POLITIZAÇÃO DO JUDICIÁRIO

Moro e Dallagnol articularam para barrar nomeação de Lula como ministro

Conversas mostram que ex-juiz quebrou sigilo uma hora depois de conversar com procurador da Lava Jato

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Moro pediu ao Supremo Tribunal Federal, que o processo da operação Spoofing seja tirado do gabinete do ministro Lewandowski

São Paulo – O ex-juiz federal Sergio Moro e o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol articularam para barrar a nomeação de Lula ao Ministério da Casa Civil no governo de Dilma Rousseff, em 2016. As conversas mostram que Moro queria levantar o sigilo relativo a uma ação da Polícia Federal sobre o acervo do ex-presidente e, uma hora depois de conversar com o coordenador da força-tarefa, publicou o despacho.

O diálogo entre Moro e Dallagnol, em março de 2016, mostram o ex-procurador receando a nomeação de Lula, pois o petista passaria a contar com foro privilegiado. De acordo com o UOL, por volta das 16h do dia 11 de março daquele ano, Moro disse a Dallagnol: “A Polícia Federal deve juntar relatório preliminar sobre os bens encontrados em depósito no Banco do Brasil. Creio que o melhor é levantar o sigilo dessa medida. Abri para manifestação de vocês, mas permanece o sigilo. Algum problema?”.

Ele se referia a uma ação da Polícia Federal em que constava um relatório sobre acervo do ex-presidente, com caixas de presentes recebidos ao longo de seus dois mandatos. Às 17h20, Dallagnol recomenda a quebra de sigilo, pois Lula poderia se tornar ministro e ter foro privilegiado. “Temos receio da nomeação de Lula sair na segunda (14 de março) e não podermos mais levantar o sigilo (…) Se levantar hoje, avise por favor porque entendemos que seria o caso de dar publicidade logo nesse caso”, escreveu. Às 17h25, Moro publicou o despacho levantando o sigilo.

Moro quer barrar Lewandowski

Todos os diálogos entre Moro e os procuradores da Lava Jato foram divulgados na última segunda-feira (1º), após decisão do ministro Ricardo Lewandowski, ao levantar o sigilo de parte do material apreendido na Operação Spoofing, que deu origem à ‘Vaza Jato’. A decisão acontece após pedido da defesa de Lula, que submeteu o material à perícia.

Nesta quarta-feira (3), o ex-juiz federal pediu ao Supremo Tribunal Federal, que o processo da operação Spoofing seja tirado do gabinete do ministro Lewandowski e enviado ao ministro Edson Fachin. Na ação, Sergio Moro afirma que “não há prova da autenticidade das mensagens”.

Em outras conversas vazadas, publicadas pelo The Intercept, o procurador Deltan Dallagnol sai “exultante” de um encontro com o ministro Edson Fachin. “Caros, conversei 45 minutos com o Fachin. Aha uhu o Fachin é nosso“, comemorou.

Moro diz que o STF deve decidir que sejam “inadmitidas” como provas as supostas mensagens. Apesar da Constituição Federal exigir imparcialidade entre juiz e acusação, Moro diz que “é de se esperar a interação entre juiz, procuradores e advogados e que não se limitam às petições formais”.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) também tenta frear o compartilhamento das mensagens com a defesa de Lula. A PGR apresentou, também nesta quarta, embargos de declaração com efeitos infringentes que questionam decisão do ministro Ricardo Lewandowski.


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