São Paulo

Sindicato metalúrgico pede anistia por perseguições sofridas durante a ditadura

É o primeiro pedido de anistia coletiva apresentado por uma entidade sindical. Metalúrgicos lembram que fizeram parte da resistência democrática

Ariovaldo dos Santos/CPDocJB/Memorial da Democracia
Ariovaldo dos Santos/CPDocJB/Memorial da Democracia
Assassinato de Santo Dias, em 1979, durante piquete, marcou história da categoria

São Paulo – O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes protocolou ontem (26) pedido de anistia política e reparação econômica. Segundo a entidade, é o primeiro pedido nesse sentido apresentado por um sindicato. Criada em 2002, a Comissão de Anistia é vinculada ao Ministério do dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A entidade metalúrgica, fundada em dezembro de 1932, é filiada à Força Sindical. Todos os presidentes da central, nascida em 1991, têm origem metalúrgica. Assim, o sindicato alega que “fez parte da resistência democrática e das lutas operárias contra a ditadura civil-militar” implementada em 1964. Por causa disso, sofreu represálias, como intervenções, prisão de dirigentes, perseguição a filiados e assassinato de operários.

“Esta anistia política, inédita, será essencial para reforçarmos perante a sociedade a importância histórica do nosso sindicato e da categoria metalúrgica nas lutas pela democracia e pelo desenvolvimento do país e dizer que ditadura, nunca mais!”, afirma o presidente da Força, da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM) e do Sindicato dos Metalúrgicos, Miguel Torres.

Prisões, mortes e intervenção

Dessa forma, no pedido dirigido ao ministro Silvio de Almeida, a entidade lista campanhas como as em defesa da jornada de 8 horas diárias, férias remuneradas e pelo salário mínimo. Informa que teve seu presidente e secretário-geral eleitos (Affonso Delellis e José Araújo Plácido), presos em 1963, ainda antes do golpe. Libertados, não tomaram posse e foram para a clandestinidade. Em 6 de abril de 1964, o sindicato sofreu intervenção.

De 1970 a 1979, cinco operários ligados à entidade foram assassinados: Olavo Hanssen, Luiz Hirata, Manoel Fiel Filho, Nelson Pereira de Jesus e Santo Dias da Silva. Este último, morto por um policial durante piquete em 1979, era integrante da oposição. Nelson foi morto a tiros por um advogado da própria empresa, que seria ligado ao Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Manoel Fiel foi assassinado sob tortura no DOI-Codi, poucos meses depois do jornalista Vladimir Herzog.

A entidade espera que o julgamento do pedido possa ser marcado para 21 de abril. Nesse data se celebram o Dia do Metalúrgico, além do Dia de Tiradentes, que é patrono da categoria.