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Assessora que sobreviveu ao atentado lança livro sobre o ‘mandato interrompido’ de Marielle Franco

Com pré-lançamento na convenção do Psol, em Brasília, obra abrange desde o período da eleição da vereadora carioca, em 2016, até o crime, em março de 2018

Wendell Cristiano/Agência Whizz/FLCMF
Wendell Cristiano/Agência Whizz/FLCMF
Priscila e Fernanda: medo, saudade e luta por justiça

São Paulo – Naquele 14 de março de 2018, uma quarta-feira, a vereadora Marielle Franco e a assessora Fernanda Chaves entraram no carro dirigido por Anderson Gomes com a sensação de dever cumprido, após mais um dia de trabalho. Ali da região central do Rio de Janeiro, Marielle pretendia chegar a tempo de ver a segunda metade do jogo do Flamengo, que naquela noite enfrentava o Emelec, do Equador, pela Taça Libertadores. Jogando fora de casa, o rubro-negro venceria por 2 a 1, mas ela não chegaria em casa. Foi assassinada a tiros em uma emboscada. Anderson também morreu. Fernanda sobreviveu.

Ontem (29) à noite, a Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (FLCMF) fez o pré-lançamento do livro Marielle Franco, Nesse lugar da política: um mandato interrompido. O trabalho é assinado por Fernanda e pela socióloga Priscilla Brito. O evento foi em Brasília, onde está sendo realizado o 8º Congresso Nacional do Psol, que vai até amanhã (1º).

De 2016 a 2018

Segundo a fundação, o livro abrange o período desde o final da campanha eleitoral, em 2016, até o dia 14 de março de 2018. Marielle foi assassinada pouco depois de participar de evento sobre ativismo e empreendedorismo para jovens negras, na Casa das Pretas, na Lapa, centro do Rio. Ela completaria 39 anos em julho. Na eleição municipal de 2016, foi a quinta mais votada para vereadora, com 46.502 votos.

“O lançamento deste livro documental sobre a nossa companheira Marielle Franco marca nossa memória. Registrar a vida de Marielle e seu impactante mandato como parlamentar que durou um ano e três meses até o atentado daquele 14 de março é fundamental para a história política do Brasil”, diz a presidenta da FLCMF, Natália Szermeta.

Símbolo político

“O livro sofreu diversos atrasos no seu lançamento. Foram vários os motivos, mas o principal foi a nossa dificuldade de organizar as palavras para honrar o que vivemos”, afirma Fernanda. “Perdemos muitas coisas na noite quente e chuvosa de 14 de março de 2018. Perdemos nossa liderança política, nossa chefe, nossa amiga, nossa companheira de luta, nosso trabalho, nossa convivência como equipe. Ganhamos o medo, a dor, a saudade, a luta por justiça e a necessidade de outras mais se elegerem. E o Brasil ganhou um símbolo político muito além do que as nossas lembranças conseguem significar.”

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“O trabalho de pesquisa do livro, conduzido pela psicóloga Ana Marcela Terra, traz um vasto material biográfico de Marielle Franco, como registros fotográficos, textos e discursos. Toda a reunião do material é fruto de uma construção coletiva para documentar a trajetória de Marielle”, acrescenta Priscilla, que também era assessora da vereadora.

Essa pesquisa rendeu também material para exposição, aberta em março no Congresso, e que segue por Brasília em formato itinerante. Neste fim de semana, está no hotel onde é realizada a convenção partidária.