Ódio às mulheres

Ataque de Douglas Garcia a jornalista racha bolsonarismo, dizem analistas

Segundo pesquisador e analista de dados, “no afã por likes, Douglas empurrou o bolsonarismo de novo para seu maior pesadelo a três semanas das eleições: a misoginia de Bolsonaro”

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Com ataque covarde, Garcia reproduziu fala de Bolsonaro com seu ódio às mulheres esperando agradar à chefia, mas fracassou

São Paulo – O ataque do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP) à jornalista Vera Magalhães rachou o bolsonarismo a três semanas da eleição. Num momento em que o presidente da República tenta “limpar” a imagem de misógino que afasta dele grande parte do eleitorado, principalmente mulheres, o deputado estadual perdeu o timing e apostou na estratégia que deu certo em 2018, mas hoje se mostra ultrapassada. A avaliação é do pesquisador e analista de dados Guilherme Felitti.

“Graças à onda anti-establishment de 2018, o achincalhamento de políticos e jornalistas rendia aplausos, projeção e popularidade. Era a tal ‘nova política’. Fruto dessa onda, Douglas Garcia apostou que as regras de 2018 seguiam valendo”, diz Felitti no Twitter.

A prova de que a atitude de Garcia provocou um racha no bolsonarismo e pode ter causado danos irreversíveis e definitivos à carreira política do agressor foi a reação de Tarcísio de Freitas, candidato ao governo de São Paulo pelo menos partido de Garcia.

Apesar de reproduzir a fala de Bolsonaro com seu ódio às mulheres esperando agradar à chefia, Garcia não teve o reconhecimento que esperava. Em telefonema à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o próprio Tarcísio se encarregou de despachar o deputado de seu partido: “Eu mal conheço, nem tenho contato com esse idiota”, disse Tarcísio, que classificou a atitude do correligionário domo “reprovável, lamentável”.

Pesadelo bolsonarista

“No afã por likes, Douglas empurrou o bolsonarismo de novo para seu maior pesadelo a 3 semanas das eleições: a misoginia de Bolsonaro”, escreveu Felitti. “O bolsonarismo tentava explorar a tatuagem (de um crime de assassinato de dias atrás) para quebrar as boas notícias recentes de Lula, mas Garcia garantiu que o foco voltou ao machismo.”

Citando o também analista de dados Pedro Barciela, Felitti acrescenta que, “além de mergulhar o bolsonarismo no debate sobre misoginia, o ataque covarde de Douglas rachou o movimento, sempre tão coeso”.

Barciela avalia que o bolsonarismo, sempre aglutinado em um único cluster, rachou nas últimas 48 horas: “quatro clusters, conflitos e críticas internas. Uns atacam Tarcísio por tentar se afastar do bolsonarismo, outros defendem o candidato (ao governo paulista) e sobram ataques até para Weintraub. E Tarcísio?”

O próprio Barciela responde: “Tarcísio aparece ali perdido, sem saber quem agradar e qual narrativa adotar. Criticar Jair Bolsonaro, o autor da narrativa que resultou no ataque? Defender a jornalista alvo do machismo bolsonarista? Enquanto isso, faltam apenas 17 dias para as eleições.”

Além do problema que causou no interior do bolsonarismo, Douglas Garcia arrumou enorme confusão para si mesmo. Ele pode ser cassado na Assembleia Legislativa paulista. Além disso, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, já determinou a análise das agressões a Vera Magalhães pela procuradoria-regional eleitoral de São Paulo.

Bolsonarismo, sempre aglutinado em um único cluster, rachou nas últimas 48 horas, avaliam especialistas em tráfego de dados na internet