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Na Hungria, Bolsonaro nega desmatamento na Amazônia e mente sobre dados ambientais

Presidente brasileiro sofre pressão internacional por intensificação da devastação ambiental no Brasil

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR
Bolsonaro disse que conversou com presidente húngaro, e "focou a questão ambiental"

São Paulo – Em visita a Hungria, Jair Bolsonaro (PL) voltou a mentir sobre a situação ambiental brasileira. O presidente divulgou informações falsas sobre a Amazônia e negou que o país incentiva o desmatamento do bioma. As mentiras foram ditas em declaração à imprensa, nesta quinta-feira (17), ao lado do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, em Budapeste. Bolsonaro abordou o tema ao mencionar que, antes de estar com Orbán, conversou com o presidente húngaro, János Áder.

Ele disse que a conversa com Áder “focou a questão ambiental” – tema que provoca cobranças recorrentes da comunidade internacional desde o início de sua gestão. No ano passado, por exemplo, o presidente brasileiro recebeu críticas por segurar a divulgação dos dados consolidados de desmatamento. Desse modo, evitou que a medição recente de 13 mil quilômetros quadrados de devastação chegasse Conferência do Clima, a COP26.

“Há pouco conversei também com o nosso presidente da Hungria, ele se focou muito mais na questão ambiental. Eu tive a oportunidade de falar para ele o que representa a Amazônia para o Brasil e para o mundo”, afirmou Bolsonaro. “E muitas vezes as informações sobre essa região chegam para fora do Brasil de forma bastante distorcida, como se nós fôssemos os grande vilões no que se leva em conta a preservação da floresta e sua destruição, coisa que não existe.”

Mentira sobre Amazônia

De acordo com dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), divulgados em janeiro deste ano, o desmatamento na Amazônia em 2021 foi o maior em 10 anos. A devastação em 2021, inclusive, foi 29% maior que no ano anterior, quando 8.096 quilômetros quadrados foram destruídos. Apesar disso, Bolsonaro afirmou que o Brasil é referência em cuidar do meio ambiente.

“Nós preservamos 63% do nosso território. E não se encontra isso em praticamente nenhum outro país do mundo. Nós nos preocupamos até mesmo com o reflorestamento, coisa que não vejo nos países da Europa como um todo. Então, essa informação, essa desinformação passa para o lado de um ataque à nossa economia que vem obviamente em grande parte do agronegócio”, completou o presidente, segundo informações do g1.

Especialistas afirmam que a declaração de Bolsonaro, de que o Brasil tem mais de 60% de seu território com vegetação preservada, não corresponde à realidade. O presidente já divulgou esse número outras vezes. Análise do Mapbiomas aponta que que pelo menos 9% do total de 66% da atual cobertura vegetal é secundária – ou seja, são áreas que já desmatadas e voltaram a crescer. Portanto, áreas não preservadas. “Além disso, mais de 20 países possuem área com vegetação nativa maior que a do Brasil”, aponta a iniciativa Fakebook.eco, que analisa a desinformação ambiental com apoio de rede de ONGs.

Antes da reunião com o premier húngaro, figura da extrema-direita europeia, Bolsonaro chamou Orbán de “meu irmão dadas as afinidades”, e disse que ambos os países “comungam de quatro palavras: Deus, Pátria, Família e Liberdade” – mote que tem origem no fascismo italiano das décadas de 1920 e 1930 e adotado por fascistas brasileiros da Ação Integralista.