Segunda chance

Queiroga, gabinete paralelo e Copa América são destaques da semana na CPI da Covid

Até sexta-feira, agenda da comissão ouve secretário de Pazuello e governador do Amazonas, Wilson Lima, além dos cientistas Claudio Maierovitch e Natália Pasternak

Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Queiroga substituiu o general Eduardo Pazuello (ao fundo) e já mentiu à CPI, segundo Omar Aziz

São Paulo – A CPI da Covid ouve nesta terça-feira (8), pela segunda vez, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ele depôs no dia 6 de maio. Na ocasião, se esquivou sobre o uso da cloroquina e negou ter recebido orientação do presidente Jair Bolsonaro para promover o uso do medicamento, que é ineficaz contra o coronavírus, além de provocar efeitos adversos e poder levar à morte no caso de pacientes com arritmia cardíaca, por exemplo.

Em primeira oitiva, Queiroga foi ambíguo. Colocou-se como defensor da ciência, mas preservou Bolsonaro. Também afirmou desconhecer um gabinete de “aconselhamento paralelo” que atuava à margem da Saúde, o que parece inverossímil para um ministro que comanda a pasta. Mas a existência do grupo foi comprovada pela CPI e sua existência foi confirmada por vídeo divulgado pelo jornal Metrópoles.

No dia 12 de maio, após o colegiado ter interrogado o ex-secretário de Comunicação (Secom) do governo, Fábio Wajngarten, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), prometeu que Queiroga seria reconvocado “porque mentiu muito, mentiu demais”. Porém, seu comportamento continua evasivo. Nesta segunda-feira (7), afirmou à imprensa: “essa decisão de ter Copa América ou não ter Copa América, é um evento privado. Não compete ao Ministério da Saúde decidir isso aí”.

Agenda cheia

Na quarta (9), a CPI da Covid recebe o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, da equipe do ex-ministro Eduardo Pazuello. Na quinta (10) será a vez do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC). Encerrando a semana, na sexta (11) os senadores ouvirão o ex-presidente da Anvisa e da Fiocruz, Claudio Maierovitch, e a microbióloga Natalia Pasternak.

Em seus questionamentos a Queiroga e Élcio Franco, os senadores independentes ou de oposição a Bolsonaro devem se concentrar no chamado gabinete paralelo. Franco era considerado o braço direito de Pazuello e responsável pelas negociações das vacinas. Vai ter de explicar os motivos do descaso do governo, graças ao qual o Brasil deixou de ter 60 milhões de doses ainda em 2020.  Em janeiro, ele chegou a dizer, à rádio CBN, que era “uma situação bem semelhante” o uso de medicamentos como a cloroquina e os imunizantes, porque “a vacina também não tem bula neste momento”.

Governador do Amazonas

O interesse sobre o depoimento do governador do Amazonas, Wilson Lima, é grande. Ele foi um dos alvos da Operação Sangria, da Polícia Federal, deflagrada para investigar fraudes e desvios na compra de respiradores e de recursos públicos destinados ao enfrentamento da pandemia no estado. O Amazonas sofreu um colapso total do sistema de saúde em janeiro, quando pacientes morreram por falta de oxigênio hospitalar.

Além disso, a população do estado pode ter sido “cobaia” do experimento de usar cloroquina para tratamento da covid, segundo o próprio presidente da CPI. Segundo Aziz, as oitivas de governadores se mantêm se não houver decisão contrária do Supremo Tribunal Federal (STF). Os chefes dos executivos estaduais pedem a suspensão de “qualquer ato da CPI da Pandemia referente à convocação para depoimento de governadores de estado e do Distrito Federal”.

Por fim, na sexta, será a vez da ciência, com os depoimentos de Claudio Maierovitch e Natália Pasternak, críticos das políticas bolsonaristas ante a pandemia. Em março, com a iminência da saída de Pazuello, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, Maierovitch afirmou que era “difícil de ser otimista” e que, se entrasse (no Ministério da Saúde) um nome para dizer “sim, senhor” a Bolsonaro, como foi Pazuello, “vamos ficar do jeito que estamos”. Uma das mais ativas vozes da ciência brasileira na situação de pandemia e pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Natália Pasternak disse em abril, à CNN, que o Brasil é “uma ameaça sanitária global”.

Confira os depoimentos da CPI até 18 de junho:

  • Terça-feira (8) – Marcelo Queiroga, ministro da Saúde
  • Quarta-feira (9) – Élcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde
  • Quinta-feira (10) – Wilson Lima, governador do Amazonas
  • Sexta-feira (11) – Claudio Maierovitch, ex-presidente da Anvisa e da Fiocruz, e Natalia Pasternak, microbióloga e pesquisadora da USP
  • Terça-feira (15) – Marcellus Campélio, secretário de Saúde do Amazonas
  • Quarta-feira (16) – Wilson Witzel, ex-governador do Rio de Janeiro
  • Quinta-feira (17) – Carlos Wizard, empresário apontado como membro do gabinete paralelo
  • Sexta-feira (18) – Paulo Baraúna, representante da White Martins, fornecedora de oxigênio hospitalar


Leia também


Últimas notícias