Bônus macabro

Vitamedic ‘pagou por fora’ a médicos que promoveram ivermectina

Profissionais de saúde receberam dezenas de milhares de reais do laboratório para estimular o uso de medicação sem eficácia contra a covid-19, segundo documentos da CPI

Divulgação/Prefeitura de Itajaí/Jefferson Rudy/Agência Senado
Divulgação/Prefeitura de Itajaí/Jefferson Rudy/Agência Senado
Vitamedic trabalhou para "ludibriar" e "enganar" o povo brasileiro, disse o senador Otto Alencar (PSD-BA)

São Paulo – Além de “patrocinar” manifesto do grupo Médicos pela Vida em defesa do “tratamento precoce” contra a covid-19, a Vitamedic também teria pago “bonificações” a médicos que estimularam o uso da ivermectina. De acordo com o senador Otto Alencar (PSD-BA), a CPI da Covid tem documentos que comprovam que agentes de saúde recebem “estímulos financeiros” do laboratório para divulgar o uso da medicação, que não tem eficácia contra o novo coronavírus. Além disso, ele destacou os riscos à saúde do uso prolongado da droga, que supostamente evitaria a contaminação pela doença.

“Sua empresa estimulou o uso da medicação, pagando por fora a agentes da área da saúde, como citei e posso comprovar”, afirmou Otto Alencar ao diretor da Vitamedic, Jailton Batista, que presta depoimento à Comissão.

O senador citou, por exemplo, o caso do médico Flávio Adsuara Cadegiani, que recebeu R$ 10 mil da Vitamedic. A prática teria se repetido com outros profissionais. “Isso foi só o começo, fora tantas diárias que foram pagas para promover em palestras essa medicação para uso preventivo.”

Batista negou tal prática. Ele afirmou que esses profissionais teriam sido contratados para pesquisar dados e informações sobre a ivermectina. “Então qual foi a pesquisa, qual a fase que ele fez? A pesquisa in vitro, com camundongos? A fase clínica? Por 10 mil reais? Sinceramente, o senhor está faltando com a verdade”, replicou o senador.

Otto, que é médico, lembrou que a superdosagem e o uso prolongado da ivermectina é “neurotóxico” e “patotóxica”, podendo desencadear, inclusive, convulsões cerebrais. “A empresa que o senhor dirige trabalhou para o povo brasileiro ser ludibriado e enganado”, disparou.

Uso prolongado da ivermectina

A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) quis saber se a Vitamedic se interessou em realizar estudos sobre a eficácia da ivermectina, bem como os efeitos colaterais decorrentes do seu uso prolongado. Entretanto, Batista afirmou que, por se tratar de um medicamento genérico, estudos desse tipo não poderiam ser financiados exclusivamente pela sua empresa, por laboratórios concorrentes também seriam beneficiados.

Em vez desses estudos, a Vitamedic optou por financiar entidades “que promovem fake news“, segundo a senadora, se referindo ao grupo Médicos pela Vida. Nesse sentido, Eliziane disse que o laboratório sonegou informações à CPI relativas a R$ 717 mil gastos para a publicação do manifesto do referido grupo nos principais jornais do país, em fevereiro.

Tais estratégias, somadas ao engajamento pessoal do presidente, Jair Bolsonaro, que em inúmeras oportunidades, em diversos meios e canais, estimulou o uso da ivermectina, foram responsáveis por ludibriar a população brasileira. Por outro lado, a Vitamedic registrou lucros milionários. Só em 2020, a empresa registrou crescimento de 1.105% com a venda do produto, que resultou em lucro de R$ 446 milhões nesse período.

“Nós temos um presidente que incentiva. Temos uma empresa que sai de um faturamento de R$ 15 milhões para um faturamento de R$ 466 milhões, com 3.000% de faturamento. E um percentual vem da população pobre. E o que nós temos dessa empresa? Um pagamento, um custeio de publicidade a entidades que estimulam fake news, que fazem, na verdade, a propagação de notícia mentirosa”, declarou a senadora.


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