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Bolsonaro faz ‘discurso eleitoral’ em mensagem ao Congresso Nacional, aponta cientista político

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP) Paulo Níccoli Ramirez avalia que presidente usou palanque para mandar recado aos “donos do dinheiro” e apoiadores

Nilson Bastian /Câmara dos Deputados
Nilson Bastian /Câmara dos Deputados
Bolsonaro também usou sua fala para atacar indiretamente seu maior concorrente na eleição: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

São Paulo – De acordo com o cientista político  Paulo Níccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), o presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou a sessão solene de abertura no Congresso Nacional, ontem (2), para fazer um discurso eleitoral, baseado em mentiras e voltado também à elite econômico-financeira. O mandatário esteve presente no evento que abriu o ano legislativo de 2022.

Bolsonaro voltou a deturpar fatos relacionados a seu governo. Um dos exemplos foi quando tratou dos impactos da pandemia, ao dizer que não se afastou de “duas premissas básicas: salvar vidas e proteger empregos, além do olhar voltado aos mais necessitados”.

“Foi um discurso eleitoral e não foi direcionado ao Congresso. Ele insiste que seu governo foi um sucesso, mas sabemos que foi o inverso. Diz que distribuiu remédios, mas era cloroquina. E também afirma que defendeu empregos, quando na verdade só defendeu o comércio aberto, sem nenhum programa ou respaldo econômico”, disse Níccoli a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual.

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Disputa eleitoral

Bolsonaro também usou sua fala, no Congresso Nacional para atacar indiretamente seu maior concorrente na eleição: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Disse que é contra a regulação da mídia e afirmou que não vai anular a reforma trabalhista. Na leitura do cientista político, o chefe do Executivo acena para a elite econômico-financeira.

“Quando se fala da regulamentação econômica dos meios de comunicação é uma maneira de impor limites para quem pode ser proprietário dos meios de comunicação, além da responsabilização sobre o que é dito e escrito”, explicou Ramirez, fazendo alusão à recorrente distorção que se faz sobre o tema. “Desde o impeachment da Dilma, o Temer já discursava para grandes empresários e assim efetuou a reforma trabalhista. Entretanto, a Espanha é um exemplo de um país que sofreu com essa mudança nas regras de trabalho, também não deu certo e revogou. O neoliberalismo não é solução para nenhuma crise”, acrescentou.

O atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também afirmou que “não serão permitidos retrocessos” sobre possíveis mudanças na atual legislação. O professor da Fesp-SP aponta para o risco de Lira atuar à semelhança de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, que boicotou o governo de Dilma.

“Isso mostra porque as federações terão um papel importante, tornando necessário que a união de partidos seja motivada por ideologia. Então, Lula vai tentar consolidar uma maioria no Congresso na próxima eleição, com o objetivo de reduzir o papel de Arthur Lira”, aponta. “O voto do eleitor identificado precisa refletir nos outros poderes para que neutralize a força da extrema-direita.”