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Lula: ‘CPI vai dar em processo e Bolsonaro que se cuide’

Ao encerrar agenda em Brasília, ex-presidente fez um balanço da situação do Brasil sob Bolsonaro, comparando-a com a prosperidade experimentada em sua gestão

Benildes Rodrigues
Benildes Rodrigues
Lula atacou o governo Bolsonaro, inclusive Paulo Guedes e negou que o PT seja contra o impeachment

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (8), em Brasília, acreditar que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado vai culminar em diversos processos. Na sua avaliação, há muita seriedade nos trabalhos do colegiado. “Acho que vai apresentar um bom relatório. Alguma sessões que eu tenho assistido têm denúncias muito escabrosas e eu acho que vai dar em processo. Bolsonaro que se cuide.”

As consequências nefastas do negacionismo de Jair Bolsonaro em relação à pandemia de covid-19 também foram comentadas por Lula sob outros aspectos. Questionado sobre um eventual medo de voltar a ser perseguido em 2022, com falsas acusações, o ex-presidente disse estar “vacinado”. E que defende que todos tenham direito à ampla defesa, como deve ser em um Estado democrático de direito.

“Quero o direito de defesa para todos, inclusive Bolsonaro. Quero que ele prove que não é culpado na ‘chacina’ de 600 mil brasileiros, que não é um genocida, que não tem uma quadrilha para comprar vacina. Por que eu sou defensor do estado democrático de direito. E a presunção de inocência para mim é um valor muito forte. Eu só queria que outras pessoas pensassem assim”, afirmou.

Impeachment de Bolsonaro

O ex-presidente aproveitou para negar que o PT não tenha interesse no impeachment de Bolsonaro, como têm alardeado alguns setores da mídia tradicional. “O fato de eu não participar dos atos não quer dizer que seja porque eu seja contrário. O PT quer o impeachment”, disse.

Segundo Lula, sua ausência nos atos pelo “fora Bolsonaro” em várias localidades do país se deve a recomendações médicas. “Meus ministros da Saúde dizem que não devo ir. E já tenho como representantes o Fernando Haddad e a Gleisi Hoffmann”, brincou, referindo-se nominalmente a José Gomes Temporão e Alexandre Padilha, “Quando eu subir no caminhão, vai ser pra não descer mais.”

Regulamentação da mídia

Tema recorrente em suas entrevistas recentes, a regulamentação da mídia deverá ocupar papel central em um eventual novo governo Lula. Mas o virtual candidato adianta que a discussão passará necessariamente pelo Congresso Nacional e pela sociedade, não só pelo Executivo. 

“Regulamentação é tema do Congresso Nacional. Falam que é censura, eu acho engraçado. O cara mais censurado do Brasil está falando com vocês. Se fosse uma tese sobre minha censura seria possível ganhar um ‘Prêmio Nobel’ de Jornalismo. Ninguém é mais censurado que eu nesse país”, disse o ex-presidente. 

Do mesmo modo, a questão ambiental deverá ser discutida de maneira ampla, com a participação de todos. Para Lula, a preservação ambiental deverá envolver melhores condições de vida e trabalho para as populações e equidade no acesso à água tratada, esgoto e coleta seletiva de lixo. “Com isso o Emmanuel Macron ficará descansado e não precisará internacionalizar a Amazônia, que é nossa.”

Do começo ao fim, a fala do ex-presidente foi marcada por comparações entre os oito anos de seu governo de prosperidade econômica, avanços sociais e respeito da comunidade internacional. E o fracasso do governo atual, com altos índices de desemprego, economia quase parando, isolamento no cenário nacional e internacional e 600 mil mortos na pandemia.