Golpe

Chico Alencar: ‘Espetáculo de domingo ampliou a negação do sistema político’

Para parlamentar do Psol, 'massa crítica da população vai crescer e a perspectiva é povo organizado, rua e politização, para a gente encontrar caminhos no futuro'

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Alencar: ‘Temos que denunciar o pacto das elites, a traição descarada, Eduardo Cunha, Michel Temer e Romero Jucá’

São Paulo – A derrota das forças democráticas na votação da admissibilidade do impeachment pela Câmara dos Deputados, apesar da gravidade do golpe desfechado contra a democracia, pode ter uma espécie de “efeito bumerangue”, tanto no curto e médio como no longo prazo. “O velho (Karl) Marx escreveu para um amigo em 1848: ‘essa situação desesperadora me enche de esperanças’. Depois de um tempo, houve uma revolução popular em Paris (1848), e após 20 anos, se formou a Comuna de Paris (1871)”, diz o deputado federal Chico Alencar (Psol-RJ), cuja bancada de seis deputados votou inteiramente contra o impeachment, assim como as do PT e PCdoB.

“Por incrível que pareça, acho que o espetáculo medíocre da sessão de domingo ampliou a negação do sistema político dominante que está dando vitória ao PMDB. Ou seja, na minha opinião, a massa crítica da população vai crescer e a perspectiva é povo organizado, rua e politização, para a gente encontrar caminhos no futuro. A esquerda, no momento, tem que se repensar, por mais que a gente viva uma derrota”, diz o parlamentar.

Para ele, a situação do processo do impeachment chegou a um ponto muito difícil, para o governo e para todos os setores progressistas da sociedade, defensores da democracia, independentemente de serem apoiadores ou não de Dilma Rousseff. “Temos que resistir, que denunciar o novo pacto das elites, a traição descarada e os seus protagonistas principais, Eduardo Cunha, Michel Temer e Romero Jucá”, defende Alencar.

A situação do processo de impeachment no Senado será objeto da mesma ofensiva à qual o país assistiu em relação à Câmara, que chegou ao auge no domingo, 17 de abril. “É muito difícil  reverter, porque haverá muita pressão em termos de poder efetivo, das federações industriais, do agronegócio, das federações comerciais, da grande mídia, que não é só a Globo, dos parlamentares conservadores”, prevê o deputado.

Ele lembra também a parcialidade de setores do Judiciário, com destaque para o que está sediado em Curitiba. “Há ainda o Judiciário parcial, principalmente a primeira instância e Sérgio Moro, e acho que nos cabe cobrar que a Lava Jato cumpra seu papel mais amplo, não seja seletiva. Temos que continuar lutando por uma reforma política radical, mas isso leva tempo. ‘Não se afobe, não, que nada é pra já’”, diz Alencar, citando a canção “Futuros Amantes’, de Chico Buarque.