Dilma afirma que Brasil está disposto a aumentar contribuição no FMI

Na abertura da reunião do G-20, presidenta ressalta que decisão do Brasil de incluir 40 milhões na classe média não foi apenas uma questão moral, mas o enfrentamento de problemas econômicos

O governo brasileiro trabalha na tentativa de aumentar suas cotas de participação no FMI, um anseio manifestado desde a gestão de Lula (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff reiterou nesta quinta-feira (3) que o Brasil está disposto a aumentar sua contribuição para o Fundo Monetário Internacional (FMI). Durante o almoço de abertura da reunião do G-20, grupo que reúne as maiores economias mundiais, ela manifestou ainda a preocupação de que a crise dos países ricos comece a “respingar” nas nações em desenvolvimento.

Em paralelo, o governo brasileiro trabalha na tentativa de aumentar suas cotas de participação no FMI, um anseio manifestado desde a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva de reformas nas instituições supranacionais que reflitam a mudança na correlação de forças mundial. A possibilidade de momento é aumentar a injeção de recursos do Brasil em troca de um maior peso no órgão, que hoje concentra a maior parte dos votos nas mãos dos Estados Unidos e das nações da Europa.

A expectativa da reunião em Cannes, na França, é chegar a um acordo que ofereça uma solução conjunta para o caso da União Europeia, em especial o da Grécia. Na última semana, o bloco impôs aos gregos um pacote de medidas que tenta reduzir em 50% a dívida atual, acima de 150% do Produto Interno Bruto (PIB). 

Em uma reunião após o almoço, Dilma reafirmou que não acredita no caminho do corte de investimentos sociais, uma posição manifestada com frequência nos últimos meses. Para a presidenta, este caminho leva ao aprofundamento da recessão econômica e ao aumento do desemprego. “A inclusão de 40 milhões de pessoas na classe média foi não somente uma imposição moral como também uma questão de enfrentamento econômico”, afirmou frente aos demais líderes mundiais. 

Enquanto isso, França e Alemanha trabalham para que o primeiro-ministro grego, George Papandreou, abra mão da ideia de promover um plebiscito no qual consultaria a população sobre a aplicação das medidas. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, chegou a afirmar que o país tem a opção de aceitar o pacote ou se retirar da zona do euro. 

O ministro francês de Assuntos Europeus, Jean Leonetti, acrescentou nesta quinta que se a Grécia não responder às medidas, deixará de receber verbas, o que significará sua falência. “A Grécia é algo que podemos superar, algo que podemos ficar sem”, afirmou.

Já Dilma voltou a manifestar que a atual crise também exige medidas para combater a guerra cambial. A leitura do governo brasileiro é de que o excesso de liquidez provocado pelos caminhos adotados pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, provocou uma desvalorização excessiva do dólar, o que é bom para os exportadores daquele país, mas é prejudicial aos exportadores brasileiros. 

“É conhecido por todos o empenho do Brasil na retomada da Rodada de Doha”, afirmou a presidenta a respeito das negociações internacionais iniciadas em 2001 com a finalidade de reduzir as barreiras comerciais em todo o mundo. “Mas é preciso dizer também que a atual crise econômica também provocou problemas cambiais e a ampliação de liquidez que afeta muitos países, como o Brasil. A Conferência da OMC (Organização Mundial do Comércio) em dezembro deve ser oportunidade para retomar nosso compromisso de Doha, assim como discutir a questão cambial e as questões de segurança alimentar, incluindo subsídios agrícolas.”

Dilma Rousseff manifestou ainda apoio à tese da Organização Internacional do Trabalho de um piso único de renda como medida de proteção mundial. “Tem efeito inequívoco contra a crise. O Brasil não irá se opor a uma taxa financeira mundial, se isso for um consenso entre os países em favor da ampliação dos investimentos sociais.”