Coligação

Reunião nesta quarta sela destino de Campos e discute PSB no governo

Governador convocou encontro em Brasília após pressão de integrantes da sigla, insatisfeitos com a demora em definir se pernambucano será candidato à Presidência ou se apoiará reeleição de Dilma

Roberto Stuckert Filho/Planalto

Dilma quer uma resposta franca de Campos, que, demorado, ficou sob pressão de correligionários

Brasília – Tem sido cada vez mais forte a pressão do PSB junto ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pela definição de uma vez por todas sobre os rumos a serem tomados pelos socialistas em 2014 e um possível rompimento com o governo Dilma Rousseff. A decisão pode sair nas próximas horas. Ou, mais precisamente, na manhã desta quarta-feira (18), quando o governador tem agendada reunião extraordinária com a executiva do PSB na capital.

“Se fosse hoje e eu pudesse escolher, sairia candidato. Mas sou presidente nacional do PSB e sei que isso precisa ser avaliado em conjunto, porque implica em riscos e consequências para todos que integram o partido.” A frase teria sido proferida por Campos durante reunião em Fortaleza, na última semana, com representantes da legenda. E resume bem o impasse em que se encontra em relação à aliança PSB e PT – desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, os socialistas têm espaço no governo. Apesar desse discurso e de ainda ter destacado preocupação com o crescimento do PSB nos estados e com a eleição de mais governadores e parlamentares pela legenda no próximo ano – a insatisfação tanto de parlamentares, como também ministros e governantes do PSB e do PT, conforme informações de pessoas próximas a ele, chegou a um ponto em que não dá mais para esperar.

Por conta disso, desde a noite da última segunda-feira (16), o pernambucano está em Brasília participando de reuniões diversas com dirigentes do partido e ministros da sigla – como o secretário nacional de Portos, Leônidas Cristino. Também é tido como certo que o governador aguarda um horário para ser recebido pela presidenta Dilma Rousseff, para falar sobre seus planos e colocar os “pingos nos is”.

O que políticos ligados ao governador avaliam, principalmente os governadores do partido, preocupados com as composições estaduais para as eleições do próximo ano, é que a estratégia inicial de Campos deu errado. O esperado era manter em banho-maria essa possibilidade de vir a ser candidato, aguardar a decisão das convenções dos diretórios em outubro e oficializar seu caminho depois disso, o que culminaria com a saída do PSB do governo Dilma em dezembro ou janeiro.

Mas as reuniões constantes com empresários do Sudeste, a postura de pré-candidato, as críticas às medidas adotadas pela equipe econômica nos últimos meses e, principalmente, a aproximação com o PSDB, divulgada amplamente, irritaram a presidenta e aumentaram as inseguranças em relação à aliança PT/PSB.

Se por um lado Dilma mandou recado por meio de pessoas próximas que chegaram à imprensa, por outro correligionários do PSB começaram a considerar que a situação reflete um constrangimento desnecessário e, por isso mesmo, necessita de uma tomada de  posição. “Quando faço algum comentário sobre colegas, costuma ser para o bem. Mas, neste caso, preciso afirmar que não acho de bom tom manter cargos no governo se for mantida essa postura pelo PSB. A cada dia que passa, a necessidade de definição sobre isso fica num espaço mais estreito”, enfatizou o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), um dos governantes mais próximos da presidenta.

“O PSB muito mais contribui. Se for para ficar criando esse ambiente, via imprensa, acho que o melhor é entregar mesmo os cargos”, afirmou o deputado Júlio Delgado, presidente do partido em Minas Gerais. Segundo ele, a definição é importante para, caso a aliança venha a ser mantida, acabar com a hostilidade que vem sendo observada por parte do governo junto aos socialistas – um sentimento que é dividido em vários estados onde o PSB possui governantes.

O ministro da Integração Nacional pode ser um dos primeiros a entregar o cargo caso Campos siga adiante em seu projeto presidencialA avaliação feita pelos parlamentares do partido é que são duas as preocupações que levam à cobrança por uma definição. Em primeiro lugar, os socialistas acham que o clima de divisão entre PSB e PT já está maior do que se esperava. Atribuem que teria sido insuflado, principalmente, por representantes do primeiro escalão do governo do PT e pelo PMDB, uma vez que os peemedebistas objetivam receber de presente os cargos que estão, hoje, nas mãos de pessoas indicadas pela legenda presidida por Eduardo Campos. Seria uma forma, inclusive, de o governo negociar a fortificação de alianças com o PMDB nos estados.

Como segundo fator, entendem que causou incômodo o aumento do assédio do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, um dos principais articuladores do governo Dilma, junto aos governadores do PSB no sentido de convencê-los a permanecerem aliados do PT. Pesaram, ainda, as próprias declarações do governador, vistas como exageradas para quem queria tocar essa indefinição com cautela. Para completar, os dirigentes mais antigos do PSB acham que as andanças do presidente nacional estão levando o partido a ser visto com um caráter mais à direita, fugindo de sua tradicional postura de esquerda. “Ele pesou a mão em sua busca por costuras”, afirmou um senador aliado.

Futuro do país

Durante uma das poucas vezes em que tocou no assunto nos últimos dias, Eduardo Campos fez questão de destacar que o tempo do PSB já teria sido definido, dando a entender que seria outro tempo, diferente do que estava sendo cobrado. O governador orientou todos os dirigentes da sigla a evitarem dar declarações sobre a aliança com o PT para evitar novas situações polêmicas e chamou a atenção para o “futuro do país”. “Temos um tempo e respeitamos a posição de cada partido. Quem acha que deve decidir amanhã, define amanhã. Quem acha que define no próximo mês, define. Mas tem quem ache que precisa cuidar do Brasil”, colocou.

Do Planalto, um assessor da Presidência chegou a dizer que “a situação estaria se tornando insustentável”, motivo pelo qual o governo estaria mais firme do que nunca na cobrança de uma posição. Para o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), boa parte dos diretórios do partido socialista apoia a candidatura de Eduardo Campos ao Planalto e já deu início às mobilizações para fortalecer os palanques estaduais nesta direção.

Eduardo Campos conta indiretamente, no entanto, com a ajuda de Lula. O ex-presidente teria pedido a Dilma, em reunião recente, para evitar um confronto imediato com o PSB como forma de conseguir firmar alianças futuras, num segundo turno das próximas eleições. Comenta-se que o petista, além de certo carinho por Eduardo Campos, admira muito sua capacidade de trabalho. Mas, apesar de qualquer afeto que tenha pelo neto de Miguel Arraes, por trás dessa manobra estaria uma estratégia política. Pela avaliação da maioria dos deputados e senadores, quanto mais tempo o PSB ficar no governo, ocupando cargos e se aproveitando de todos os apoios que essa aliança lhes proporciona, mais difícil será para o partido anunciar uma candidatura própria mais adiante.

Cid Gomes (d) e o irmão, Ciro, que agora elogia Padilha (e), ficaram contrariados com as imposições do presidente do PSBAdversários de peso

O governador de Pernambuco enfrenta, ainda, a oposição de dois adversários de peso, dentro do partido: os irmãos Ferreira Gomes, do Ceará. Antes da reunião realizada em Fortaleza, o governador cearense Cid Gomes chegou a dar declarações fortes, como as de que ele e o irmão, Ciro, não eram “políticos de quinta coluna” e “não gostamos de trairagem”, numa referência clara à postura que vem sendo observada pelo diretório nacional do PSB. Os ânimos, na descrição de interlocutores que acompanharam a reunião de Campos com Cid Gomes e demais integrantes do PSB no Ceará, foram arrefecidos, em tom cordial.

Ciro protagonizou uma crise interna no PSB, no início do ano, ao dar afirmações na mesma linha de Cid. Gomes disse que considerava inviável a candidatura de Campos à Presidência depois de ter participado e contribuído com o governo Dilma Rousseff desde o início. E se sabe que, tradicionalmente, é o único político que trava uma disputa interna com o presidente da sigla, tendo sido preterido de uma candidatura majoritária pela legenda em 2010.

Também poderá influenciar sobre os irmãos a candidatura do ministro da Secretaria dos Portos, Leônidas Cristino, ao governo do Ceará, para suceder Cid Gomes. Explica-se: se Cristino for mesmo candidato pelo PSB e houver um rompimento, a presidenta Dilma terá como palanque naquele estado apenas o senador Eunício Oliveira, que sairá como candidato ao governo pelo PMDB. Caso o rompimento não se dê, o PT terá dois palanques apoiando a reeleição da presidenta no Ceará. “São ajustes que precisam ser avaliados, mas ninguém se iluda: as conversas estão em andamento há um bom tempo”, ressaltou um ministro nordestino.

Recentemente, Ciro Gomes assumiu a secretaria de Saúde do Ceará e se posicionou favorável ao programa Mais Médicos, uma das principais plataformas do governo para melhorias do setor, que aparece em qualquer pesquisa de opinião pública como a preocupação central da população. “Eu acho que o programa foi mal empacotado e mal anunciado, mas isso é uma opinião antiga. Hoje, para mim, é um excelente programa”, colocou.

“Ele está fazendo um dever de casa correto. A meu ver, Ciro continua sendo um dos grandes coringas do jogo eleitoral que envolve PSB e PT e tanto os petistas como Eduardo Campos estão cientes disso”, avaliou o cientista político Alexandre Ramalho, da Universidade de Brasília (UnB).

Caso a ruptura com o governo se confirme, deixarão os cargos o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, e os titulares da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco). Só não se sabe o destino do ministro da Secretaria Nacional dos Portos.