Aliança

PSB deixa governo e Campos vai ao Planalto comunicar Dilma, agora adversária

Saída da base aliada dá fim a parceria fechada na década de 1980. Ministros entregam cargos. Governador garante que não passa à oposição, mas correligionários falam em 'humilhação'

Sérgio Lima/Folhapress

Mesmo fora do governo, Campos evita assumir candidatura à Presidência, admitida apenas como tendência

Brasília – Depois de uma semana de reuniões em Brasília, o PSB finalmente deixou claro o que há meses se aguardava que fosse definido: a tendência real de apresentar candidatura própria à Presidência da República nas eleições do próximo ano, contra o PT de Dilma Rousseff. Com seus integrantes repetindo frases como “deixar a presidenta Dilma Rousseff à vontade” e mencionando situações definidas como de “humilhação” e “constrangimentos” sofridos nos últimos tempos, a Executiva Nacional do partido anunciou sua saída do governo com a entrega, em definitivo, de todos os cargos ocupados em ministérios e estatais.

Presidente nacional da legenda, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, agora mais pré-candidato do que antes, confirmou que este é, de fato, um passo no sentido de ser lançado candidato ao Planalto em 2014: “A decisão só será tomada em março de 2014, mas é, hoje, o desejo do PSB”. Campos destacou, também, que embora a sigla não passe a ser da oposição propriamente, será programada uma nova reunião para discutir os casos em que poderá ser dado apoio ao governo durante as votações, assim como os casos em que a bancada será liberada para se posicionar da forma como quiser no Congresso Nacional.

“Cargos nunca precederam nem orientaram a aliança que fizemos há mais de dez anos com a frente política que está no poder. Nossa relação com os governos de Lula e de Dilma sempre foi de apoio desinteressado”, chegou a declarar o governador. Ele fez questão de reiterar que a decisão por uma candidatura, mesmo desejada, ainda precisará ser definida pelos integrantes do PSB e pela militância – embora todos já a tenham como certa.

Logo após a reunião, Campos se encontrou no Planalto com a presidenta Dilma Rousseff para comunicar oficialmente a decisão da Executiva. Ele já conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem, por telefone, quando avisou sobre o resultado das conversas tidas nos últimos dias com aliados, correligionários e integrantes do governo.

Campos também divulgou carta, endereçada a Dilma, na qual afirma que sempre o partido não esteve apegado a cargos, e se queixou de que há ataques sistemáticos pelo fato de manter-se com funções no governo federal em meio à possibilidade de candidatura própria em 2014. O governador assegura ainda que seguirá apoiando o governo do PT no Congresso, mas que o partido quer discutir de forma “mais ampla e livre”. “Esta decisão não diz respeito a qualquer antecipação quanto a posicionamentos que haveremos de adotar no pleito eleitoral que se avizinha, visto que nossa estratégia – que não exclui a possibilidade de candidatura própria – será discutida nas instâncias próprias”, conclui.

Informações de bastidores dão conta que, internamente, Eduardo Campos pediu a governadores e prefeitos para não acirrar ainda mais o clima de confronto com o PT e evitar destituir de imediato os representantes do partido em seus estados e municípios. O governador, ao ser questionado a respeito, disse que esse tipo de procedimento terá de ser tomado pelas representações do PSB em cada estado. Já o líder da legenda na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), adotou uma postura mais radical ao falar sobre o rompimento.

Albuquerque sugeriu, ao contrário de Campos, que os cargos ocupados pelo PT nos estados governados pelo PSB – Pernambuco, Espírito Santo, Amapá, Piauí, Ceará e Paraíba – também sejam devolvidos. E usou como exemplo o que estava acontecendo como uma espécie de “divórcio” entre governo e PSB. “É um divórcio. Amigável, mas é”, completou.

Pontos divergentes

Segundo informações de bastidores, no entanto, a ruptura com o governo não foi uma decisão tranquila para a Executiva Nacional do PSB. Enquanto a grande dúvida era se os ministros Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional) e Leônidas Cristino (da Secretaria Nacional dos Portos) acompanhariam a legenda e deixariam os cargos, os dois surpreenderam e anunciaram seus apoios à ruptura, sem grandes debates. Outros socialistas, no entanto, não foram tão facilmente convencidos – casos do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande; do governador do Ceará, Cid Gomes; e da senadora pela Bahia, Lídice da Mata.

Casagrande não participou da reunião. De acordo com deputados do Espírito Santo, ele teria considerado que o momento era inoportuno para uma tomada de posição em qualquer sentido. Mas, por telefone, disse para Eduardo Campos que apoiaria a decisão acertada pela maioria. Cid Gomes, que sempre demonstrou ser uma incógnita sua continuidade no PSB, caso não fosse mantido o apoio ao governo, ressaltou que embora considere a iniciativa “intempestiva”, iria seguir o entendimento da maioria. Porém, ele não assinou a ata final da reunião.

Outro de posição divergente foi o senador Antônio Carlos Valadares, de Sergipe. Valadares pregou a conciliação e colocou que o PSB faz parte do governo há anos, por isso todos os que estavam na reunião seriam, também, responsáveis pelas conquistas obtidas. O senador teria dito, ainda, aos colegas de partido, que “abandonar o barco não é aconselhável”, argumentando não ser “o que os eleitores querem que aconteça”.  Entre colegas mais próximos, o senador reclamou que a decisão foi acertada previamente, demonstrando não ter gostado da reunião da executiva ter sido, em sua opinião, apenas para confirmar a saída do PSB do governo.

Críticas a petistas

Durante a reunião, as críticas não pouparam ministros e representantes do segundo escalão do governo vinculados ao PT e ao PMDB. No caso do PT, um dos principais alvos foi o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Foi avaliado entre os integrantes do partido que o PSB vinha sendo vítima de um jogo de empurra-empurra movido por petistas e peemedebistas, uma vez que ao mesmo tempo em que caciques do PT procuravam governadores socialistas para conversar e pedir ajuda, no sentido de demover os integrantes do partido da ideia de uma candidatura individual em 2014, plantavam na imprensa notícias de que seriam pedidos todos os cargos do PSB.

Outra reclamação foi feita em relação às menções de que os socialistas estariam entrando numa seara de fisiologismo. Foram apontados, como alguns dos responsáveis por esse tipo de comportamento, o presidente do PT, Rui Falcão, e o vice-presidente petista, Alberto Cantalice. Em relação à presidenta, Dilma foi chamada de “muito gestora e péssima política”. “Ela é excelente figura humana, mas em política as coisas são diferentes”, afirmou o deputado Márcio França (SP).

“Esta é a decisão madura de um partido que quer discutir livremente sua candidatura, sem ter que ouvir toda semana baboseiras e constrangimentos de integrantes do governo e do PT sobre cargos. Estávamos numa situação que beirava a humilhação”, disse Beto Albuquerque, quando indagado a respeito. “Não seremos oposição ao governo, mas também não estaremos na base”, acrescentou o deputado.

Falando no mesmo tom, o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), acentuou que “a posição é o mais adequado a fazer neste momento, para que a presidente e o PSB fiquem mais à vontade, porque não aceitamos nenhum tipo de pressão”.

Frente Popular

Com 25 deputados federais, quatro senadores e seis governadores, o PSB é aliado histórico do PT desde 1989, quando foi criada a chamada Frente Popular pelo então governador de Pernambuco, Miguel Arraes – avô de Eduardo Campos. Em 2002, o partido lançou o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, à presidência, mas ficou com Lula no segundo turno.

Em Pernambuco, desde o ano passado já tinha sido observado rompimento entre PT e PSB por conta das eleições municipais. Na ocasião, o governador Eduardo Campos apresentou o hoje prefeito Geraldo Júlio como candidato próprio do PSB à prefeitura do Recife – enquanto os petistas discutiam, na Justiça, qual de dois nomes da legenda que concorriam à candidatura tinha vencido as convenções municipais.

Com a ruptura em nível nacional, passam a ser computadas como perdas, por parte do PSB, na avaliação de deputados e senadores, o fato da legenda sair da condição de aliada do governo e de deixar de ser responsável por cargos estratégicos – como o Ministério da Integração Nacional, importante celeiro de obras para os estados que são governados pelos socialistas (em sua maioria localizados no Norte e Nordeste).

No tocante ao PT, o governo Dilma Rousseff perde um aliado importante nas votações do Congresso e um dos partidos que vinha se mantendo fiel na votação de matérias conforme o interesse do Palácio do Planalto. Além disso, o governo terá necessidade de intensificar suas alianças estratégicas com vistas às próximas eleições.

Em relação ao PSB, é tida como certa, daqui por diante, uma maior aproximação com o PSDB e seus partidos aliados. Além dos últimos contatos feitos entre Campos e o senador Aécio Neves (MG), o governador de Pernambuco voltou a compor, no ano passado, com o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que sempre se manteve ao lado dos tucanos nas eleições majoritárias.

Cogita-se em Pernambuco, inclusive, a transferência de partido de vários integrantes do Democratas para o PSB, capitaneados pelo ex-senador e ex-vice-presidente no governo de Fernando Henrique Cardoso, Marco Maciel. Maciel ainda não confirmou sua intenção em trocar de sigla, mas, caso isso venha a ocorrer, estará seguindo a mesma postura adotada pelo seu partido em Santa Catarina por parte do ex-senador Jorge Bornhausen, que hoje apoia Eduardo Campos.

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