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Para pesquisadora, debate da Globo pode definir votos de indecisos

“A pressão das pesquisas mostra como elas próprias se tornaram objeto de estudo, sobre até que ponto influenciam o eleitor na busca pelo voto útil”, diz professora

Reprodução/Youtube
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“Essa coisa de golpe amorteceu um pouco, mas tudo é possível nesses últimos dias", diz cientista política

São Paulo – Faltando três dias para o primeiro turno das eleições de 2022, que pode ou não definir antecipadamente a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto, ainda não se pode cravar um resultado. As próprias pesquisas, embora mostrem um quadro semelhante, apontam cenários diferentes: algumas indicam maior possibilidade de vitória petista contra Jair Bolsonaro (PL) já no primeiro round, outras parecem prenunciar um segundo.

“A pressão das pesquisas mostra também como elas próprias se tornaram um objeto de estudo, sobre até que ponto influenciam o eleitorado na busca pelo voto útil, no caso em Lula, nesse final dramático”, diz a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Para a professora, a busca do ex-presidente pelo voto útil é democraticamente legítima.

Ela destaca o último debate, na TV Globo, na noite de hoje, como “talvez o grande evento” com potencial importante de afetar, para um lado ou outro, a preferência dos indecisos. Diferentemente de outros analistas para os quais o formato e o horário do debate impedem uma influência importante (leia aqui), a professora avalia que o debate pode provocar consequências posteriores, nos últimos três dias.

“De qualquer jeito, tem efeitos especialmente depois, dependendo de como os vários momentos do debate vão ser aproveitados pelos candidatos nas redes sociais, como  a mídia vai pautar etc. Penso que tudo isso vai impactar o resultado real”, afirma.

De acordo com dados da pesquisa Ipec de segunda-feira (26), 13% dos eleitores estão indecisos sobre o candidato a presidente na consulta espontânea. Desses, 70% são mulheres, 49% estão na região Sudeste e 60% têm renda familiar de até dois salários mínimos.

Ameaças de golpe e violência

A analista pondera sobre as constantes ameaças de golpe por parte de Jair Bolsonaro (PL) e suas insinuações de que não vai respeitar o resultado, que, tudo indica, lhe será desfavorável. “Essa coisa de golpe amorteceu um pouco. Depois das várias teorias conspiratórias, diversos grupos foram desbancados, como os empresários bolsonaristas que falaram em golpe (foram enquadrados pelo Tribunal Superior Eleitoral). Mas tudo é possível nesses últimos dias e horas. Vamos aguardar os próximos desdobramentos.”

Por último, Maria do Socorro menciona o clima de violência inédito este ano, em que há temor mas não se sabe exatamente o que pode acontecer. “O fato é que é algo que está amedrontando bastante as pessoas”, diz. Ela observa que, no interior de São Paulo, onde está, as pessoas e seus carros não ostentam adesivos do PT, embora grupos pequenos estejam se encontrando.

Fora o clima tenso, o processo eleitoral foi polarizado e tenso do começo ao fim. Este ano a campanha foi mais curta, o que pode ter ajudado a antecipar a polarização entre Lula e Bolsonaro. “Talvez a antecipação da disputa – já que o atual presidente na verdade nunca saiu do palanque – tenha criado esse clima de final de disputa já no primeiro turno”, especula Maria do Socorro. “Mesmo que alguns grupos esbocem comemorar um resultado já no primeiro turno, as informações ainda dizem que não está tão tranquilo assim para levar no primeiro turno.”

“Esqueçam os votos do Ciro”

Em seu perfil no Twitter, o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, postou na segunda-feira (26) que, em sua opinião, a campanha da coligação de sete partidos do ex-presidente petista deve parar de buscar o voto útil dos eleitores de Ciro Gomes (PDT). “Esqueçam os votos do Ciro. Nessa altura do campeonato, ele já não tem muito voto para entregar para Lula. Com sua postura, Ciro optou disputar os votos de Bolsonaro. O trabalho para Lula agora é 1) convencer os poucos indecisos e 2) focar em reduzir a abstenção”, diz Marchetti.

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