Mal avaliado

Reprovação de Bolsonaro em setembro indica reeleição ‘improvável’

Governo do atual presidente é o mais mal avaliado no mês de setembro, na comparação com FHC, Lula e Dilma no ano da reeleição

Marcos Correa/PR
Marcos Correa/PR
Dos quatro presidentes que disputaram a reeleição, é o único com saldo negativo na avaliação de seu governo

São Paulo – O cientista político Alberto Carlos Almeida e o geógrafo Tiago Garrido consideram “improvável” que o presidente Jair Bolsonaro consiga a reeleição. Os pesquisadores analisaram dados do Datafolha sobre a avaliação do mês de setembro dos três ex-presidentes da República que se já se reelegeram. “Tomando-se como referência as três reeleições anteriores – Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff –, a avaliação de Bolsonaro teria de melhorar muito até 2 de outubro para que ele se torne o favorito”, diz a análise.

Garrido e Almeida, coautores do livro A Mão e a Luva – O que Elege um Presidente (Editora Record), teoricamente Jair Bolsonaro poderia se reeleger. Mas, olhando para os números, “é improvável”.

Em 1998, Fernando Henrique foi reeleito em primeiro turno. Seu governo era avaliado, em setembro daquele ano, com 43% de ótimo e bom e 17% de ruim/péssimo, o que mostra um saldo positivo de 26 pontos entre as duas avaliações.

Em 2006, Lula foi reeleito em segundo turno com 20 pontos de vantagem sobre o então adversário Geraldo Alckmin, na época do PSDB. O petista tinha 46% de ótimo/bom e 18% de ruim/péssimo, ou seja, saldo positivo de 28 pontos percentuais. “Muitos se perguntam o motivo que levou a eleição para o segundo turno”, anotam os analistas. Isso porque, com este saldo positivo de seu governo, Lula poderia ter vencido no primeiro turno.

Efeito de mídia negativo

“A explicação mais plausível (e menos charmosa) é que sua intenção de votos (de Lula) sofreu um efeito de mídia negativo: o do escândalo dos aloprados”, explicam os analistas. “Foi por causa deste escândalo que Alckmin teve mais votos no primeiro turno (39,9 milhões) do que no segundo (37,5 milhões), puro efeito de mídia passageiro.”

Na época, em um episódio até hoje mal explicado, petistas foram presos em um hotel em São Paulo por suposto envolvimento na compra de um falso dossiê contra o tucano José Serra, então candidato ao governo de São Paulo.

Já Dilma Rousseff, em 2014, foi bem sucedida, mas com dificuldade: foi reeleita em segundo turno apenas 3,28% à frente de Aécio Neves. Ela estava com 36% de ótimo/bom, mas avaliação 12 pontos superior aos 24% de ruim/péssimo em setembro daquele ano.

Já o governo Bolsonaro chega a menos de três semanas da tentativa de reeleição com 31% de ótimo/bom e 42% de ruim/péssimo. “Dos quatro presidentes que disputaram a reeleição, é o único com saldo negativo na avaliação de seu governo: 11 pontos. Bolsonaro caiu nas intenções de voto entre junho e dezembro de 2021 porque a avaliação de seu governo piorou”, dizem Almeida e Garrido.

De acordo com eles, Bolsonaro subiu nas intenções de voto em 2022 porque a avaliação de seu governo melhorou. Sobretudo após uma série de medidas de véspera de eleição, mas que o próprio eleitorado alvo dessas medidas considera eleitoreiras. “Isso pode ocorrer (avaliação de Bolsonaro melhorar até 2 de outubro)? Teoricamente sim, mas é improvável”, dizem os analistas.

A 20 dias da eleição, Lula tem 46% e supera demais adversários, que somam 44%

“Passar a faixa

Em entrevista a podcasts direcionados a um público jovem e evangélico, ontem (12), Bolsonaro afirmou ter se arrependido de afirmações contra as mulheres e declarações zombando de quem morreu ou sofreu com a pandemia de covid-19. “Dei uma aloprada. Aloprei. Perdi a linha. Aí eu me arrependo”, afirmou.

Bolsonaro também admitiu que pode “passar a faixa”, se não conseguir a reeleição, apesar de ter voltado a defender “eleições limpas”. “Se essa for a vontade de Deus, eu continuo. Se não for, a gente passa aí a faixa e vou me recolher”, declarou.

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