Em Porto Alegre

Lula fala sobre educação e soberania, e faz apelo por unidade do campo progressista no Sul

Ex-presidente chamou Bolsonaro de “monstro político” e questionou como brasileiros deixaram que tamanho retrocesso se abatesse sobre a nação

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula repetiu repetiu que "educação não é gasto, é investimento"

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou nesta quarta-feira (1º) agenda de pré-campanha no Rio Grande do Sul. Acompanhado de seu pré-candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), Lula foi recebido em Porto Alegre pelo pré-candidato ao governo, deputado estadual Edegar Pretto (PT). Encontrou em seguida lideranças do PT, PCdoB, Psol, PV, PSB, Rede e Solidariedade. Depois participou de evento sobre Educação, com a presença dos ex-ministros da área Aloizio Mercadante e Tarso Genro e da ex-presidenta Dilma Rousseff. A agenda do dia terminou com ato político na arena Pepsi On Stage, com o tema soberania.

Lula retomou a máxima de que “Educação não é gasto, é investimento“. “Temos que nos perguntar quanto custou não termos feito a reforma agrária quando o mundo todo fez. Quanto custou não termos feito uma universidade em 1554, como fez o Peru (fizemos a primeira em 1920). Quanto custou ao Brasil o retrocesso que vivemos hoje. Mas não, só perguntam quanto custa comprar remédio pra pobre, quanto custa o salário do professor, quanto custa para educar nossas crianças”, completou.

Monstro político

Lula culpou o governo pelos indicadores negativos do país, como desemprego, fome, desmonte da pesquisa. Chamou Bolsonaro de “monstro político” e questionou por que os brasileiros permitiram tamanho retrocesso. “Ele não tem amor ao próximo, não derruba uma única lágrima por 660 mil vítimas da covid. Não tem sentimento com pessoas que morrem nas enchentes, com as pessoas que passam fome.”

O ex-presidente enfatizou que a superação desse cenário exige uma ampla aliança no campo progressista. “Independentemente do partido, queremos (ele e Alckmin) juntar todos aqueles que saibam amar. Que acreditam que um livro vale mais do que uma pistola. Os que acreditam que é mais barato investir numa sala de aula do que numa cela de cadeia”, afirmou. “Vocês têm a obrigação de devolver ao povo brasileiro o direito de sonhar. De acreditar que esse país não pode continuar pobre, faminto, analfabeto, desnutrido. Um país que é a terceira potência produtora de alimentos no mundo, maior produtor de proteína animal do mundo, e as pessoas fazem fila para comprar osso”, lamentou.

O pacto citado por Lula envolve, de acordo com o ex-presidente, a busca por um debate pacífico de ideias. “Quando a polarização era a Dilma e o Alckmin, a Dilma e o Serra, eu e o Serra, eu e o FHC, éramos civilizados. Ganhávamos e perdíamos. Voltávamos para casa. O Brizola me dizia para lamber as feridas e se preparar para a próxima luta. A transição que fizemos com o FHC foi a mais civilizada da história deste país.”

A responsabilidade da mídia comercial e do discurso da antipolítica pela ascensão de Bolsonaro também é lembrada. “Muita gente morreu para conquistarmos a democracia. Agora, com base em uma mentira, e a imprensa brasileira tem muita responsabilidade, construíram uma narrativa de que a esquerda não presta.”

Reconstrução

Em sua abertura de jornada em Porto Alegre, Lula disse estar seguro de que é possível uma guinada positiva a partir do fim do mandato de Bolsonaro. “Vamos ganhar, mais uma vez. Se preparem, estudem muito, vamos precisar de muita gente estudada para recuperar esse país”, disse. Ele lembrou que em seu primeiro ano como presidente, em 2003, se sentia mais inseguro. “Eu não podia errar. Vocês não têm noção do que é deitar no Palácio da Alvorada e imaginar ‘será que eu vou dar conta?’. Tinha divida externa com o FMI, inflação de 12%, desemprego de 12%. Eu dizia que daria certo. Porque, se não desse, nunca mais um trabalhador seria presidente neste país”, repetiu.

Aloizio Mercadante apontou que a reconstrução passa pela eleição de Lula e por investimentos pesados em educação. “A esperança tem nome neste país. É Lula. O sonho é Lula, o novo é Lula, o melhor é Lula. A educação de qualidade é colocar Lula no primeiro turno. Temos que abrir espaço para o pobre estudar. E não apenas isso, temos que abrir bolsas estudos para que todos possam se manter dentro da universidade. Darcy Ribeiro dizia que a ignorância de um país é muito mais caro do que qualquer investimento em educação”, disse.

Educação contra a miséria

Dilma também enfatizou o papel da educação para um desenvolvimento sustentável e estruturado. “A educação que vai tirar o Brasil da miséria e da pobreza, pois dá ganhos reais não reversíveis por nenhum neofascista que assuma o governo. Lula sempre me disse que gasto com educação não existe. O que existe é investimento. O que conquistamos nesta área deve-se muito a essa compreensão do presidente”, disse.

A ex-presidenta argumentou que a desigualdade tem três faces no Brasil, e que todas elas passam pela questão da educação. “Uma é social, que significa estar excluído da riqueza e da renda. A outra é étnica, pois a realidade para negros e negras é mais desigual. E também tem a questão de gênero, ou seja, a pobreza tem uma face feminina também no Brasil. E porque ela tem uma face feminina, também tem uma face infantil. As mulheres sempre foram as que tiveram menor renda.”

Dilma disse que o direito das pessoas por igualdade oportunidades passa pelo acesso à educação. “A Educação é um caminho de oportunidades. Você sai da miséria e da pobreza, mas o único caminho de chegar na riqueza é a educação, que é a base da ciência, da tecnologia e da inovação. Sem isso, jamais conseguiremos acessar a quarta revolução industrial nem construiremos um país desenvolvido. Não podemos nos desindustrializar”.

lula em porto alegre
Ato com Lula lota arena em Porto Alegre

Ato público

O ato público com Lula no Pepsi On Stage de Porto Alegre começou por volta das 19h e teve quase 6 mil pessoas na parte interna, mais uma multidão do lado de fora. O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) se disse emocionado, motivado e com sentimento é de esperança. “Vamos transformar toda nossa indignação em energia positiva, daqueles que daqueles que sonham e não abrem mão de lutar pelo que acreditam”, disse.

A ex-deputada Manuela D’Ávila, pré-candidata ao Senado pelo PCdoB, lamentou a violência trazida por Bolsonaro ao debate político. “O Brasil inteiro viu o terror se instalar nesse país. Vimos o ódio e a violência, o desemprego e a fome, o racismo, o machismo, a destruição da nossa indústria, do nosso polo naval. Um lugar em particular viu isso se aflorar com mais intensidade. Esse lugar é nosso Rio Grande do Sul querido. A imprensa divulga mapinhas de estados que estão com o coisa ruim e você, a coisa boa. E tem os indecisos. Hoje, segundo eles, o Rio Grande é uma área indecisa. Não podemos permitir que no estado que resistiu na ditadura, o estado de Brizola, fique com a cor da indecisão”, disse.

Soberania

“Sei que aqui no Rio Grande do Sul vocês vão fazer um grande esforço como fizemos em âmbito nacional para construir nossa frente. Juntos, vamos fazer um palanque forte, firme, para eleger Lula e Alckmin. Em cada estado vamos fazer de tudo para melhorar a vida do povo”, disse a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann.

A deputada disse que “soberania é um Estado forte, de desenvolvimento, que melhore a vida das pessoas. Um país soberano não pode ter fome, desemprego. Tem que ter o povo com acesso à educação, saúde, direitos. Respeita as mulheres, a população negra, LGBT. Quando falamos de soberania, falamos de democracia com sentido para a vida prática das pessoas”, disse.

Roberto Requião, possível candidato pelo PT ao governo do Paraná, disse que “os ventos do Sul” já mudaram os destinos do Brasil. “Que assim seja mais uma vez, com a força e a vibração dos gaúchos. Nunca, em 199 anos de independência, a soberania brasileira foi tão aviltada como nos últimos anos. Abriu-se espaço aéreo, franqueou-se o mar às multinacionais, todas as guardas e salvaguardas foram rompidas. As duas últimas gigantes nacionais, sem as quais seríamos um país mergulhado no subdesenvolvimento, a Petrobras e a Eletrobras, estão sendo sacrificadas pelo liberalismo e pelo entreguismo”.

Dilma subir o tom nas críticas contra Bolsonaro. “Quem incentiva o ódio, incentiva a violência e incentiva o uso de armas, também incentiva chacinas, a mão armada do Estado para reprimir sua população e seu povo. Há algo de muito grave quando vemos a fome atacar o Brasil. Lula, em 2003, assumiu o compromisso que teve sua digital em todos seus programas: erradicar a fome e tirar o Brasil da miséria. Nenhum país que saiu do Mapa da Fome da ONU voltou, a não ser o Brasil”, disse a ex-presidenta.

Palavra do vice

Nos eventos com Lula em Porto Alegre, Geraldo Alckmin afirmou que vai “suar a camisa”. “Alguém pode perguntar o porquê. É porque o Brasil precisa disso para salvar a democracia, para combater o desemprego, a carestia, a fome. O Brasil precisa da volta do presidente Lula para recuperar a educação, para salvar o meio ambiente. Por isso, ao ver cada uma e cada um aqui, sei que chegou o tempo da esperança. Chegou o tempo de Lula presidente.”

Ao encerrar o ato da noite de Porto Alegre, Lula foi recebido com aplausos e cantos de campanhas antigas do PT. Antes de sua fala, a organização passou um clipe com artistas em apoio a Lula, idealizado por sua mulher, Rosângela Silva, a Janja. Nomes como Chico César, Pabllo Vittar, Duda Beat, Paulo Miklos, Martinho da Vila, entre outros cantaram uma versão atualizada do célebre jingle “Lula Lá”, da campanha de 1989.

“Quero fazer, sem meias palavras, um apelo aos partidos de esquerda. É importante lembrarmos que as duas vezes que governamos o Rio Grande do Sul, construímos uma unidade muito grande. Juntos, temos muito mais chances. Temos muito mais força”, disse.

“Penso que os partidos de esquerda separados não tenham fôlego para cada um encontrar um candidato para cada cargo. Aprendi a fazer política negociando. Vocês não sabem quantas horas passei com o Brizola para convencê-lo a me apoiar no segundo turno em 1989. Ele estava magoado. Mas eu pedi: ‘Ajuda eu’. Ele, muito generoso, disse que ia botar muita fé em mim. O PDT e o Brizola transferiram 100% dos votos deles para mim. Então, não custa nada sentar mais uma vez à mesa para darmos de presente a esse povo a unidade dos setores que querem derrotar Bolsonaro e ganhar o governo do Rio Grande do Sul.”

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