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Bolsonaro segue apostando na imunidade de rebanho: ‘crime continuado’, diz senador

Rogério Carvalho (PT-SE) destaca que os trabalhos da CPI da Covid nesta semana vão se concentrar nos motivos que levaram à falta de vacinas no Brasil

Pedro França/Agência Senado
Pedro França/Agência Senado
Nas mãos de Rogério Carvalho (PT-SE), a nota do ministério da Saúde recomendando o uso da cloroquina para pacientes com covid-19

São Paulo – O senador Rogério Carvalho (PT-SE), integrante da CPI da Covid, afirmou que o governo Bolsonaro continua apostando na tese da imunidade de rebanho. Ao promover aglomerações e ameaçar com decreto para revogar medidas de distanciamento adotadas por governadores e prefeitos, e ao insistir no uso da cloroquina – medicamento comprovadamente ineficaz contra a covid-19 –, Bolsonaro comete “crime continuado”, segundo o senador. O governo ainda recusou, por mais de uma oportunidade, a compra de vacinas. Bolsonaro ainda dispara declarações ofensivas à China, o principal produtor dos insumos para os imunizantes.

“Isso tudo é crime continuado”, disse Carvalho, em entrevista a Marilu Cabãnas, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (10). “O governo não só assumiu uma tese temerária, como a mantém”. Diante desse quadro, o parlamentar afirma que não é exagero falar em “genocídio”.

“Quem assume o risco de expor mais de 200 milhões de pessoas a um vírus de alta letalidade e alta capacidade de contágio está, deliberadamente, de forma dolosa, expondo a população ao risco de morte e à própria morte. Portanto, é uma ação genocida, sim”, afirmou o senador.

Ele cita o ex-ministro da Cidadania e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) como uma das pessoas próximas a Bolsonaro que o incentivaram a adotar a tese da imunidade de rebanho. De acordo com essa lógica, a pandemia só iria arrefecer quando a maior parte da população entrasse em contato com o vírus, adquirindo anticorpos naturalmente. Por conta disso, Carvalho anunciou que Terra será convocado para depor na comissão.

Vacinas e comunicação

Nesta terça-feira (11), a CPI da Covid vai colher o depoimento do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres. Na quarta (12), é a vez do advogado Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação (Secom). Por fim, na quinta (13), representantes da farmacêutica norte-americana Pfizer falam à comissão.

Barra Torres deve dar explicações à respeito da demora para o registro da vacina Sputnik V. São 60 milhões de doses adquiridas pelo Consórcio de governadores do Nordeste, que aguardam liberação da Anvisa para a importação dos imunizantes. De acordo com Carvalho, os entraves para a sua liberação tem a ver com “concepções ideológicas” anti-Rússia que emanam do governo.

Por outro lado, ele afirmou que Wajngarten também “tem muito a falar”. O ex-secretário, em entrevistas à revista Veja, atribuiu a falta de vacinas à incompetência da equipe do então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Além disso, Carvalho afirma que ele poderá dar explicações sobre a praticamente ausente campanha publicitária voltada a orientar no combate à pandemia.

Já os representantes da Pfizer devem falar sobre as condições em que o governo Bolsonaro recusou uma proposta apresentada ainda em 2020. “Vamos focar na questão da falta de vacinas no Brasil. E por que tivemos a oportunidade de adquirir 70 milhões de doses em setembro do ano passado e o governo se negou a comprar”, destacou o senador.

Queiroga novamente na mira da CPI da Covid

Carvalho também afirmou que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deve ser novamente convocado a depor na CPI. Segundo o senador, o ministro deverá explicar “contradições” surgidas no seu depoimento à comissão na última semana. Mais uma vez, os senadores devem questioná-lo sobre a compra, distribuição e utilização da cloroquina. Para evitar contrariar Bolsonaro, Queiroga disse que caberia à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) avaliar a utilização do medicamento. Contudo, mesmo sem a apreciação da comissão, o ministério publicou norma em que consta, inclusive, as dosagens recomendadas do medicamento para tratar pacientes no sistema público e privado.

O senador também afirmou que o ministro terá que explicar sua posição contrária à suspensão de patentes das vacinas. Trata-se de uma demanda que foi inicialmente apresentada pelos governos da Índia e África do Sul. Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aderiu à proposta, como forma de estender a imunização contra a covid-19 para países pobres e em desenvolvimento.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira