Havana espera 1 milhão no dia do trabalhador

Praça da Revolução abria a marcha do dia do trabalhador, como ocorreu em 2006 (Foto: trailofdead1/Flickr) Havana (Cuba) – A bela e ensolarada Cuba, um dos mais bonitos cartões postais […]

Praça da Revolução abria a marcha do dia do trabalhador, como ocorreu em 2006 (Foto: trailofdead1/Flickr)

Havana (Cuba) – A bela e ensolarada Cuba, um dos mais bonitos cartões postais do mundo, não esconde suas contradições de pobreza. As autoridades cubanas e dirigentes da Central de Trabalhadores de Cuba (CTC) esperam superar a participação popular de 1 milhão de pessoas nas comemorações do 1º de maio, dia mundial do trabalhador. Esse foi o número de pessoas reunidas em 2009.

Enormes bandeiras de Cuba são estendidas nos prédios e avenidas como, por exemplo, a Salvador Allende. Painéis são colocados nas calçadas com frases de estímulo à participação na manifestação. Em muitas portas, são improvisados cartazes, até escritos com caneta, ovacionando “la marcha”.

Um extenso sistema de som percorre quilômetros nas avenidas que convergem para a praça da revolução, cuja área é quase dez vezes a do sambódromo do Rio de Janeiro. O palanque, onde estaram o presidente Raúl Castro e autoridades internacionais, fica em uma colina em frente do memorial José Martí, uma torre de 109 metros de altura.

 

À frente do palanque, estão dois prédios, o Ministério do Interior – onde há o painel estilisado de Ernesto Che Guevara com a frase “hasta la victória siempre” – e das Comunicações – com outro painel, de Camilo Cienfuegos, que desapareceu oito meses depois da revolução em um acidente de avião.

Nos dias que antecedem a marcha, escolas, centros comunitários e comitês de defesa organizam manifestações internas de aquecimento. As frases e palavras de ordem remetem à defesa da revolução, ataques aos Estados Unidos e a nova orientação do governo para enfrentar a crise econômica – a “atualização do sistema econômico” (ver box).

A movimentação no aeroporto José Martí é intensa. São horas na extensa fila de imigração. São esperadas 1.500 delegações internacionais, sendo que 1.200 já estão em solo cubano. Isso levou um dirigente da CTC a dizer: “Cuba não está só”.

A CTC foi fundada exatos 20 anos da revolução de 1959, constituída por ramos de atividade. Entre os profissionais de saúde, por exemplo, são agregados desde o ministro até motoristas de ambulância, além de médicos e enfermeiras. São 18 sindicatos nacionais associados, cuja organização começa nos municípios, nas províncias e em nível nacional. Manteve esse formato desde a revolução e congrega 3,6 milhões, dos 5 milhões economicamente ativa.

A marcha ganhou impulso porque, no domingo (25), houve eleições para conselhos municipais. Oficialmente, qualquer cubano pode se candidatar voluntariamente, e os votos são feitos em listas. Compareceram 8 milhões de cubanos, com abstenção de 8%.

Nas ruas, diante da pergunta se iriam ao primeiro de maio, houve apenas um comentário negativo, de um vendedor de charutos no mercado paralelo em Havana Vieja. “Quem não vai, não recebe o salário do mês”, confidencia.

Porém, um taxista, mesmo bastante crítico em relação à política contra a crise econômica disse que iria e que as pessoas comparecem porque gostam.

Yanes Rodrigues, uma jovem partidária do regime, discorre sobre os benefícios da licença maternidade de um ano e com férias de 15 dias a cada seis meses. E, em seguida, responde se vai: “Si, claro”.

Foto original: trailofdead/Flickr

Atualização Econômica

Cuba é uma ilha, cujo interesse econômico internacional é pequeno. Até a década de 1980, vivia do intercâmbio com o mundo socialista. Desde então, vive crises mais ou menos intensas, aprofundadas pelo bloqueio econômico patrocinado pelos Estados Unidos. A disputa por dinheiro e negócios é visível nas ruas de Havana.

Cuba empreende uma campanha, acompanhada pela CTC, intitulada “Atualização Econômica” e com o lema “Unidos, produtivos e eficientes”. O objetivo é estimular o interesse das pessoas pelo trabalho. Segundo a central sindical, a população não quer mais ser pedreiro, pintor, arquiteto, por causa do Estado protetor.

A “atualização” visa a aumentar a produção interna para gerar mais divisas ao país em mais áreas.