Saída é coletiva

Cooperativas serão chamadas para reconstrução do Brasil, diz Lula no RS

Em encontro com lideranças de cooperativas, o pré-candidato à Presidência diz que o setor terá importante papel na criação de empregos e renda

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert

São Paulo – O pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, defendeu o cooperativismo como parte da solução para o desemprego no país. “Vocês serão chamados para ajudar a criar os empregos que precisamos, a renda. Vocês vão fazer parte dessa revolução social nesse país logo, logo. Estamos preparados para isso”, disse. O encontro de Lula com lideranças de cooperativas ocorreu em Porto Alegre na manhã desta quinta-feira (2). Foi o segundo dia de atividades da pré-campanha da chapa Lula-Alckmin no Rio Grande do Sul. O estado foi pioneiro em formular políticas públicas de estímulo à economia solidária na gestão de Olívio Dutra (1999-2003).

Dizendo estar ali para ouvir e aprender mais, Lula reconheceu problemas antigos, especialmente entre as pequenas, que acabam parando por não conseguir pagar impostos. E citou o caso de uma de catadores de materiais recicláveis que visitou recentemente em Brasília, que devia R$ 200 mil de IPTU.

“Não tem sentido tratar uma cooperativa como se fosse uma empresa grande. A gente não pode dar as mesmas condições a uma cooperativa de 10 empregados pagar as mesmas obrigações sociais que uma multinacional. É preciso que haja uma diferenciação, senão as pessoas não conseguem se organizar”, disse.

Lula criticou prefeituras que descumprem a Política Nacional dos Resíduos Sólidos ao não estimular as cooperativas de catadores de recicláveis. Assim deixam de remunerar esses trabalhadores pelo serviço prestado em detrimento ao pagamento a empresas de lixo. “Nós não vamos impor. Mas queremos discutir a necessidade e a grandeza social de organizar os catadores de recicláveis para terem cooperativa, para que tenham roupa adequada para trabalhar.”

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O ex-presidente também falou em “pequena revolução” na legislação trabalhista. Desse modo, ressaltou compromisso de revogar a “reforma” trabalhista feita a partir do governo de Michel Temer para retirar direitos dos trabalhadores. Mencionou também alguns setores chamarem de “empreendedorismo” o trabalho precário por conta própria, como os de entregadores de aplicativos.

“Depois do desmonte do Ministério do Trabalho, o que nós temos de novo no mercado de trabalho são as empresas de aplicativo pagando, muitas vezes, um salário muito pequeno para as pessoas. E ganhando muito dinheiro com as pessoas. Você tem o Uber, os entregadores de alimento e você tem outras formas de exploração dos aplicativos”, destacou.

Como contraponto, ele citou uma experiência desenvolvida em Araraquara, pelo prefeito Edinho Silva (PT). Uma empresa pública de aplicativo para que 90% do valor fique com o entregador e não com a empresa, como é as demais. “Quem sabe não é o momento extraordinário para gente colocar a questão da cooperativa na ordem do dia dos nossos discursos. Nesse momento nós temos de dar resposta para esses trabalhadores desalentados”. 

Representantes de cooperativas de diversos setores, de produção de alimentos a geração de energia, entregaram um documento com reivindicações, que segundo Lula será motivo para uma nova conversa.

O ex-presidente fez agradecimento especial à cooperativa de bordadeiras de Timbaúba, no outro Rio Grande, o do Norte. Foram elas que bordaram o vestido que Janja usou no casamento, no último dia 18. Lula levará o abraço pessoalmente em visita que fará na 1ª Feira Nordestina da Agricultura Familiar e Economia Solidária, que será aberta no próximo dia 16, em Natal.

Assista

Presidente estadual da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes-RS), Gervásio Plucinski, lamentou que nos últimos anos o setor perdeu apoio. “Este ano vai fazer 17 anos que fundamos a Unicafes nacional em Luziânia (GO) com mais de mil cooperativas presentes em 23 estados. Nesses últimos anos, perdemos muito, perdemos o ministério do Desenvolvimento Agrário e a maioria das políticas acabaram ou foram enfraquecendo. Precisamos buscar de volta esse conjunto de políticas. O PAA (Plano de Aquisição de Alimentos) não tem mais recursos, é importante para levar alimento para a sociedade”, relembrou Plucinski. 

Nelsa Nespolo, presidente das cooperativas Univens (Costureiras Unidas Venceremos) e Justa Trama, que reúnem trabalhadoras do setor têxtil, falou sobre a inspiração vinda de uma frase dita pelo ex-presidente Lula. “Todas nós poderíamos ter enfrentado nossos problemas de forma individual, mas decidimos encará-los de forma coletiva, é isso que nós representamos. Cada um que está aqui representa muitos. Em números, nós significamos muito, em pessoas e no que nós conseguimos fazer na economia. Você nos inspirou a nos organizar. Nós não acumulamos, nós distribuímos o resultado dos nossos ganhos. Na sede das nossas costureiras tem uma frase sua, que ‘a cooperação é um estágio avançado da consciência humana’”, disse.