Mais mentiras

Bolsonaro nega desmatamento recorde e diz que ‘precisa do Centrão’ para governar

Em sabatina no Jornal Nacional, Bolsonaro tentou se livrar da responsabilidade pela devastação ambiental, distorceu as razões para se aliar à “velha política” no Congresso e sobre os números da economia e emprego no país

Rede Globo/Reprodução
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"Quando se fala em Amazônia, por que não se fala na França? Na Espanha?"

São Paulo – Na parte final da entrevista aos jornalistas do Jornal Nacional na noite desta segunda-feira (22), o candidato a reeleição Jair Bolsonaro foi questionado sobre sua condução de políticas de preservação ambiental, que levaram o país a um cenário de devastação histórico. “No seu governo, a taxa de desmatamento deu um salto. O senhor continua apoiando uma política de desregulação?”, questionou a jornalista Renata Vasconcelos.

Bolsonaro tentou esquivar, apontar culpados, e fazer comparações com outros países, mas sem fazer referência direta aos números apresentados pelos jornalistas. “Qualquer propriedade na Amazônia tem que preservar. Tentei, nos primeiros dois anos, fazer uma regulação fundiária. O presidente da Câmara não colaborou. Quando se fala em Amazônia, por que não se fala na França? Na Espanha? Califórnia pega fogo todo ano. No Brasil acontece. Alguma parte disso é criminoso, outra não, é o ribeirinho que coloca fogo na propriedade.”

O presidente foi prontamente rebatido. A apresentadora afirmou que o problema não se resume às queimadas naturais, mas sim à devastação por, entre outros, grileiros, madeireiros e o garimpo ilegal. “Uma coisa é incêndio natural, outra coisa é desmatamento. No seu governo a taxa anual de desmatamento saltou de 7 mil quilômetros quadrados para 13 mil quilômetros quadrados no ano passado. E 97% dos alertas de desmatamento emitidos desde 2019 não foram fiscalizados (…) Em 2018, o mundo tinha uma visão sobre o compromisso ambiental do Brasil. Hoje, o mundo vê o Brasil como destruidor de floresta”.

‘Tchutchuca do centrão’

Outro tema de destaque durante o debate foi o posicionamento de Bolsonaro sobre corrupção em seu governo. O jornalista William Bonner lembrou ao candidato que ele foi eleito em 2018 com discurso de combate à corrupção e ao bloco político da Câmara conhecido como Centrão. E que, no entanto, o agora presidente diz abertamente “ser parte do Centrão. Hoje, o Centrão é a base do seu governo”, disse Bonner.

Neste momento, Bolsonaro utilizou de artifícios retóricos para distorcer o debate e justificar sua postura. “Você está me estimulando a ser ditador. Se eu deixar o Centrão de lado, não vou governar com o Parlamento. São 513 deputados; 300 de partidos de centro. Os 200 que sobram, PT, PCdoB, não dá pra conversar com eles. Os partidos de centro fazem parte da base do governo para que possamos avançar em reformas”, disse. E mentiu ao dizer que “no seu tempo (como deputado), não existia Centrão”.

Em seguida, o presidente afirmou que em seu governo “não existe corrupção”. Contudo, na pergunta seguinte sua narrativa já foi confrontada. “Na Educação, um ministro caiu porque pediu que professores fizessem propaganda sua. Outro falsificou o próprio currículo. Outro xingou ministros e fugiu do país. Outro foi preso por um escândalo de corrupção envolvendo pastores. Qual o critério?”, questionou.

Bolsonaro adotou uma postura de defesa sem se comprometer do ex-ministro preso, Milton Ribeiro. “As pessoas se revelam quando chegam, igual a um casamento. O ideal não é ter rotatividade, mas acontece (…) Ele teve acusação. Foi preso e conseguiu habeas corpus. A questão de ter dois pastores no gabinete dele, qual o problema?”, disse. Bonner, por sua vez, respondeu indignado: “Não é escandaloso direcionar dinheiro da Educação para pastores? O senhor tem todo o direito de achar que não foi escândalo. Hoje o senhor diz que casos de corrupção em seu governo ‘pipocam’.”

Economia: mais do mesmo

Sobre a condução econômica, Bonner lembrou que, em 2018, Bolsonaro prometeu inflação baixa, taxa de juros menor e um real valorizado. Contudo, a inflação mais do que dobrou. Do mesmo modo, a taxa básica de juros – a Selic – teve 11 altas consecutivas, e está fixada em 13,25% ao ano. Bolsonaro disse que suas promessas foram “frustradas” em função da pandemia e por uma “seca enorme” no ano passado. No entanto, as consequências da seca, como a alta dos preços dos alimentos, poderiam ter sido amenizadas, se o seu governo não tivesse acabado com os estoques reguladores.

Sobre os preços, Bolsonaro disse que o Brasil talvez seja o “único país do mundo” a registrar deflação atualmente. No entanto, esse cenário é resultado apenas de uma intervenção nos tributos, com a aprovação do teto do ICMS sobre serviços essenciais, que resultaram principalmente na queda dos preços dos combustíveis. Em função dessa medida, estados e municípios perderam arrecadação. Ao mesmo tempo, os acionistas da Petrobras continuam lucrando como nunca. Por outro lado, os preço dos alimentos continuam subindo.

Em relação a desemprego, Bolsonaro disse que 3 milhões de vagas de emprego foram criadas nos últimos dois anos. “Isso é sinal da competência da nossa equipe econômica”, disse ele, sem ser rebatido pelos jornalistas. Esse número, no entanto, só foi alcançado graças ao aumento da informalidade, da precarização do trabalho e da redução dos salários.

Para um eventual segundo mandato, Bolsonaro promete mais do mesmo na economia, aprofundando as reformas liberais que retiram direitos. “O que nós pretendemos fazer? É continuar com a mesma política que vínhamos fazendo desde 2019.” Segundo ele, a reforma Previdenciária, por exemplo, que aumentou o tempo de contribuição e reduziu o valor das aposentadorias foram como “vacinas” que garantiram o pífio desempenho econômico do país durante o seu governo.