na Câmara

Cunha e PMDB retomam ofensiva por discussão sobre aliança com PT

Líder peemedebista faz nova carga para debater termos de aliança com Dilma e já conta com o apoio de deputados e senadores. Objetivo é avaliar no começo de maio como ficarão as coligações em outubro

Zeca Ribeiro/Câmara

Parlamentares do PMDB leem manifesto no qual pedem reavaliação de aliança com Dilma: nova carga

Brasília – Famoso por provocar problemas ao Palácio do Planalto, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, prepara uma nova ofensiva dentro de seu partido capaz de causar transtornos ao PT e a Dilma Rousseff. Ele e outros integrantes da bancada de deputados pretendem rediscutir nas primeiras semanas de maio, em reunião do diretório nacional, a coligação federal, os termos nos quais está calcada essa aliança e a forma como serão consolidados os demais acordos nos estados.

A iniciativa foi tomada na última semana pela bancada peemedebista da Câmara dos Deputados por meio de pedido protocolado por 52 dos 73 deputados do partido, retomando articulação que no começo do ano legislativo provocou derrotas ao Executivo em matérias importantes e retardou a votação do Marco Civil da Internet, projeto-chave para Dilma. Segundo informações de gabinetes e da liderança da legenda, o documento solicitado conta agora com o apoio informal de perto de 60 dos peemedebistas – e também com o aval de senadores. A expectativa é de que a reunião seja agendada até o próximo dia 15.

Na prática, independentemente das críticas e reclamações que os peemedebistas têm feito – ao governo e ao PT, bem como à falta de sintonia com os ministros do Executivo e a falta de diálogo com a presidenta Dilma Rousseff – o fator preponderante desse encontro é discutir como ficarão as alianças que estão sendo firmadas com vistas aos governos estaduais, o que tem preocupado a reeleição destes parlamentares.

“Não podemos ficar brigando aqui em Brasília, discutindo orçamento e projetos diversos enquanto nas nossas terras está afunilando. Ficar à mercê do que o governo quer apenas não dá, mas também entrar no jogo do Eduardo Cunha sem ter razões mais consistentes para isso é complicado. Precisamos nos reunir o quanto antes e discutir a situação da aliança”, desabafou em reservado um parlamentar de Minas Gerais, numa referência ao líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Abaixo da convenção

Cunha criou no início do ano o chamado “blocão”, de resistência ao governo, formado hoje pelos partidos PR, PTB, PSC e Solidariedade, e tem sido um dos principais opositores ao Executivo, especialmente nos últimos dois anos, ocupando o cargo de líder da bancada – embora ainda afirme integrar a base aliada. A reunião está sendo considerada como estratégica porque toda discussão e decisão tomada por meio do diretório nacional de uma legenda está abaixo, apenas, da convenção nacional, que é o foro onde são definidas as alianças eleitorais.

“Não temos nada a dizer a mais do que já foi dito. O objetivo é aquele que todos já sabem, discutir o processo eleitoral. Não nos consideramos fora da base aliada do governo, mas também não queremos ficar a reboque de toda matéria que chega do Palácio do Planalto sem discuti-la, como o vimos ao longo destes quatro anos e continuamos vendo por aqui. Questões como a Petrobras, por exemplo, precisam ser investigadas e isso independe de ser ou não da oposição. Cada dia aparecem novas denúncias. Você acha que não há motivos para investigação?”, coloca o líder do PMDB na Câmara ao explicar o motivo da insurgência contra o Palácio do Planalto e da sua insistência de investigar a estatal.

Minas Gerais

Um dos exemplos de aresta a aparar na aliança PMDB-PT está em Minas Gerais. No estado, boa parte dos peemedebistas têm demonstrado interesse em apoiar o ex-ministro das Comunicações do governo FHC, Pimenta da Veiga, que é candidato a governador. O postulante pelo PT é o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel.

A princípio, os peemedebistas tentaram emplacar candidatura própria ao governo mineiro, encabeçada pelo senador Clésio Andrade, réu no caso do mensalão tucano. Mas, diante da fragilidade da ideia, a candidatura do senador foi retirada e o partido está procurando avaliar, entre os prefeitos que integram a legenda, quem vai apoiar, a despeito da vontade da direção nacional de que seja mantida a aliança com o PT.

“Preferimos proceder dessa forma a repetir o que aconteceu nas eleições passadas, que foi desastroso e acarretou em desgaste para todos nós”, afirmou o ex-governador Newton Cardoso, do PMDB mineiro, ao lembrar que, em 2010, vários partidários da legenda deixaram de votar no então candidato do partido, Hélio Costa, para apoiar Antonio Anastasia (PSDB).

Já em relação ao Rio de Janeiro, onde é fato antigo que PT e PMDB subirão em palanques diferentes para disputar o governo estadual, o deputado Leonardo Picciani (RJ) afirmou que toda a bancada fluminense assinou o pedido. Picciani deixou claro que a reunião representa a insatisfação nas relações com o Executivo.

“Nós (deputados peemedebistas) não aguentamos mais esse tipo de relacionamento que temos com o PT no governo. A reunião é uma maneira de dar início a esse debate de modo institucionalizado, para que possamos saber como ficará essa aliança num próximo governo do PT e saber, se vier a continuar, se todos aceitarão que seja mediante os mesmos termos, nesse mesmo tipo de relacionamento que vem sendo mantido”, acentuou.

Outro peemedebista que está preocupado com a reunião para definir as alianças nos estados é Saraiva Felipe (MG). Felipe afirmou que as últimas eleições consolidaram coligações entre PMDB e PT sem discussões prévias, o que terminou fazendo com que, apesar da aliança nacional, o mesmo não fosse seguido em termos estaduais e municipais. Agora, segundo ele, é o momento de a legenda definir bem os pontos a serem trabalhados para, posteriormente, as bancadas estaduais conversarem com todos os integrantes e acertar os ponteiros em relação às próximas eleições. “Essa discussão precisa ser feita e rapidamente”, explicou.

‘Inabilidade política’

Conforme conversas de bastidores, além de Cunha e Picciani, um dos articuladores da reunião da executiva nacional a ser marcada é, também, o deputado Danilo Forte (CE), que era tido como um bom aliado do Palácio do Planalto até há pouco tempo. Já foi cotado para ocupar cargos no primeiro escalão e deu declarações no seu estado pedindo para que o PMDB cearense revisse coligações locais, de forma a não atrapalhar a aliança nacional da legenda com o PT. Apesar disso, tem sido cada vez mais crítico ao Executivo e comentado, em conversas reservadas diversas, sobre o que chama de inabilidade política da presidenta Dilma Rousseff.

Sandro Mabel (PMDB-GO), também tido como dos mais críticos à aliança, tem dito, desde o início de março, que o PT teria amargado derrotas no Congresso por conta da postura de não negociar com as demais legendas. “Eles acham que podem tudo sozinhos, que estão acima de acordos e da palavra dada. Aliança se faz com gente grande e parte do PT está provando que ainda engatinha”, enfatizou, durante encontro recente com os colegas.

Embora a reunião esteja sendo motivo de repercussão na Câmara e no Senado, nem o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-AL), nem o vice-presidente Michel Temer (PMDB) pronunciaram-se, até agora, a respeito.