Tudo ou nada

Com a instalação da CPI da Covid, cenário será de ‘muita dificuldade para o governo’, diz professor

Em minoria, Bolsonaro e sua base de apoio têm início “politicamente muito ruim” após divulgação de planilha com 23 acusações ao governo e ação judicial contra Renan Calheiros. “Tiro no pé”, diz Wagner Romão

Carolina Antunes/PR
Carolina Antunes/PR
Bolsonaro, seus filhos e integrantes do governo zombaram de diversos países e de seus líderes

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro e sua base de apoio chegam à CPI da Covid nesta terça-feira (27), que deve ser o principal teste do governo, com uma imagem “politicamente muito ruim”. É o que avalia o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Wagner Romão, sobre a divulgação às vésperas da instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito de uma tabela direcionada a 13 ministérios. O documento enumerava 23 acusações frequentes contra a gestão de Bolsonaro na pandemia e foi visto por muitos como uma “confissão de culpa” do governo. 

A decisão do juiz Charles Renaud Frazão de Moraes, do Distrito Federal, que concedeu liminar nesta segunda (27) para impedir que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) assumisse a relatoria da CPI da Covid também foi considerada um “tiro no pé” na estratégia de defesa do presidente da República. Na manhã desta terça, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF) acabou suspendendo a decisão, garantido que o senador possa ser escolhido relator da comissão. A decisão explicita que o poder de escolha é do Legislativo.

“O que vamos ver a partir de hoje é um cenário de muita dificuldade para o governo. Porque além de ter uma minoria na composição da CPI, esse é um governo que cometeu muitos deslizes, erros e até crimes na tentativa de lidar com a pandemia”, observa Romão em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual

Pressão bolsonarista

O debate sobre a instalação da CPI teve início agitado hoje, por volta das 10h, com a questão de ordem do senador Ciro Nogueira (PP-PI). Aliado do governo, Nogueira pedia a suspensão da reunião sob a justificativa de que haveria membros da comissão que fazem parte de outras comissões. Mas o pedido acabou sendo indeferido pelo senador Otto Alencar (PSB-BA) que preside a instalação. 

Em paralelo, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) tenta costurar um acordo para que seu partido e o PP deixem o bloco que integram com o MBD na Casa. O objetivo é evitar que Renan Calheiros assuma a relatoria da comissão. O que, no entanto, já é dado como certo pela maioria dos 11 senadores. 

Por temor

De acordo com Romão, toda essas manobras evidenciam que a base bolsonarista está realmente “temerosa” com o que pode ser essa CPI da Covid. Com o governo federal acuado, a tática, segundo o professor da Unicamp, deve ser exatamente a “de colocar uma série de outros elementos em jogo que possa dificultar a própria CPI a se focar sobre o governo Bolsonaro para ter que lidar com uma série de outros problemas que vem aparecendo”. A estratégia deve contar inclusive com atores do Judiciário. “Aqueles que são francamente bolsonaristas e que vão cumprir qualquer tipo de tarefa que seja designada a eles”, completa Romão.

“Essa estratégia de diversionismo que vem sendo usada por Bolsonaro e seu comandados pode criar realmente um ambiente, porque a CPI pode dar em muita coisa ou pode dar em nada”, afirma o professor.

Se confirmada a instalação da comissão, o colegiado deve eleger o comando da CPI, com a definição do presidente, vice-presidente e relator que a partir de amanhã deve apresentar o plano de trabalho, começando pela convocação de ex-ministros da Saúde e diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção


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