Sombra de Lula

Acuado e de máscara, Bolsonaro tenta mudar postura sobre vacinas, mas insiste na cloroquina

Após discurso de Lula, Bolsonaro diz que “governo está mostrando trabalho”, ao sancionar PL que facilita compra de vacinas da Pfizer e Jansen contra a covid, após passar um ano minimizando a pandemia, que já matou mais de 260 mil brasileiros

Marcelo Camargo/ABr/Fotos Públicas
Marcelo Camargo/ABr/Fotos Públicas
Bolsonaro, que sempre atacou medidas de proteção aos brasileiros contra a covid, apareceu de máscara para anunciar compra de vacinas, após ter assistido a pronunciamento de Lula

São Paulo – Após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursar em defesa da ciência, da vida e das vacinas na manhã de hoje (10), Bolsonaro deu uma breve declaração para se posicionar e reforçar medicamentos ineficazes contra o coronavírus, como a cloroquina. Lula está livre de processos e de volta ao jogo político, caminhando rapidamente para ocupar um espaço desprezado por Bolsonaro desde março do ano passado, o de defesa da população contra a ameaça da covid-19.

Leia a íntegra do primeiro discurso de Lula após anulação de condenações da Lava Jato

Bolsonaro falou após um evento organizado para mostrar seu apoio e sanção à iniciativa do Congresso para acelerar a compra de vacinas da Pfizer e Janssen. Pela primeira vez também, toda a comitiva presidencial estava usando máscaras. Contido e constrangido, o presidente mudou seu discurso sobre os imunizantes.

Desde o ano passado o presidente ataca vacinas, o distanciamento social e o uso de máscaras. Chegou a dizer que imunizantes poderiam provocar “morte, invalidez e anomalia”. Disse ainda que seu governo não compraria vacinas da China, caso da CoronaVac. “É decisão minha (…) A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande”. Já sobre uso de máscaras, disse ser coisa de “marica”, entre outros ataques.

Mentiras continuam

Porém, hoje Bolsonaro disse que “o governo federal está mostrando trabalho” e chegou até a citar sua mãe, que foi vacinada com duas doses da CoronaVac. Entretanto, a mudança acanhada e protocolar de postura deixou de lado, novamente, o compromisso com a verdade e com a saúde do povo brasileiro. Ele não disse uma palavra sobre as quase 2 mil mortes diárias por covid-19 atualmente no Brasil. O país vive seu pior momento da pandemia, resultado direto do negacionismo bolsonarista. O presidente sempre estimulou aglomerações, negou a ciência, atacou uso de máscaras, além do descaso com as vacinas.

Em outro momento, Bolsonaro disse que “enviou uma comitiva a Israel” para negociar acordos “de vacinas e medicamentos” contra a covid. Na verdade, a comitiva bolsonarista não foi falar sobre vacinas. Um grupo, sem a presença de especialistas da área da Saúde, apenas políticos e o chanceler Ernesto Araújo, tentou visitar instalações de um laboratório que pesquisa um spray nasal contra a covid. Entretanto, foram impedidos de realizar a visita. Além disso, Araújo chegou a ser advertido por não usar máscaras. Em outro momento constrangedor, Eduardo Bolsonaro se encontrou com o premier israelense, Benjamin Netanyahu, usando sua máscara de forma incorreta, abaixo do nariz.

Cloroquina de novo

Não existe tratamento precoce contra a covid-19. A comunidade científica é praticamente unânime neste sentido. Entidades nacionais e internacionais reafirmam a ineficácia do “kit covid” bolsonarista, com destaque para a cloroquina e a ivermectina. Mas Bolsonaro insiste em seu negacionismo e em recomendar medicamentos comprovadamente ineficazes, além de potencialmente perigosos. “Muitos têm sido salvos no Brasil com o atendimento imediato. Neste prédio, mais de 200 pessoas contraíram a covid. Quase todas buscou (sic) o tratamento imediato com uma cesta de produtos como ivermectina, cloroquina, Anitta, azitromicina, vitamina D e tiveram sucesso”.

Como explica o coordenador do Núcleo de Estudos Avançados da Fundação Oswaldo Cruz (NEA-Fiocruz), Renato Cordeiro, “temos uma trágica performance do vírus facilitada pelos comportamentos negacionistas que desestimulam o uso de máscaras, estimulam aglomerações, uso de medicamentos descartados pela ciência desde o início.”


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