Negacionismo

À CPI, Osmar Terra defende imunidade de rebanho e ataca isolamento

Deputado afirmou que as pandemias só terminam quando a maioria da população tiver sido infectada

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
"Se isolamento funcionasse, não morria ninguém em asilo", disse Terra, em mais uma distorção

São Paulo – Em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (22), o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) atacou as políticas de quarentena e distanciamento social. Segundo ele, lockdown e quarentena “não têm nenhum impacto”. Ele também voltou a afirma que a imunidade de rebanho “é como terminam todas as epidemias”. Apesar disso, negou que tenha apresentado uma proposta de “contaminar a população livremente”.

Nesse sentido, Terra reconheceu que suas opiniões estavam alinhadas com as do presidente Jair Bolsonaro. “Ele (o presidente) tem uma visão de que quarentena e lockdown não funcionam. E, de fato, não salvaram nenhuma vida”, reafirmou o parlamentar.

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Ele atacou, por exemplo, o fechamento adotado no Reino Unido. “Mais lockdown e quarentena que o Reino Unido, ninguém fez”, alegou. Contudo, ele negou que o declínio no número de casos e mortes apresentados naquele país a partir de fevereiro tivesse relação tivesse relação com as restrições adotadas. “Provavelmente é porque já havia um número muito grande de pessoas infectadas”, afirmou.

Segundo ele, Coreia do Sul, Japão e Suécia são os países que melhor lidaram com a pandemia. Ele ignora, contudo, que a Coreia do Sul não apenas adotou medidas restritivas como promoveu larga política de rastreamento, com testagem em massa, para sufocar os surtos da doença. Já a Suécia registrou índices de letalidade muito superiores aos dos vizinhos escandinavos, como Dinamarca, Noruega e Finlândia. Inclusive o gabinete sueco foi derrubado pelo Parlamento após desgaste por conta da condução da pandemia.

Contágio descontrolado

Assim como no Reino Unido, Terra também atribuiu à “imunidade de rebanho” a redução do número de casos no Amazonas, após o estado registrar picos de mortes em maio de 2020 e no início deste ano. O presidente da Comissão, senador Omar Azis (PSD-AM), reagiu. Ele atribuiu o crescimento da segunda onda ao recuo do governador Wilson Lima (PSC-AM), que revogou decreto de isolamento que seria adotado em 26 de dezembro. Aziz afirmou que aqueles que questionaram as medidas de isolamento são “cúmplices” das milhares de mortes em seu estado.

“Imunização de rebanho, quem está me ouvindo aqui, é o seguinte… Imunização de rebanho é: se infecte com o vírus, mas se você tiver algum tipo de problema, você vai morrer e os fortes sobreviverão. Isso aconteceu, é histórico isso, não é agora não, isso é histórico. Então, eu não discuto com a ciência, eu ouço a ciência”, disse Aziz.

Gabinete paralelo

Osmar Terra é suspeito de comandar o chamado “gabinete paralelo“, que instruía Bolsonaro sobre as medidas que deveriam ser tomadas, ou não, no enfrentamento da pandemia. O senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI, chegou a afirmar que o presidente era uma espécie de “ventríloquo” das afirmações proferidas pelo deputado.

“O que o deputado fala, Bolsonaro fala também. Reproduzia praticamente o que o deputado dizia sobre a imunidade de rebanho. Há um claro casamento temporal entre as suas manifestações e as do presidente da República. O que evidencia, mais uma vez, que algumas pessoas de fora do ministério aconselhavam o presidente da República”, frisou Renan.

Apesar das evidências, Terra afirmou que teve apenas encontros esporádicos com Bolsonaro. “Me encontrava com ele uma vez por mês. Ou a cada 15 dias”. Ele citou a presença do ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, nesses encontros realizados no Palácio do Planalto.

Previsões

Terra também ficou conhecido pelas previsões infundadas sobre os rumos da pandemia. Sempre minimizando o número total de mortos pela doença. E que o ciclo da doença logo se encerraria. Ele disse que suas análises eram baseadas no desenvolvimento da pandemia na China, ignorando que o país adotou as mais duras medidas de confinamento.

“As previsões que eu fiz não foram baseadas num estudo matemático apocalíptico como do Imperial College, mas aos fatos que existiam na época. Em fevereiro e março, os fatos concretos eram a epidemia da China. Ela começou, subiu, desceu e terminou. Tem 4 mil mortos na China até hoje. Isso nos levou à ideia de que não seria tão grave.”

Segundo o parlamentar, o que derrubou suas previsões foi o surgimento de novas variantes. Nesse momento, ele foi novamente rebatido por Renan, que afirmou que o desenvolvimento da doença concretizou “as previsões mais sombrias”. “Não sabemos como essa pandemia vai acabar. Mas com certeza, vai ser de maneira diferente das suas previsões”, ironizou o relator.


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