Articulação de trabalhadores mostra propostas do movimento sindical, diz Artur

Artur Henrique, ao microfone, aponta o amadurecimento do movimento sindical na América Latina (Foto: Parizotti/CUT Divulgação) São Paulo – Começaram na manhã desta sexta-feira (30) as atividades organizadas pela Central […]

Artur Henrique, ao microfone, aponta o amadurecimento do movimento sindical na América Latina (Foto: Parizotti/CUT Divulgação)

São Paulo – Começaram na manhã desta sexta-feira (30) as atividades organizadas pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) em comemoração ao Dia do Trabalhador, 1º de maio. A primeira parte do Seminário Sindical Internacional, no Memorial da América Latina, na zona oeste da cidade de São Paulo, inaugurou o que promete ser o formato a vigorar para os próximos anos.

A central optou pela realização de menos shows para grandes concentrações de público. Segundo os organizadores, a ideia agora é promover debates de temas que interessem à classe trabalhadora e que orientem a atuação dos sindicatos e dos movimentos sociais na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

“(O seminário) é um amadurecimento na forma de a CUT e a classe trabalhadora do país se pronunciarem no dia do trabalhador”, diz Artur Henrique da Silva Santos, presidente nacional da CUT. Ele explica a evolução: “Antes nós fazíamos atos públicos no Anhangabaú (região central da capital paulista) que reuniam 4 mil, 5 mil pessoas. Falávamos de nós para nós mesmos. Depois tivemos grandes shows musicais populares, que foram importantes e fez nossas lutas e conquistas chegarem a um número grande de pessoas. Agora, nossa proposta é mostrar que os trabalhadores do país e do continente têm propostas que podem ser discutidas em todo o mundo, para a redução da pobreza, a geração de emprego e renda, uma educação que promova cidadania e competência profissional etc.”

No primeiro dos três painéis programados para o primeiro dia de debates – “As transformações ocorridas na América Latina na última década” –, dois convidados tiveram problemas de agenda e não compareceram. Um deles, o representante da Central Sindical Haitiana, Paul Loulou Chery. O outro foi o pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante. Este, porém, foi substituído pelo ex-ministro da Casa Civil e deputado federal cassado José Dirceu.

A mesa foi completada pelo professor Emir Sader, secretário-geral da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO) e pelo secretário-geral da Central Sindical Argentina (CTA), Hugo Yasky. Este último foi o escolhido para abrir as apresentações.

Yasky, entre várias colocações, afirmou que a sociedade civil organizada da América Latina tem as históricas oportunidade e missão de “compor forças para barrar a vitória da direita (nas respectivas eleições), que se organizam em todos os países do continente em que foram democraticamente eleitos governantes comprometidos com o avanço das lutas sociais”. As referências de articulações conservadoras feitas pelo sindicalista são os recentes resultados das eleições presidenciais no Chile e o golpe militar que derrubou o presidente eleito de Honduras.

“Querem que acreditemos que o ciclo de governos progressistas na América Latina chegou ao fim. A nós, cabe lutar pela integração dos movimentos populares e de trabalhadores e seguir construindo uma sociedade baseada na justiça, na igualdade de direitos e na distribuição da riqueza”, assinalou.

Integração social

José Dirceu abriu sua palestra indicando sinais de que o mundo assiste atualmente à formação de uma nova ordem social, cada vez mais independente dos mandos (e desmandos) dos Estados Unidos. Ele citou as políticas públicas de governos como o de Lula no Brasil, de Cristina Kirchner na Argentina e de Michele Bachelet no Chile que evitaram píores consequências para as classes menos favorecidas da maioria dos países latino-americanos.

O ex-ministro lembrou que os que se alinharam com os interesses do capital e do mercado se deram muito mal. “O México vive atualmente uma situação duríssima”, lembra. O país mais ao sul da América do Norte aderiu à Área de Livre Comércio com os Estados Unidos e o Canadá (Nafta), que segue os mesmos moldes propostas para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

“Quase a totalidade do comércio externo (do México) é com os norte-americanos. Ou seja, o México praticamente quebrou junto com eles (durante a crise). O tráfico de drogas praticamente instaurou um poder paralelo e o país está prestes a contrair um empréstimo gigantesco com o FMI (Fundo Monetário Internacional)”, enumerou. Para ele, não há atitude mais retrógrada do que recorrer ao órgão multilateral atualmente.

Dirceu reforçou a importância da integração política, social e cultural entre a sociedade civil organizada dos países da América Latina e do Caribe como forma de contrapor às forças do mercado e do capital internacional, representadas “por uma classe política subserviente.”

Ressalvas

Dirceu aproveitou para fazer um breve balanço dos pontos positivos dos quase oito anos de governo Lula. Segundo ele, porém, há alguns aspectos em que, apesar de avanços, ainda há problemas. “Melhoramos, mas não resolvemos as falhas de nosso sistema educacional, não conseguimos concluir, neste governo, um projeto nacional que contemple a formação profissional com a educação social”, analisa.

Ele também apontou limitações em relação à ampliação do comércio exterior, que precisaria ir além da exportação de commodities e manufaturados de baixo valor agregado, mas também criando e repassando tecnologia em diversos setores. Segundo Dirceu, estes itens deverão fazer parte da agenda prioritária de um próximo governo “comprometido com o desenvolvimento do país, dentro de um contexto social mais justo e igualitário.”