Análise eleitoral

Debate na Globo não deve alterar votos e Lula segue com chance de vitória em 1º turno, diz cientista político

Bolsonaro não conseguiu ganhar pontos e pode ter dado “tiro no pé” em dobradinha com padre Kelmon. Movimentação nas ruas e nas redes, violência política, apoios a Lula e rejeição a Bolsonaro devem pesar mais na escolha do eleitor

Reprodução/Twitter
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O petista deve alcançar de 52% a 53% dos votos válidos, no que pode se configurar como um segundo turno antecipado já no primeiro

São Paulo – O último debate entre os candidatos à presidência da República, realizado na noite dessa quinta-feira (29) pela TV Globo, não deve alterar os rumos da disputa eleitoral e a tendência é que a grande repercussão continue sendo o voto útil para derrotar o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda no primeiro turno. É o que destaca o professor de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Josué Medeiros, coordenador do Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira (Nudeb). 

Em entrevista à edição desta sexta (30) do Jornal Brasil Atual, Medeiros destaca que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que não tenha garantido a vitória no debate, segue com chances de liquidar a eleição já neste domingo (2). A avaliação é que a violência política, as movimentações nas ruas, e nas redes principalmente, os amplos apoios que o petista vem conquistando, e a rejeição a Bolsonaro pesem mais sobre a decisão final do eleitor. Medeiros calcula que, em termos de votos válidos, eles devem se concentrar entre Lula e Bolsonaro.

Mas o petista deve alcançar de 52% a 53% dos votos válidos, no que pode se configurar como um segundo turno antecipado já no primeiro. “Toda a sociedade está mobilizada para isso. Esse é o debate”, destaca. “E é bem provável que esses dois dias ainda tenham episódios de violência política, que está sendo um dos elementos que leva as pessoas a votarem em Lula no primeiro turno, sabendo que no segundo turno vai ter ainda mais violência política por parte do bolsonarismo”, completa o cientista político. 

Trapaça bolsonarista

Sobre o debate na Globo, a avaliação de Medeiros é que a repercussão entre os eleitores até domingo seja o primeiro bloco, marcado por três direitos de resposta para Lula, após ataques de Bolsonaro. Nas palavras do professor, o petista, alvo de todos os candidatos,  contra-atacou e mostrou um sentimento de indignação que é bem visto pelo eleitor. Já sobre a postura do atual presidente, mais agressiva na comparação com o debate no último dia 24, o cientista observa que ela visava garantir vídeos para distribuição em suas redes sociais. Alimentando assim o antipetismo de seus eleitores, mas sem garantir novas adesões.

Medeiros afirma, contudo, que o candidato à reeleição pode  ter dado um “tiro no pé” com a “trapaça”, conforme classificou, com a dobradinha com o autodeclarado padre Kelmon (PTB), que mostra ter entrado na corrida eleitoral apenas para ajudar Bolsonaro como cabo eleitoral. De acordo com ele, a pretexto de ampliar a rejeição a Lula, Bolsonaro pode ter ampliado a sua própria. 

“Ficou nítido para as pessoas que tinha uma trapaça, isso compensa o fato de Lula ter escorregado na casca de banana do padre. (…) Mas a agressividade (de Bolsonaro) o impede de ampliar. Ele precisava tentar derrubar o Lula, nocauteá-lo, fazer com que ele saísse como o grande derrotado do debate para evitar a vitória no primeiro turno. E ele não conseguiu fazer isso”, comenta. 

O cientista político conclui, chamando atenção para o desempenho das candidatas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil). “Se mostraram muito boas de debate. E é interessante esse movimento de uma centro-direita e direita liberal civilizada se reposicionar”, afirma. A participação do candidato Felipe d’Avila (Novo) foi resumida a “escada” de Bolsonaro. Enquanto Ciro Gomes (PDT) acabou “sumindo como a terceira via sumiu”. 

Saiba mais na entrevista