Briga pelo Senado no RJ tem reflexos na disputa presidencial

Chapas de oposição e apoio a Sérgio Cabral duelam internamente e briga já chega ao TSE

Gabeira, Lindberg e Picciani duelam em seus partidos e coligações por candidatura para o Senado (Foto: montagem)

Rio de Janeiro – Seja na chapa que apoia a reeleição do governador Sérgio Cabral ou na chapa que reúne os principais partidos de oposição, a acirrada batalha em torno dos nomes dos candidatos ao Senado continua tendo um impacto significativo sobre a configuração das eleições no Rio de Janeiro, com reflexos na disputa presidencial. Cada lado tem mais pré-candidatos do que vagas, e a briga entre partidos de uma mesma base já saiu do âmbito das discussões internas para ganhar a atenção da mídia. No centro dessa disputa está o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que recebeu duas consultas – uma feita pelo PV e outra pelo PMDB – sobre a possibilidade de cada coligação apresentar mais do que dois candidatos ao Senado.

No campo da oposição ao governador, o principal problema continua sendo a rusga entre os verdes e o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), eventual candidato ao Senado. Após selar acordo com PSDB, DEM e PPS para dar sustentação à campanha de José Serra no Rio de Janeiro, o pré-candidato ao governo pelo PV, Fernando Gabeira, foi a público afirmar que seu partido não aceitaria integrar a mesma chapa que Cesar. A decisão estremeceu a coligação e provocou a pronta intervenção do comando da campanha de Serra, que enquadrou Gabeira e fez o PV voltar atrás: “Fizemos consultas em todo o Estado e ficou claro que a opção mais forte é essa [fechar com Cesar]”, disse Gabeira na semana passada.

As consultas aos militantes do PV, na realidade, confirmaram o “repúdio a Cesar na base eleitoral do partido” ao qual se referia Gabeira até o fim de abril, mas o que prevaleceu foi o entendimento de não enfraquecer o palanque do candidato tucano à Presidência da República. Na pressão sobre o PV, atuaram o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e o candidato a vice-governador na chapa de Gabeira e também tucano Márcio Fortes. “O ex-prefeito Cesar Maia é um aliado preferencial de Serra. O PSDB e Serra aguardam uma solução para o Rio”, disse Fortes, dias antes da nova mudança de direção de Gabeira.

O novo acordo foi celebrado em uma reunião realizada em 3 de maio na sede do PPS, ao qual compareceram caciques de todos os partidos pró-Serra, com destaque para o ex-governador tucano Marcello Alencar. Na reunião, também estiveram Márcio Fortes e o presidente do PV no Rio, vereador Alfredo Sirkis, desafeto de Cesar Maia e principal foco de resistência ao ex-prefeito. Durante a conversa ficou acertado que o lançamento oficial da candidatura de Gabeira será em 23 de maio e contará com a presença dos presidenciáveis Serra e Marina Silva (PV). “O Gabeira apoia a Marina e o Serra. Ele não é mais candidato do PV, é candidato da coligação”, comemorou Fortes.

“Os tucanos têm interesse em gerar essa ambiguidade acerca do apoio do Gabeira”, disse Alfredo Sirkis, presidente do PV no Rio.

A declaração de seu vice, no entanto, acabou causando nova saia justa para Gabeira, já que foi muito mal recebida pelo comando da campanha de Marina Silva. A direção nacional do PV chegou a divulgar uma nota afirmando que “Gabeira apoia Marina e só Marina” e qualificando a declaração de Fortes como “totalmente descabida”. Um dos principais articuladores, ao lado do ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, da transferência de Marina do PT para o PV, Sirkis mais uma vez mostrou seu descontentamento: “Os tucanos têm interesse em gerar essa ambiguidade acerca do apoio do Gabeira”. O candidato ao governo, por sua vez, foi evasivo. “Serei o candidato da coligação, mas, no meu entendimento, farei a campanha da Marina”, disse.

Em meio ao vai-não-vai em relação ao apoio a Cesar Maia, o PV consultou o TSE sobre a possibilidade de cada partido que compõe a coligação apresentar seu próprio candidato. Essa possibilidade, que ainda aguarda resposta do TSE, permitiria aos verdes apresentar uma candidatura própria ao Senado – a vereadora Aspásia Camargo – e se livrar da incômoda companhia de Cesar, ainda que indiretamente. Aspásia seria a terceira candidata da coligação, já que a segunda vaga ao Senado está prometida ao PPS, que apresentará Marcelo Cerqueira. De todo jeito, o palanque de José Serra no Rio, comandado por Cesar e Fortes, já está garantido.

“Serei o candidato da coligação, mas, no meu entendimento, farei a campanha da Marina”, afirma Fernando Gabeira, pré-candidato ao governo do Rio, pelo PV.

Picciani x Lindberg

No outro lado da trincheira, a briga pelas vagas ao Senado também começa a se transformar em crise. Mesmo contando com a simpatia da candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, e tendo aberto mão de uma candidatura ao governo para concorrer ao Senado, Lindberg Farias (PT) começa a sofrer com o chamado “fogo amigo”. Na sexta-feira (7), a 3ª Vara Cível de Nova Iguaçu determinou, a pedido do Ministério Público Estadual, o bloqueio dos bens e das contas bancárias do ex-prefeito. A alegação é a contratação, em 2005, de uma “fundação de fachada” que beneficiou outras duas empresas ligadas ao PT.

O MP faz referência à Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), ligada à Universidade de Brasília (UnB) e que já prestou serviços para as prefeituras de São Paulo, Recife e Vitória, entre outras. Para Lindberg, as denúncias surgem com clara intenção de desestabilização política de sua candidatura: “É muita coincidência que uma denúncia de 2005 surja somente agora. Posso garantir que, em Nova Iguaçu, a Finatec fez um grande trabalho, assim como já havia feito na administração de Marta Suplicy em São Paulo”, disse ao jornal O Globo.

O que Lindberg não diz em público, mas já se fala nos bastidores de sua campanha, é que as denúncias estariam sendo insufladas pelo seu colega de chapa para o Senado, o presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, Jorge Picciani (PMDB). “Como, em tese, uma das vagas deve ficar com Cesar Maia, o campo de apoio à Dilma está disputando uma única vaga. O Picciani, apesar de político poderoso no interior do estado, tem medo do potencial eleitoral do Lindberg e quer sabotar sua candidatura”, disse um dirigente petista que prefere o anonimato.

Crivella

Mas, as complicações para formar a chapa ao Senado do campo pró-Dilma no Rio de Janeiro não param por aí, pois, além de Lindberg e Picciani, está no páreo Marcelo Crivella (PRB), que tenta a reeleição. Aliado de primeira hora do governo Lula, Crivella aparece em segundo lugar nas pesquisas de opinião (atrás somente de Cesar), mas não encontra espaço político para realizar sua campanha no bloco liderado por Sérgio Cabral. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a pedir publicamente que PMDB e PT “dessem um jeito de colocar o companheiro Crivella na chapa”, mas a pressão não foi suficiente para abalar Lindberg, que tem o apoio do PT, e Picciani, que tem o apoio de Cabral.

“Como, em tese, uma das vagas deve ficar com Cesar Maia, o campo de apoio à Dilma está disputando uma única vaga. O Picciani, apesar de político poderoso no interior do estado, tem medo do potencial eleitoral do Lindberg e quer sabotar sua candidatura”, comenta um dirigente petista que prefere o anonimato.

Dando mostras públicas e crescentes de insatisfação, Crivella já teria até mesmo sentado com Sérgio Guerra para tratar de uma eventual aliança com José Serra. Ainda embrionária, essa discussão integra também outro personagem de peso nas eleições do Rio de Janeiro: o ex-governador Anthony Garotinho (PR). Mesmo tendo declarado apoio a Dilma, Garotinho já percebe que a máquina de campanha da petista no Rio estará voltada basicamente à reeleição de Cabral, o que o faz acenar para Serra. Em sua chapa ao Senado, Garotinho teria uma vaga para Crivella, mas tudo pode esbarrar na resistência de líderes nacionais do PRB, como o vice-presidente José Alencar, e do PR, como o ex-ministro Alfredo Nascimento, que apoiam Dilma.

O incômodo de Crivella, no entanto, foi suficiente para que a coligação que apóia Dilma e Cabral também encaminhasse ao TSE uma consulta nos mesmos moldes da que foi enviada pelo PV. Encaminhada pelo PMDB, a consulta quer saber se a coligação pode acomodar mais do que dois candidatos ao Senado. O TSE terá de dizer se ainda vale o Artigo 6º da Lei Eleitoral (9.504/97), que determina dois candidatos ao Senado por coligação, ou se a emenda que acabou com a verticalização permite a possibilidade de cada partido ter seu candidato. Dessa decisão depende o desenho final da disputa eleitoral no Rio de Janeiro.