Apoio ao golpe?

Bancários cobram que Bradesco se explique sobre militares e democracia

Contraf-CUT busca audiência para obter explicações sobre vídeo em que o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Júnior, elogia o Exército e sua formação militar

Reprodução
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No vídeo, o presidente do Bradesco conta que no quartel se apresentava como “soldado 939 Lazari” e que aprendeu que “missão dada é missão cumprida”

São Paulo – A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) solicitou audiência com o Bradesco para obter explicações sobre o vídeo em que o presidente da instituição, Octavio de Lazari Júnior, enaltece o Exército brasileiro, sua formação e os militares. Na mensagem, que veio à tona no último sábado (4), o executivo conta que antes de trabalhar no Bradesco, onde está há 43 anos, se apresentava como “soldado 939 Lazari, ao seu comando”.

A gravação segue com Lazari afirmando seu privilégio de ter servido como militar em 1982, no mesmo quartel que seu pai se alistou em 1956. De acordo com ele, no Exército aprendeu que “missão dada é missão cumprida”. E que sua formação militar reforçou valores que foram “fundamentais para que eu pudesse construir minha carreira”. O presidente do Bradesco encerra o vídeo ressaltando que “o soldado Lazari continua de prontidão”.

O vídeo repercutiu negativamente e foi ligado a um eventual golpe contra a democracia do país. Diante das críticas, o executivo gravou um áudio a amigos, publicado no portal Metrópoles, em que argumenta que o comandante do batalhão, há dois meses, havia pedido a ele para gravar um depoimento sobre o seu período de caserna. “Como fazem diversos ex-soldados que, hoje, estão na vida privada. Gravei o vídeo e mandei para o comandante do quartel para colocarem no site do batalhão. Somente no site do batalhão. ‘Alguém’ capturou esse vídeo e jogou nas redes sociais e começaram a sair notícias fora do contexto”, alegou Lazari na mensagem. 

Pedido de audiência

A assessoria do Bradesco também disse à imprensa que o vídeo foi produzido há dois meses, após visita institucional do presidente Octavio de Lazari Júnior ao comandante do quartel de Quitaúna, em Osasco, região metropolitana de São Paulo. A publicação, ainda segundo o banco, seria pessoal de Lazari. 

Em nota divulgada ontem (7), a Contraf-CUT questiona, no entanto, que a peça tem características institucionais. Isso porque o vídeo traz a logomarca do Bradesco. E o pronunciamento do presidente faz referências ao banco como “um dos maiores do mundo” com “90 mil funcionários”. Para a entidade, Lazari precisa dar explicações quanto ao posicionamento da instituição financeira sobre o regime democrático brasileiro. “Essas informações interessam a seus mais de 90 mil trabalhadores e a seus clientes, bem como a toda a sociedade brasileira, pois uma instituição financeira é uma concessão pública. Trata-se de uma regra fundamental do Estado de direito, e democracia exige o pleno respeito às regras”, destaca o movimento sindical.

A avaliação é que a fala do presidente “pode ser entendida como um apoio do Bradesco aos ataques à democracia”, promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). “Pois o presidente capitão do Exército Jair Bolsonaro ataca insistentemente o sistema eleitoral, o Poder Judiciário, a imprensa, as entidades sindicais, as universidades e os movimentos sociais”, completa. 

Dúvidas sobre posição

O vídeo de Lazari também indignou o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. A entidade repudiou o teor da peça “no momento em que o país é comandado por um presidente da República que flerta abertamente com o golpismo e com a defesa da ditadura militar”, contestou a secretária-geral do sindicato, Neiva Ribeiro, que é bancária do Bradesco. De acordo com a dirigente, a declaração vinda do CEO da empresa deixa dúvidas sobre qual é o posicionamento do banco diante da democracia no país. 

“É notório que períodos ditatoriais comandados por militares sempre se voltam contra os direitos da população e trabalhistas. Basta lembrarmos o arrocho salarial causado pela inflação galopante e pela proibição da organização livre dos trabalhadores durante o último regime militar [1964-1985]”, ressaltou Neiva. Em 2018, Lazari já havia se envolvido em outra polêmica quando após eleição de Bolsonaro disse se sentir “revigorado”. 

O presidente do Bradesco, que é também diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), defendeu que Bolsonaro daria “início a um novo ciclo de reformas estruturais no sentido de modernização do Brasil”. No entanto, o país enfrenta inflação galopante, custo de vida mais alto para os mais pobres, desemprego elevado e queda na renda, além de uma economia estagnada e sem perspectivas de retomada por falta de gestão.

Também ontem, a presidente do Sindicato dos Bancários, Ivone Silva, afirmou em artigo que o Bradesco tem de ter responsabilidade com toda a sociedade. “Não somente com os acionistas aos quais distribui os lucros bilionários da empresa, mas também com os seus trabalhadores e clientes.”