Morno

Em entrevista ‘sem pressão’, Ciro Gomes insiste em ‘polarização odienta’

Ao Jornal Nacional candidato do PDT volta a tentar igualar Lula a Bolsonaro, diz que seu temperamento agressivo é “tradição nordestina” e anuncia proposta que não consta de seu programa de governo

Rede Globo/Reprodução
Rede Globo/Reprodução
O candidato Ciro Gomes no estúdio do Jornal Nacional, aguarda o início da entrevista aos apresentadores William Bonner e Renata Vasconcelos

São Paulo – Em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo nesta terça-feira (23), o candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, voltou a tentar associar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT à corrupção e atacou o que chamou de “polarização odienta” entre o líder da corrida eleitoral e Jair Bolsonaro. Além disso, relacionou seu estilo tradicionalmente agressivo ao fato de ter sido forjado politicamente no Nordeste, e expôs pontos de seu governo como o “plebiscito programático” e a “lei antiganância”. 

A âncora Renata Vasconcelos abriu a entrevista questionando o terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto se a forma dura como ele se refere a adversários não contribui para agravar o clima de polarização. Ciro respondeu que tentaria “reavaliar” essa conduta, mas rebateu que, para viabilizar seu programa de governo, tem que “confrontar aqueles que mandaram no Brasil esse tempo todo”.

Ciro disse que seus principais rivais estão tentando repetir “uma espécie de 2018”. “Estou tentando mostrar ao pobre brasileiro essa polarização odienta, que eu não ajudei a construir. Pelo contrário, eu estava lá em 2018 tentando advertir que as pessoas não podiam usar a promessa enganosa do Bolsonaro para repudiar a corrupção generalizada e o colapso econômico gravíssimo que foram produzidos pelo PT”, declarou o candidato.

Sem pressão

Os jornalistas não confrontaram Ciro Gomes sobre o fato de ele ter se ausentado do país logo depois do primeiro turno das eleições de 2018, preferindo viajar para Paris, enquanto Fernando Haddad e Jair Bolsonaro disputaram o segundo turno.

Novamente provocado a falar sobre seu temperamento, Ciro disse que vem “de uma tradição do Nordeste e a nossa cultura política é palavrosa, digamos assim. E às vezes as pessoas no Sul e no Sudeste, não entendem bem”. A declaração imediatamente repercutiu negativamente nas redes sociais. “Sou nordestina. Não vale falsos regionalismos para justificar maus modos, Ciro. Somos um povo gentil”, disse, por exemplo, a antropóloga Debora Diniz no Twitter. 

Plebiscitos

Mais calmo e tolerante que o habitual, Ciro Gomes encontrou no estúdio do Jornal Nacional um clima favorável para apresentar sua candidatura. Porém, o pedetista não conseguiu explicar como conseguiria governar apenas com o apoio do seu partido no Congresso Nacional.

Perguntado se conseguirá governar o país sem alianças, o candidato investiu em uma crítica ao chamado “presidencialismo de coalizão” e anunciou a intenção de implementar plebiscitos no país para que a população decida sobre reformas amplas.

“Para resolver isso, primeiro vou propor as ideias e não o ‘deixa que eu chuto’ que tem vigorado. Segundo, propor as reformas nos seis primeiros meses. Terceiro, ampliar a negociação com governadores e prefeitos, propondo um pacto novo. Feito isso, chamar o povo para votar (as reformas) diretamente por plebiscito programático”, afirmou o ex-ministro e ex-governador.

No ar

Diante da falta de explicação sobre o método que utilizaria para que o Congresso Nacional o apoiasse, o candidato voltou a dizer que abrirá mão de um eventual segundo mandato. “O que destruiu a governança política brasileira é a reeleição, o presidente se colocar na defensiva, com medo de todo mundo, para fazer a reeleição. Por que? Porque tem medo de CPI e querem se reeleger.”

William Bonner, apresentador do Jornal Nacional, insistiu na pergunta. “Como abrir mão da reeleição fará com que os deputados o apoiem?”. Sem encontrar uma resposta, Ciro Gomes apelou à boa vontade do global. “Isso ajuda muito, com a experiência que tenho, acredite em mim.”

Pouco antes de encerrar sua participação no telejornal, o pedetista anunciou uma medida que não consta em seu programa de governo e que chamou de “lei antiganância”, que seria, segundo ele, aplicada na Inglaterra. “Todo mundo do crédito pessoal, do cartão de crédito, do cheque especial etc., ao pagar duas vezes a dívida que tem, essa coisa fica quitada por lei”, disse.

Programação

Sem mais tempo para melhorar a explicação, Ciro Gomes fez um apelo a potenciais eleitores em suas considerações finais. “Você que vota no Bolsonaro porque não quer o Lula de volta, me dá uma chance. Você que vota no Lula porque não quer mais o Bolsonaro, há um país para governar, me dê uma oportunidade. E você indeciso, sabe quantos são vocês? Mais da metade da população. Está na mão de vocês mudar o Brasil.”

A informação, porém, é falsa, conforme mostram as pesquisas de intenção de voto mais recentes. Dados do Datafolha divulgados no dia 18 mostram que 2% dos brasileiros estão indecisos na pesquisa estimulada (quando os nomes dos candidatos são apresentados), e 22% na espontânea (quando é o eleitor quem cita o nome do candidato). Já o levantamento do Ipec do dia 15 apontou 7% de indecisos na pesquisa estimulada e 16% na espontânea.

Ciro foi o segundo entrevistado da série de sabatinas do Jornal Nacional. Na segunda-feira (22), Bolsonaro (PL) foi o entrevistado. Na próxima quinta-feira (25), será a vez de Lula (PT), e no dia seguinte, Simone Tebet (MDB).


Com Brasil de Fato, Fórum, Folha de S.Paulo e agência Aos Fatos

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