Na CUT, Lula chora e diz que foi leal ao trabalhador

Presidente diz que tinha medo de errar e quebrar 'relação de amizade'; ele defendeu sua política externa e pediu manutenção de políticas do governo

“Vou ter de ir ao alfaiate encomendar uma calça maior. O ego engorda”, brincou (Foto: Paulo Donizetti)

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chorou no final de seu discurso no 1º de Maio promovido neste sábado (1º) pela CUT no Memorial da América Latina, zona oeste de São Paulo, ao falar sobre o final de seu mandato e dos compromissos que assumiu com os trabalhadores. “Eu fui leal ao que pretendíamos. Sei que a gente tem de provar a cada dia… Eles não faziam nada. Terminava o mandato, ninguém cobrava nada”, disse Lula, emocionado, dizendo que “não podia errar” em seu governo ou só haveria outro trabalhador no poder daqui a 100 anos. Além disso, acrescentou, “eu ia quebrar o que tinha de mais sagrado, que era a relação de amizade que eu tinha com vocês”.

“Quando eu deixar a Presidência, vou continuar morando no mesmo apartamento, na mesma distância do sindicato em que realizei as greves mais maravilhosas deste país. (…) E eu vou poder levantar de manhã e dizer ´bom dia, companheiro´ porque eu fui leal àquilo que nós pretendíamos”, afirmou Lula, que interrompeu o discurso nesse momento por causa das lágrimas.

Antes, bem-humorado, ele fez referência à revista “Time”, que o citou como um dos líderes mundiais mais influentes. “Vou ter de ir ao alfaiate encomendar uma calça maior. O ego engorda”, brincou. “Uma parte da elite achava que a gente não poderia governar o Brasil.”

Lula enfatizou a importância de sua política externa, que priorizou o Mercosul, além de intensificar relações com países da África, Ásia e Oriente Médio, fora do eixo Estados Unidos-Europa. “Alguns países da América Latina e do Caribe eu fui o primeiro presidente brasileiro a visitar. Estávamos colonizados. Hoje, a América Latina é a maior parceria comercial do Brasil. Algumas autoridades brasileiras parece que tinham vergonha da nossa origem. Eles se esqueciam que a beleza desse povo é justamente a mistura do índio, do negro e do europeu.”

Ele também citou seu programa de governo, que falava na necessidade de o país criar 10 milhões de empregos. “Não era promessa, era constatação matemática”, lembrou. “Agora, só por desaforo vou terminar o mandato criando 14,5 milhões”, afirmou.

Lembrando que oito anos de mandato são insuficientes “para consertar os erros de 500 anos”, Lula defendeu um “sequenciamento” das políticas de seu governo. “Fizemos muitos, e há muito por fazer. Quem vier depois de mim vai ter de trabalhar e fazer mais, porque o povo aprendeu a cobrar mais.”

Lula lembrou ainda que não estará mais no poder no 1º de Maio do ano que vem e fez um pedido aos presidentes nacional e estadual da CUT, Artur Henrique da Silva Santos e Adi dos Santos Lima: “Pelo amor de Deus, me convidem. Se for alguém ruim (na Presidência da República), a gente vem aqui meter o pau. Se for alguém bom, a gente vem ajudar e aplaudir.”

Futuro

A pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, afirmou que “o direito de olhar o futuro” foi uma das principais conquistas do governo Lula. “Sabemos que podemos construir um país cada vez melhor”, disse a ex-ministra, acrescentando que até o final da década o Brasil poderá se tornar a quinta maior economia do mundo – atualmente, é a oitava.

Ela também enfatizou a defesa do patrimônio nacional e atacou o governo anterior. “Houve um momento em que quiseram mudar o nome da Petrobras, para ´brax´. Não era para mudar o ´petro´, mas o ´bras´. Era como se ser brasileiro desvalorizasse. Hoje, esse nome Brasil valoriza qualquer empresa, mas sobretudo cada um de nós.”

Pré-candidato ao governo de São Paulo, o senador Aloizio Mercadante (PT) destacou a solidez da economia brasileira. “Este país hoje tem estabilidade macroeconômica, controle da inflação. E criou 657 mil empregos apenas no primeiro trimestre deste ano”, citou, destacando a popularidade de Lula. “Quando na história do Brasil um presidente pode andar na praça falando com todas as centrais sindicais?”

O presidente da CUT, Artur Henrique, entregou a Lula e a Dilma um documento com as propostas da central para o próximo governo, incluindo mais de 200 itens, relacionados à valorização do trabalho, ao combate à precarização e à necessidade políticas públicas. “O principal ponto é impedir o retrocesso e aprofundar um processo de mudanças para o Brasil”, afirmou o dirigente.