SP desigual

Rede Nossa São Paulo lança o Mapa da Desigualdade 2020

Mapa da Desigualdade serve como instrumento para direcionamento de políticas públicas. Documento ganha mais relevância em ano de eleições

Reprodução/Oxfam Brasil
Reprodução/Oxfam Brasil
"O dia 14 de maio de 1888 é o dia mais longo da nossa história, porque nos atinge, hoje, nas ruas, nas esquinas, nas cadeias e nas 6,5 mil favelas que se tem no Brasil. O Brasil não é um país desigual, é o país mais desigual do mundo"

São Paulo – A Rede Nossa São Paulo lança hoje (29) o Mapa da Desigualdade 2020. O documento, elaborado anualmente desde 2012, auxilia na gestão de políticas públicas – ao identificar algumas das maiores necessidades da população – e ganha especial relevância em ano de eleições municipais. O lançamento do Mapa da Desigualdade 2020 será transmitido ao vivo, às 10h, pelas redes sociais, com a presença dos candidatos à prefeitura paulistana Bruno Covas (PSDB), Guilherme Boulos (Psol), Jilmar Tatto (PT) e Márcio França (PSB).

O estudo reúne indicadores de todos os 96 distritos da capital e compara em uma escala que compara o melhor índice ao pior. Ao final, é traçado o “desigualtômetro”. Este resultado revela a dimensão dos “abismos” que separam as regiões mais ricas e com maior acesso a determinantes da qualidade de vida, das mais pobres e carentes de estruturas.

“Este mapa ajuda os gestores municipais a identificar prioridades e necessidades da população e seus distritos. As contribuir para o entendimento de dinâmicas importantes da cidade, também se coloca como um instrumento para a elaboração de políticas públicas mais inclusivas e a construção de planos setoriais mais integrados”, explica a Rede Nossa São Paulo.

Impactos

Os coordenadores da publicação explicam que, ao se falar sobre desigualdade, em geral os cidadãos pensam imediatamente em “renda”. Entretanto, o tema vai além. “Quando falamos em desigualdade, estamos nos referindo às suas diversas formas de se manifestar: desigualdade de gênero, desigualdade racial e, principalmente, em desigualdades regionais.”

As consequências das desigualdades impactam diretamente na qualidade de vida dos cidadãos: aumento ou redução da violência, adoecimentos, elevação nos níveis de estresse das pessoas, entre outras, são as mais imediatas. Neste ano, a covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, amplificou as desigualdades. A recessão econômica e, sobretudo, a má condução do governo federal ante a pandemia assolam o país e também aprofundam as desigualdades.

Destaques

O Mapa da Desigualdade 2020 da Rede Nossa São Paulo conduz o estudo por dez eixos temáticos. São eles: População, Meio Ambiente, Mobilidade, Direitos Humanos, Habitação, Saúde, Trabalho e Renda, Educação, Cultura e Esporte. Cada um destes eixos é subdividido em outras sessões. Por exemplo, em População, as subdivisões são: População Total, População Preta e Parda, População Feminina e População Jovem.

Em Mobilidade, o levantamento mostra que o acesso aos transportes de massa apresentam um índice de desigualdade de 194 vezes. O estudo calcula os percentuais da população que mora em escalas estabelecidas de distância de estações de trens, metrôs ou monotrilhos. Como esperado, os bairros centrais oferecem mais acessos aos sistemas de transporte coletivo da cidade. República e Sé apresentam mais de 85% de suas áreas com serviços de mobilidade a poucos metros de distância, enquanto 29 bairros possuem 0%. Entre eles Casa Verde, Cidade Tiradentes, Tremembé, Parelheiros e Limão, sem nenhuma estação de transporte sobre trilhos por perto.

Ainda em mobilidade, o transporte por bicicletas e ciclovias é um tema que ganha cada vez mais relevância para a cidade. E a desigualdade no acesso à malha cicloviária é extrema: 88 vezes. O estudo leva em conta a proporção da população que reside em até 300 metros de uma ciclovia. Entre os bairros mais assistidos, novamente os centrais; Pari, República e Santa Cecília. No outro oposto, Tremembé, Perus e Marsilac.

Direitos Humanos

No eixo Direitos Humanos, o Mapa mostra que a taxa de desigualdade de homicídios de jovens é 14,9 vezes entre os bairros os de mais alta renda, que têm os menores número de ocorrências do tipo: Alto de Pinheiros, Jardim Paulista, Perdizes, Mooca e Vila Leopoldina. No extremo oposto estão Morumbi, São Miguel, Brasilândia, Marsilac e República. Já sobre violência contra a população LGBTQ+, o mesmo padrão não se repete. Estão entre os piores Liberdade, Jardim Paulista, Pinheiros e Consolação. Com melhores índices, o Aricanduva, Cachoeirinha, Carrão, Cidade Dutra e Itaim Paulista.

Saúde

O índice de desigualdade da mortalidade infantil, um dos indicadores que compõem também o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é de 16 vezes entre o melhor e o pior bairro neste tema. Entre os melhores: Jardim Paulista, Moema, Alto de Pinheiros, Perdizes, Butantã, Itaim, Mandaqui, Tatuapé e Água Rasa. No oposto, São Miguel, Brás, Socorro e Brasilândia. Outro dado que integra o IDH, a expectativa de vida, marca 1,4 no “desigualtômetro”. No “melhor” bairro, Jardim Paulista, com média de 81,5 anos de expectativa de vida para os homens. No “pior”, Jardim Ângela, 58,3 anos.

Trabalho e Renda

Entre os bairros com maior oferta de empregos estão novamente os centrais. Sé, Barra Funda e Bela Vista figuram no topo, ao lado de importantes centros comerciais como Santo Amaro e Itaim Bibi. Já os bairros com menos postos de trabalho proporcionais à população estão os mais periféricos: Anhanguera, Tremembé, Brasilândia, Jardim Ângela, Capão Redondo e Grajaú.

A disparidade de renda média familiar é de 3,6 vezes entre os mais ricos e mais pobres. No topo, bairros como Alto de Pinheiros, Perdizes, Jardim Paulista, Moema e Santo Amaro possuem renda média acima de R$ 9 mil por mês. Já entre os mais pobres, Lajeado, Perus, Parelheiros, Cidade Tiradentes, São Rafael e Itaim Paulista, com renda familiar abaixo de R$ 3 mil.