Desastre

Impeachment de Witzel demonstra a falácia da ‘antipolítica’, diz especialista

Empossado, Castro também é acusado de desvios na Saúde e na merenda. Para cientista política Rosemary Segurado, partidos progressistas devem apostar no valor da política

BRUNNO DANTAS/TJRJ
BRUNNO DANTAS/TJRJ
Ascensão e queda de Witzel tiveram participação de Bolsonaro

São Paulo – Wilson Witzel (PSC-RJ) é o primeiro governador afastado do cargo desde a redemocratização. Após decisão unânime, o Tribunal Especial Misto (TEM) confirmou nesta sexta-feira (30) o impeachment contra Witzel, que estava afastado há 10 meses. Além da perda do cargo, ele ficará inelegível por cinco anos. Em seu lugar, assume o então vice-governador Cláudio Castro (PSC-RJ), empossado no último sábado (1º).

Witzel foi condenado por crimes de responsabilidade na resposta do governo do estado à pandemia. Pesou contra ele a requalificação da organização social (OS) Instituto Unir Saúde e a contratação da OS Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas). As entidades são suspeitas de desvios na construção e gestão de hospitais de campanha no ano passado. 

Por outro lado, o ex-secretário de Saúde Edmar Santos acusa o novo governador de também fazer parte do esquema. Ele agora será formalmente investigado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e também é acusado de ter recebido propina quando era vereador.

Causas

Para a cientista política Rosemary Segurado, as denúncias envolvendo Castro indicam que Witzel não foi afastado apenas pelos casos de corrupção. Seu impeachment foi resultado da perda de apoio político, após ter entrado em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro. Além do discurso de combate à corrupção, ele foi eleito, com o apoio da base bolsonarista, prometendo uma repressão violenta contra o crime organizado.

Por outro lado, demonstra que é “falacioso” o discurso da antipolítica que ajudou a elegê-lo, segundo Rosemary, que é professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP).

“Parte desses outsiders se elegeram com o discurso em defesa das investigações, como aqueles que condenavam e abominavam a corrupção., que estavam fora da política e, portanto, não eram corruptos e fariam um melhor governo. É um ponto bem importante para mostrar o quanto esse discurso é falacioso”, afirmou Rosemary, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta segunda-feira (3).

Consequências

Inexperientes do ponto de vista administrativo, esses nomes ligados à antipolítica – como o próprio Bolsonaro e sua família – impõem duras perdas à população, com a piora generalizada dos serviços públicos. Diante disso, Rosemary diz que os partidos progressistas têm a tarefa de dialogar com a população, demonstrando que é possível “fazer política de qualidade”.

A cientista política também chama a atenção para a banalização do processo de impeachment. O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), será julgado na sexta-feira (7) por um segundo pedido de impedimento. Apesar de ser um processo também jurídico, também depende das articulações políticas em torno do substituto. O que, por outro lado, pode causar efeito inverso, no caso de um político acusado, com fortes indícios de ter cometido crime, conseguir se livrar do afastamento, ao articular a devida base de apoio. “Temos que debater o quanto isso impacta para a nossa jovem e incipiente democracia, ainda em construção. E bastante abalada nos últimos anos”, alertou a professora.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira


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