IMAGEM QUEIMADA

Com Orbán e Putin, Bolsonaro tenta recuperar prestígio internacional que ele mesmo destruiu

Durante viagem à Rússia e Hungria, presidente brasileiro mentiu sobre retiradas de tropas russas e ao negar desmatamento da Amazônia

Alan Santos/PR
Alan Santos/PR
De acordo com a cientista política, o presidente da República, que flerta com o autoritarismo, tenta desfazer a imagem de "pária internacional", principalmente após a saída de Donald Trump dos EUA

São Paulo – Os encontros de presidente Jair Bolsonaro (PL) com os líderes europeus Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, são tentativas de criar uma peça de campanha eleitoral com o objetivo de recuperar prestígio internacional, mas que ele mesmo destruiu durante seu mandato. A análise é da professora de Ciência Política Mayra Goulart da Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Durante a viagem à Rússia, por exemplo, Bolsonaro sugeriu que sua presença contribuiu com a retirada de tropas da Rússia da fronteira com a Ucrânia, embora não tenha fornecido qualquer indício a sustentar tal associação. Depois, antes da reunião com o premier húngaro, figura da extrema-direita europeia, Bolsonaro chamou Orbán de “meu irmão dadas as afinidades”, e disse que ambos os países “comungam de quatro palavras: Deus, Pátria, Família e Liberdade” – mote que tem origem no fascismo italiano das décadas de 1920 e 1930 e foi adotado por fascistas brasileiros da Ação Integralista.

De acordo com a cientista política, o presidente da República, que flerta com o autoritarismo, tenta desfazer a imagem de “pária internacional”, principalmente após a saída de Donald Trump da presidência dos Estados Unidos. “O Brasil perdeu parte de um capital acumulado durante o século 20: seu prestígio internacional. Isso não tem a ver com recursos materiais, mas permite o fortalecimento de fóruns multilaterais e novos negócios. O Bolsonaro flerta com o autoritarismo e queimou pontes. Sua articulação com líderes da extrema-direita é uma tentativa de recuperar algum tipo de prestígio internacional, mesmo que de maneira deformada”, afirmou ela, em entrevista ao jornalista Rodrigo Gomes, da Rádio Brasil Atual.

Em visita a Hungria, Jair Bolsonaro também voltou a mentir sobre a situação ambiental brasileira. O presidente divulgou informações falsas sobre a Amazônia e negou que o país incentiva o desmatamento do bioma. As mentiras foram ditas em declaração à imprensa, na última quinta-feira (17), ao lado do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, em Budapeste. Bolsonaro abordou o tema ao mencionar que, antes de estar com Orbán, conversou com o presidente húngaro, János Áder.

Confira a entrevista