Marcação cerrada

Boulos lança gabinete paralelo por oposição ‘combativa e propositiva’ em São Paulo

Iniciativa conta com a participação de especialistas, lideranças comunitárias e do movimento social para apontar falhas da gestão municipal e apresentar alternativas

Divulgação
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Derrotado por Bruno Covas (PSDB), Boulos (Psol) recebeu mais de 2 milhões de votos nas eleições municipais

São Paulo – Guilherme Boulos e o Psol lançaram, na semana passada, o Gabinete Paralelo da Cidade de São Paulo. A iniciativa vai monitorar as políticas públicas desenvolvidas durante a gestão Bruno Covas e também propor alternativas para os problemas urbanísticos da capital. Com 40,62% (2.168.109) dos votos no segundo turno da eleição paulistana, Boulos diz que essa ferramenta também expressa o desejo de mudança dessa parcela do eleitorado.

“Não ganhamos as eleições, mas política não se faz apenas em ano eleitoral. Debates sobre projeto de cidade e de país não podem ser feitos apenas às vésperas de eleição”, disse Boulos, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (16).

De acordo com o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo Sem Medo, o gabinete paralelo não vai apenas destacar os erros da atual gestão, mas apontar alternativas. O organismo reúne especialistas, gestores públicos, lideranças comunitárias e do movimento social.

“É uma forma de fazer não apenas uma oposição combativa que critique. Qualquer tipo de oposição propositiva tem que ser também combativa. Tem que questionar, tem que criticar, apontar o dedo e mobilizar a sociedade. Mas o tipo de oposição que a gente quer fazer é também apontar a solução, com projetos”, disse Boulos sobre o gabinete paralelo.

O gabinete paralelo é uma tradição criada pelo Partido Trabalhista do Reino Unido, e que se desenvolveu em partidos de esquerda por todo o mundo. No Brasil, foi instituído pela primeira vez em 1989, após a derrota do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva para Fernando Collor de Mello, que viria a ser o primeiro presidente afastado, em 1992.

População de rua

Como exemplo da atuação do gabinete paralelo, Boulos citou a situação da população de rua. O organismo vai propor, por exemplo, quais regiões da cidade necessitam de casas de acolhimento para atender essas pessoas, que deverão ter assistentes sociais e psicólogos a disposição. Também vai apontar os recursos no orçamento para o desenvolvimento dessas ações.

Boulos classificou como “atrocidade” as pedras instaladas pela prefeitura embaixo do viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, no Tatuapé, zona leste, para evitar que a área fosse ocupada pela população de rua. As “pedras antimendigo” foram destruídas na marretadas pelo padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua. “A gente não pode tolerar a indiferença, o descaso e o higienismo como se fosse algo natural na vida da cidade”.

Apatia e medo da mudança

De acordo com Boulos, em todo o estado de São Paulo, assim como na capital, vigora um estado de “apatia” em relação às gestões comandas pelo PSDB. Apesar dos resultados insuficientes, a população continua conduzindo o mesmo grupo ao poder com “medo de mudança”. Esse temor, segundo o ex-candidato, é insuflado pelos próprios tucanos, que utilizam a máquina pública para tanto.

Como exemplo, ele citou os casos suspeitos de desvio nas creches conveniadas. Após prometer a reversão gradual desse modelo, fortalecendo o sistema público, Boulos foi alvo de ataques comandados inclusive pelo próprio secretário de Educação, que o acusou de querer deixar as famílias sem creches. Apesar da politização em torno do caso, as denúncias de fraudes na rede conveniada viraram objeto de investigação da Polícia Federal no mês passado.

Mesa de negociação

Sobre o cenário político nacional, Boulos afirmou que todos os partidos de oposição têm o direito de apresentar seus projetos e candidaturas. Mas a “responsabilidade histórica” de derrotar o governo Bolsonaro deve impelir as forças progressistas a discutirem um “programa mínimo” de reconstrução do país. Para tanto, Boulos, que também foi candidato à presidência da República, sugere a criação de uma “mesa de negociação” envolvendo os partidos e lideranças do campo progressista.

“Não vivemos em termos de normalidade. O governo Bolsonaro é o pior da história brasileira. É um governo criminoso, corresponsável por 240 mil mortos até aqui. Diariamente coloca em risco o ambiente democrático, o que resta de liberdades democráticas no país. É um governo que mobiliza numa parte da sociedade aquilo que ela tem de pior. Consegue revirar nas pessoas seus piores sentimentos e valores. O que faz com que esse caldo tóxico contamine o ambiente social”, declarou.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima


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