tem sido encarado com normalidade”.

A presidenta também afirmou que conta com o apoio do partido. “Eu não acredito que nossas relações se caracterizem nem pelo fato de que há um posicionamento de adesão sem avaliação crítica, não é só avaliação crítica, mas sem o fato de que o partido é um partido, e um governo, um governo. Eu não governo só para o PT. Eu governo para os 204 milhões de brasileiros, não governo só para o PP, só para o PDT, ou só para o PTB, ou só para o PMDB, eu tenho de governar olhando todos os interesses, e como o nome diz, o partido é sempre uma parte, são fundamentais os partidos em uma democracia. Demonizar partido, achar que partido é responsável por isso, isso e aquilo é uma visão incorreta, é não entender que é assim que as democracias modernas funcionam. E esse papel tem de ser preservado, respeitado, porque isso constitui a democracia”.

“Sem mágoas, sem crise?”, perguntou ainda uma jornalista. “Não é pessoal isso”, respondeu Dilma. “Não é possível vocês, jornalistas, acharem que a relação tenha mágoas ou não. Tem concordâncias, discordâncias, tem propostas diferentes, e tem inclusive o amadurecimento do governo, que não é o dono da verdade, nem dos partidos, que são donos cada um de sua verdade. Mas cada um tem sua verdade, e acha que ela deve ser externada e nós temos de respeitar”, disse.

Rui Falcão lê carta de Dilma

Em carta encaminhada ao PT neste sábado, a presidenta Dilma defendeu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem sido alvo de ataques sistemáticos. “O presidente Lula é o patrimônio político do nosso país e vem sendo duramente atacado de forma injusta. Sou e serei solidária ao companheiro Lula em todas as ocasiões e continuarei ao seu lado em todas as batalhas”, disse Dilma.

O documento foi lido pelo presidente nacional do partido, Rui Falcão, durante a festa de 36 anos da legenda. Na carta, Dilma exaltou a militância petista. “Nesse momento de celebração quero saudar toda a militância. Vocês são responsáveis pela extraordinária transformação desde 2003”, disse Dilma.

A presidenta relembrou, no documento enviado ao PT, que a política brasileira vive “tempos difíceis”. “Há um ataque sistemático aos pilares do nosso projeto de crescimento”, explicou. No entanto, Dilma destacou que, apesar dos ataques, não recuará. “De norte a sul e de leste a oeste seguiremos firmes e fortes, de braços dados com essa aguerrida militância do PT que, como eu, tem orgulho da bandeira vermelha na luta por um país mais justo”, disse a presidenta.