À deriva

Bolsonaro precisa sair da inércia diante do agravamento da pandemia

Em vez de estender o auxílio emergencial para viabilizar medidas de isolamento social, presidente fala contra o uso de máscaras e cria novos atritos com governadores

Clauber Cleber Caetano/PR
Clauber Cleber Caetano/PR
Após um ano de graves omissões, Bolsonaro disse que "não errou nenhuma" durante a pandemia

São Paulo – No pior momento da pandemia de covid-19 no Brasil, o governo Bolsonaro se recusa a cumprir suas funções na coordenação do combate à doença. Em vez disso, o presidente segue colocando em dúvida as medida mais elementares para conter a transmissão, como o uso de máscaras. Diante do iminente colapso dos hospitais em todo o país, secretários de Saúde clamam pela adoção de diretrizes nacionais que restrinjam a circulação de pessoas. Mas, para isso, é fundamental a extensão do auxílio emergencial que possa garantir a sobrevivência das famílias durante o isolamento.

Enquanto a vacinação avança a passos lentos, Bolsonaro declarou que os governadores que decretarem o fechamento das atividades não essenciais deverão bancar o auxílio emergencial nos seus estados.

Diante da passividade do governo federal, nesta segunda-feira (1º) o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgou uma carta aberta na qual apela para a adoção de medidas de isolamento em nível nacional. Os secretários sugerem, por exemplo, que seja adotado toque de recolher, das 20h às 6h, em todo o país.

No mesmo dia, as centrais sindicais assinaram manifesto, divulgado nesta segunda-feira (1º), em que apoiam e estimulam governadores e prefeitos a tomaram medidas rigorosas de isolamento social para mitigar os efeitos da covid-19 e preservar vidas. As organizações também cobram a extensão do auxílio emergencial de R$ 600 enquanto durar a pandemia.

Responsabilidades de Bolsonaro na pandemia

“É um absurdo. Na verdade, o presidente fica jogando o tempo todo. Parece um jogo de criança. Essas coisas têm muita má intenção política, de se colocar permanentemente em campanha, jogando a responsabilidade para os governadores. Uma responsabilidade que é total do governo federal”, afirmou o sociólogo Clemente Ganz Lúcio, ex-diretor técnico do Dieese, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (2º).

Clemente citou estudos apontando que os países malsucedidos no combate à pandemia também terão dificuldades na retomada da economia. Para ele, diante da inação do governo federal, Bolsonaro deveria ser responsabilizado politicamente pelas milhares de mortes ocorridas.

À beira da barbárie

O presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Emanuel Sarinho, também criticou a frouxidão do governo federal no enfrentamento da pandemia. De acordo com ele, a fala do presidente colocando em dúvida a eficácia do uso de máscaras tem repercussão muito negativa em toda a população em função do mau exemplo. A Asbai e outras 45 associações médicas também divulgaram manifesto durante o final de semana para reafirmar a importância das medidas de proteção.

Sarinho alertou que cresce a importância do uso de máscaras e do distanciamento social diante das novas variantes do coronavírus, que são mais contagiosas e invasivas. “Quem puder, fique em casa o máximo possível. A promoção do distanciamento social é fundamental para reduzir a transmissão e para que número de casos comece a cair. Estamos perdendo uma vida humana a cada minuto no país. Temos mais de 250 mil mortes. Então temos de tomar uma atitude civilizatória. Fico impressionado com pessoas que induzem à barbárie, à falta de sentimento coletivo.”

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira