Golpistas

General da reserva que atuou no governo Bolsonaro é alvo da operação da PF

Ridauto Lúcio Fernandes é considerado executor e um dos idealizadores dos atos golpistas de 8 de janeiro. Ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, ele era ligado ao então ministro general Eduardo Pazuello, atual deputado federal (PL-RJ)

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No dia dos ataques, Ridauto gravou vídeos e enviou para amigos e familiares. Em um deles, o general disse que estava "arrepiado" com a ação golpista

São Paulo – Ex-braço direito do então ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes é alvo da Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira (29). O militar que assessorava o então ministro de Jair Bolsonaro (PL) é investigado como um dos executores do ato golpista na Esplanada dos Ministérios no 8 de janeiro. De acordo com os investigadores, o militar é também possivelmente um dos idealizadores do ataque antidemocrático.

A medida faz parte da 18ª fase da Operação Lesa Pátria, que apura a participação de integrantes das Forças Especiais do Exército que teriam dado início às invasões às sedes dos três poderes. Durante a ação, os agentes apreenderam armas na casa do general, em Brasília. O Supremo Tribunal Federal (STF) também determinou o bloqueio de ativos e valores do investigado, que presta depoimento nesta sexta.

De acordo com a PF, no dia da invasão às sedes dos três poderes, Ridauto gravou vídeos e enviou para amigos e familiares. Em um deles, o general disse que estava “arrepiado” com a ação dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. “O pessoal acabou de travar a batalha do gás lacrimogênio. Acreditem: a PM jogou gás lacrimogêneo na multidão aqui durante meia hora e agora eles estão aqui na frente e o pessoal está aplaudindo a Polícia Militar”, compartilhou.

Nas mensagens, o militar ainda comenta que muitas pessoas aplaudiram a ação dos policiais. “A gente sabe que eles cumpriram ordem, eles estavam aqui para defender patrimônio. A maioria deles aqui é bem-intencionado. Tem que ser aplaudido sim”, declarou Ridauto. Para a Polícia Federal, “os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido”, segundo nota oficial.

Quem é Ridauto Fernandes

Formando em 1987 pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Ridauto Fernandes chegou ao posto de general de brigada no Exército, mas foi para a reserva após perder promoção à terceira estrela. Durante sua formação, o general da reserva também decidiu tornar-se um Kid Preto, denominação para os militares que realizam os cursos de Forças Especiais, uma espécie de tropa de elite do Exército.

A partir disso, Ridauto chegou a ocupar cargos de chefia no Comando de Operações Especiais do Exército, em Goiânia, até ser nomeado como diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde pelo então ministro general Eduardo Pazuello, atual deputado federal (PL-RJ). Apesar das mudanças de comando, o general da reserva ficou na pasta até o último dia do governo Bolsonaro, em 31 de dezembro de 2022.

Ridauto foi também uma das 73 pessoas que visitaram o tenente-coronel Mauro Cid durante os primeiros dias em que esteve preso no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília. Na época, ele alegou que o encontro tinha “motivação pessoal”. Além da gestão do ex-presidente, os dois também trabalharam juntos em Goiânia. Recentemente, Cid, que deixou a prisão após acordo de colaboração com a PF, contou em depoimento que Bolsonaro recebeu um “plano de golpe” e consultou integrantes da Marinha e das Forças Armadas sobre a possibilidade de atacar a democracia brasileira.

Investigação

Segundo os investigadores, imagens mostram que os primeiros vândalos, no 8 de janeiro, usavam balaclava e luvas. E também que esse grupo aparece abrindo passagem para o restante dos bolsonaristas pelo teto do Congresso Nacional. A suspeita é que, durante os ataques, tenha ocorrido uma atuação profissional de pessoas que conheciam previamente o local e possuíam treinamento militar.

A participação das Forças Armadas é apontada desde o início das investigações. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que chegou a ser afastado por falhas na segurança, afirmou à PF que o Exército impediu a remoção do acampamento bolsonarista instalado em frente ao quartel-general de Brasília. Ibaneis alegou ter ordenado a dissolução do acampamento golpista em 29 de dezembro, três dias antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas a deteminação foi contestada pelos militares, segundo o emedebista.

Redação: Clara Assunção
(*) Com informações do g1