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Comissão reconhece que ditadura perseguiu a Panair e pede desculpas em nome do Estado

Companhia aérea foi fechada sob argumentação financeira, mas real motivo foi perseguição política

Reprodução
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Com mais de 5 mil funcionários, empresa foi fechada pela ditadura da noite para o dia

São Paulo – A Panair era a principal companhia aérea brasileira até os anos 1960, operou durante três décadas e foi marcado pelo pioneirismo, mas foi subitamente fechada pela ditadura. Ontem (27), a Comissão de Anistia reconheceu que o Estado perseguiu politicamente a companhia. A presidenta do colegiado, Eneá Stutz, pediu desculpas oficiais, sob aplausos dos demais conselheiros.

“O Estado brasileiro reconheceu, hoje, oficialmente, que o fechamento da Panair do Brasil, em 1965, foi um ato de violência — e pediu desculpa às vítimas. É uma vitória imensa, histórica e coletiva, para a Família Panair e todo o país”, postou o jornalista Daniel Leb Sasaki, autor de livro sobre a história da companhia e seu fechamento.

Sem apoio ao golpe

Reestruturada após o desmonte do governo anterior, a comissão julgava pedido de anistia a Celso Rocha Miranda, um dos fundadores da Panair, ao lado de Mario Wallace Simonsen. Desta vez, o pedido foi aprovado por unanimidade. Apresentado em 2014, havia sido rejeitado em 2021, com um colegiado formado, inclusive, por simpatizantes da ditadura. Rodolfo da Rocha Miranda, filho de Celso, se emocionou durante a sessão.

O empresário não aderiu ao golpe de 1964 e defendia a candidatura de Juscelino Kubitschek para suceder João Goulart na Presidência, nas eleições que deveriam ocorrer no ano seguinte. Os brasileiros só voltaram a eleger seu presidente em 1989.

Manobra do governo

Com mais de 5 mil funcionários, a Panair era financeiramente saudável. O grupo incluía a TV Excelsior. O pretexto para o abrupto fechamento foi sonegação fiscal, algo que nunca se comprovou. No relatório da Comissão de Anistia, a conclusão foi que a falência foi uma manobra do governo. Durante os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, se concluiu que houve perseguição política.

“Esse é um caso exemplar e um voto da relatora (Wanda de Oliveira) a altura de um caso emblemático e simbólico”, disse Eneá, segundo o Correio Braziliense. “Demonstra muito bem que empresários também foram perseguidos pelo regime, e implicações que envolvem a conivência da Justiça com o regime da repressão.”