fórmula bolsonarista

Nise Yamaguchi traz ‘fake news com grife’ na CPI da Covid

Em poucos minutos de depoimento, médica, que se diz “colaboradora eventual” do governo, foi criticada nas redes sociais

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
O relator da CPI Renan Calheiros (MDB-AL) começou a oitiva exibindo um vídeo de Nise defendendo imunidade de rebanho. Ela respondeu que tese da infecção faz sentido, durante a pandemia

São Paulo – A médica Nise Yamaguchi começou seu depoimento à CPI da Covid, nesta terça-feira (1º), com contradições e evasivas em relação a entrevistas dadas em outros momentos como a defesa do chamado “tratamento precoce” e a tese da imunidade de rebanho para o coronavírus. Em poucos minutos, as declarações de Nise foram alvo de críticas nas redes sociais.

O relator da CPI Renan Calheiros (MDB-AL) começou a oitiva exibindo um vídeo de Nise defendendo a imunidade de rebanho. Ela respondeu que a tese da infecção faz sentido, no contexto da pandemia, pois é um fato que aconteceria com contato com o vírus. Em seguida, ela foi interrompida por pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE), que é médico, solicitando que a população não seja desinformada pois “não há imunidade pra um vírus quando se é infectado por outro vírus”.

“Para aquele momento (início da pandemia), era bastante conveniente e necessária a discussão (sobre imunidade de rebanho)”, afirmou. A médica, no entanto, evitou retirar o seu apoio à ideia. Nise Yamaguchi também disse que nunca discutiu pessoalmente a tese com o presidente Jair Bolsonaro.

Nas redes, o deputado federal Marcelo Freixo (Psol-RJ) classificou o discurso de Nise Yamaguchi como uma “armadilha que dá palco a fake news com grife”. Já coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, aponta que o depoimento já comprova o método de trabalho do governo Bolsonaro.

“Cloroquina e imunidade de rebanho. O depoimento da médica Nise Yamaguchi à CPI mais uma vez confirma a fórmula da morte de Bolsonaro para a pandemia”, disse Boulos em suas redes sociais. “Nise Yamaguchi chegou desfiando o rosário do seu currículo, mas no fim ela não é infectologista. No fim, ela defende remédio apontado como ineficaz no mundo inteiro, imunidade de rebanho e fez parte do gabinete paralelo de Bolsonaro”, pontuou a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR).

Especialistas também criticaram trechos do depoimento. “Imunidade de rebanho ou imunidade coletiva SÓ SE ATINGE COM VACINAÇÃO! Não existe desenvolvimento comunitário de imunidade largando as pessoa pra pegar a doença Se fosse assim a varíola teria se extinto sozinha, não é mesmo?”, postou no Twitter a farmacêutica e bioquímica Laura Marise, doutora pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

O professor do Instituto de Química da USP, Carlos Takeshi Hotta, também falou sobre a tese em seu perfil. “A imunidade de rebanho natural é uma possibilidade teórica e não baseada em evidência. Imunidade de rebanho só com vacinas, e nem está claro se iremos atingi-la para o COVID-19.”

Nise como depoente

Oncologista e imunologista, além de diretora do Instituto Avanços em Medicina, de São Paulo, a médica é considerada uma figura chave para mostrar como funcionou o gabinete paralelo do governo Bolsonaro na gestão da pandemia, composto de negacionistas que se recusaram a seguir as diretrizes científicas e da Organização Mundial da Saúde no combate à covid-19.

O deputado federal José Guimarães (PT-CE) lembra que o currículo da médica não deve ser levado em conta, pois suas ações foram nocivas durante a pandemia. “Há evidências de que a médica defendeu cloroquina, imunidade de rebanho e compôs o gabinete paralelo. Completo desserviço”, criticou.

Nise Yamaguchi, em sua apresentação, disse que está presente como “perita técnica”, mas também foi desmentida nas redes sociais. Pelo Twitter, o jornalista Henrique Araújo, de O Povo, corrigiu a médica. “Que fique bem claro: a médica não está ali como perita, mas como alguém que participou de um assessoramento paralelo para recomendar remédio sem eficácia para uma doença que já matou 450 mil pessoas”, tuitou.

Marcelo Freixo também criticou o fato de Nise Yamaguchi se colocar como “especialista” à CPI. “Ela está na CPI como DEPOENTE, por ser cúmplice no boicote ao combate à pandemia”, acrescentou em suas redes.

Boicote à Copa América

A possibilidade de realização da Copa América no Brasil também foi tema de debate na abertura da CPI da Covid. O senador Renan Calheiros chegou a fazer um apelo ao atacante Neymar, pedindo que o jogador não concorde com a realização do torneio no país.

“Neymar, eu quero aqui dirigir uma palavra a você. Não concorde com a realização dessa Copa América no Brasil. Não é esse o campeonato que precisamos agora disputar. Precisamos disputar o campeonato da vacinação. É esse campeonato que precisamos disputar ganhar e você precisa marcar gols para que esse placar seja alterado”, disse Renan.

O parlamentar disse ainda considerar “inacreditável” que o governo federal queira sediar a competição no país com as circunstâncias atuais da pandemia. “É inacreditável que o governo federal queira sediar a Copa América aqui no Brasil. No exato momento em que a pandemia se agrava e enche como nunca os nossos cemitérios e as nossas UTIs. E a terceira onda começa a chegar”, acrescentou.

Ainda na abertura dos trabalhos, o senador Humberto Costa (PT-CE) questionou a realização da Copa América no Brasil. Costa afirmou que entrou com pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o evento não seja realizado no País. O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), que na segunda-feira (31) tinha se colocado a favor da realização do evento, voltou atrás e concordou com a posição de Costa.

O senador Otto Alencar (PSD-BA), também reforçou o coro de críticas à realização do evento no País. O senador defendeu que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deveria ser reconvocado à CPI para explicar a decisão a favor da realização do evento esportivo no Brasil. ,