PEC da Transição

Boulos: se não aprovar ‘PEC do Bolsa Família’, o Brasil para em janeiro

Em entrevista, Boulos lembra que a grave situação orçamentária é fruto da aposta de Bolsonaro na reeleição, que para isso gastou na compra de votos. Para compensar, seu governo fez corte transversal em todas as áreas do orçamento e “voltaria a fazer as suas maldades de costume em 2023”

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Na entrevista, o integrante da equipe de Lula destaca a necessidade do novo governo de recompor o orçamento praticamente zerado por Bolsonaro

São Paulo – Integrante do grupo de trabalho do governo eleito, Guilherme Boulos (Psol) fez nesta terça-feira (6) um retrato dramático da situação orçamentária deixada por Jair Bolsonaro (PL) e defendeu a aprovação da chamada PEC da Transição. “Se não aprovar a ‘PEC do Bolsa Família, o Brasil para em janeiro”, disse, em entrevista. O deputado eleito, que atua na equipe temática de Cidades, disse que a situação orçamentária “catastrófica” é geral, pelas conversas com colegas de outros grupos.

“Bolsonaro deixou um orçamento fictício para 2023. Nas reuniões que estamos tendo, inclusive com ministros do Bolsonaro, a situação é catastrófica. Para moradia, para manter obras em andamento, precisaria de R$ 1,2 bilhão. Esse número não é meu, é do ministério. Eles deixaram na previsão orçamentária R$ 50 milhões. Não dá para fazer obras até o dia 10 de janeiro”, afirmou.

Segundo ele, há R$ 605 milhões para o andamento de obras em saneamento básico. “São contratos, aliás, remanescentes do PAC, porque eles não começaram nada. Mas eles deixaram R$ 18 milhões. Contenção de encostas: R$ 42 milhões no Brasil todo, mas deixaram R$ 2 milhões. A aprovação da PEC é condição básica para que tenhamos orçamento capaz de manter as obras em andamento e de iniciar projetos em 2023”, disse.

Compra de votos e irresponsabilidade de Bolsonaro

Conforme destacou, havia previsão no orçamento de R$ 105 bilhões para o Bolsa Família em 2023, que corresponde ao Auxílio de R$ 400 por família. Com auxílio de R$ 600 e mais o bônus R$ 150 por criança até 6 anos, são necessários R$ 175 bilhões. “A PEC tira esses R$ 175 bilhões integralmente do teto, e aqueles R$ 105 bilhões do orçamento se tornam espaço fiscal para cobrir esses rombos e garantir investimentos básicos”, disse.

Na avaliação de Boulos, a grave situação orçamentária é fruto da aposta de Jair Bolsonaro e sua equipe na reeleição, o que não se confirmou. “De todas as formas, de maneira escandalosa, quis demonstrar preocupação com os mais pobres, o que ele nunca teve. Liberou empréstimo consignado ás vésperas da eleição e tudo isso foi descapitalizando o governo”, disse, referindo-se a políticas sociais que foram sendo adotadas visando garantir o voto dos mais pobres. É o caso da mudança do nome de Bolsa Família para Auxílio Brasil, com um valor supostamente maior.

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“Para compensar isso, na crença que seria eleito, fez corte transversal em todas as áreas. E voltaria a fazer as maldades dele de costume. Na sua irresponsabilidade deixou o país nessa situação. E o que Lula tenta fazer com a PEC é tentar estabilizar o que é insuficiente. Precisaria de um espaço fiscal maior. Se a Faria Lima teve chilique com os quatro anos fora teto dessa PEC, imagina se Lula propusesse agora um substituto para ao teto”, disse, referindo-se às reais necessidades do novo governo que assume um país que, entre tantos outros problemas, tem 33 milhões de pessoas passando fome.

Psol na frente de reconstrução do Brasil, diz Boulos

Na entrevista, ao portal UOL, Boulos falou também sobre o papel de seu partido no apoio ao governo eleito. Segundo ele, “seria uma insanidade o Psol se colocar na oposição a Lula”, como a deputada federal Sâmia Bonfim (SP) disse em entrevista ontem (5).

“Hoje a oposição são bolsonaristas que estão acampados em quartéis e não reconhecem o resultado da eleição. O Psol fez parte da frente ampla que ajudou a eleger Lula. O Psol deve compor a frente ampla que vai reconstruir o Brasil. A Sâmia expressou opinião dela e do grupo político dela dentro do partido, mas não acredito que essa posição vai prevalecer”, afirmou.

Ele disse também que o seu partido terá uma posição independente em relação a algumas posturas governo eleito. “O PT decidiu apoiar Lira para presidente da Câmara. O Psol não votará no Lira. Mantemos autonomia politica, mas não significa não estar na base do governo”.

Boulos citou ainda a situação da deputada eleita pelo partido, Sonia Guajajara. “Ela não poderia ir caso seja chamada para compor o governo, como ministra dos povos originários? Fizemos uma frente para derrotar Bolsonaro. Agora precisa formar uma frente para reconstruir o Brasil. O papel do Psol é puxar a agenda mais à esquerda. Se não fizermos essa disputa, estamos dando de barato para que a centro direita, para que o centrão ocupem esses espaços. Não acho que seja a tática mais inteligente”, afirmou.

Redação: Cida de Oliveira