DEM pode definir expulsão de Arruda nesta terça

Analistas entendem que se trata de mais um “espetáculo da vida política” e que episódio evidencia não-renovação do partido

A cúpula do partido Democratas decidiu nesta segunda-feira (30) convocar a Executiva Nacional para definir o futuro do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, acusado de comandar esquema de corrupção.

Deputados e senadores do DEM reuniram-se com o governador, que apresentou sua versão a respeito do pagamento de uma espécie de mesada aos parlamentares da Câmara Legislativa distrital.

Da reunião não saíram declarações contundentes nem decisões sobre o destino de Arruda. Durante toda segunda-feira, a reportagem tentou contato com o presidente do DEM, o deputado Rodrigo Maia, mas o celular esteve desligado.

 

No fim da tarde, o governador leu um comunicado atribuindo afirmando que os recursos foram arrecadados para campanhas eleitorais, mas não apresentou recibos. Ele atribuiu qualquer ato ilegal ao governo anterior, de Joaquim Roriz, atualmente no PSC. Arruda descartou, até o momento, deixar o DEM.

O ex-governador de São Paulo, Cláudio Lembo, defendeu em conversa com a reportagem que Arruda tome sozinho a decisão de impedir-se de participar da vida partidária, e que a decisão sobre a expulsão fique para depois das apurações. “São espetáculos da vida política brasileira. Não me surpreendeu”, afirmou sobre o caso.

Diante de imagens que mostram Arruda, assessores e secretários negociando o recebimento de verbas ilegais, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) decidiu ingressar com pedido na Justiça para que seja aberto o processo de impeachment.

O presidente nacional da OAB, Cezar Britto, classificou de devastadores os vídeos divulgados pela Polícia Federal e lembrou que esse não é o primeiro escândalo no qual Arruda se envolve: em 2001, ainda no PSDB, ele renunciou ao mandato de senador por envolvimento no episódio de manipulação do painel de votações do Congresso.

Flagrado colocando dinheiro na meia, o presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente, argumentou nesta segunda-feira que os recursos eram para a campanha de 2006. O parlamentar alegou que a colocação das notas no meio da roupa era uma medida de segurança, uma vez que ele não utiliza pasta.

O PSDB e o PPS determinaram que seus filiados deixem a base do governo Arruda, uma tentativa de não se vincular a um escândalo que pode manchar as siglas nas eleições do próximo ano. Para Helcimara de Souza Telles, professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), de todo modo os oposicionistas não poderão empunhar a bandeira da ética no próximo ano.

Alianças

Mais que isso, é possível que o escândalo mexa com a aliança tucanos-democratas. Na avaliação da analista, o PSDB pode optar pela chapa ‘puro sangue’, deixando de fora o DEM. O problema é que o antigo PFL, apesar dos esforços de renovação, vem perdendo força e tem apenas um governador, Arruda. Sem outros nomes de projeção nacional fora do Sudeste, o DEM fica ameaçado de não integrar a chapa com os tucanos.

A expulsão de Arruda, na visão de Helcimara de Souza Telles, passa principalmente pela repercussão do caso junto à opinião pública. “Se as pesquisas de opinião mostrarem que isso afeta em alguma medida a candidatura do PSDB, os tucanos vão com certeza exigir do DEM um enquadramento do governador Arruda”, avalia.
Cláudio Lembo, por outro lado, não acredita em mudanças substanciais na coligação:

“Foi um fato transitório. E também o PSDB teve membros envolvidos em mensalões”. Ao mesmo tempo, o ex-governador reconhece o encolhimento de seu partido e acredita que o escândalo do Distrito Federal terá um impacto sobre o eleitorado.