Pós-pandemia

‘Novo normal’ é as pessoas voltarem a ter direitos trabalhistas, diz Lula

Ex-presidente disse que não é possível as pessoas viverem inseguras em relação ao futuro enquanto as elites defendem que o Estado deve servir para garantir lucros do capital financeiro

Reprodução/EL País TV
Reprodução/EL País TV
Preparem-se, porque o PT vai ser responsável pela retomada do governo em 2022", disse Lula

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “o mundo está de cabeça para baixo”. A ascensão mundial da extrema-direita e da antipolítica, com base na promoção do ódio e na disseminação das fake news, promoveu uma completa inversão de valores, segundo ele. No Brasil, o governo e as elites acreditam que o Estado deve servir apenas para garantir a rentabilidade do sistema financeiro.

“Não pode continuar assim”, disse Lula em entrevista ao jornal El País Brasil, nesta quarta-feira (7). Ele falou que é preciso restabelecer a verdade, a convivência harmoniosa entre as pessoas e a capacidade de se indignarem perante às injustiças. Também afirmou que o PT vai voltar a governar o país em 2022.

“Vejo as pessoas falarem no ‘novo normal’, mas ninguém sabe o que é. O novo normal é as pessoas voltarem a ter direitos trabalhistas, registro em carteira profissional, com direito a férias e 13º. Esse é o novo normal. É a gente voltar a conquistar aquilo que nos tiraram.

Segundo o ex-presidente, depois da “reforma” trabalhista, as pessoas foram iludidas com o mito do empreendedorismo. “Se vendeu a ideia de que a pessoa que trabalha como Uber é microempreendedor”, afirmou. Situação que se estende também aos entregadores de aplicativo. Na verdade, segundo ele, essas pessoas foram “deserdadas pelo Estado”. “Não tem quem os defenda. Eles não têm mais direitos.”

“Dizem que a empregada doméstica ter salário é ruim. Que ter férias e 13º é ruim. E não é verdade. Todo mundo precisa de uma certa garantia para viver tranquilo. Estamos tirando o sonho das pessoas. E dizendo que só vai sobreviver quem puder, o restante, dane-se. Mas não é assim. O Estado tem que ter responsabilidade”.

Desprotegidos

Por outro lado, Lula afirmou que é preciso que o movimento sindical aprimore práticas e discursos para passar a representar os interesses destes “setores difusos”. Ele reconheceu, entretanto, que os trabalhadores formais que constituíram a base do novo sindicalismo – bancários, metalúrgicos e os demais operários das fábricas” estão diminuindo. “Mas o povo continua sendo trabalhador”, disse. “O que precisamos é que o movimento sindical volte a reconquistar sua representatividade junto a esses milhões de brasileiros a serem protegidos.”

Auxílio e pandemia

Na entrevista ao El País Brasil, Lula afirmou que, em vez de o governo Bolsonaro criar um novo programa social – chamado, no momento, de Renda Cidadã – era mais fácil ampliar o Bolsa Família. Além disso, ele destacou que são necessárias fontes “perenes de recursos”, incluídas no Orçamento da União. E citou a proposta do Mais Bolsa Família, que consta no Plano de Reconstrução, apresentado pelo PT, em setembro. Os recursos viriam da elevação de impostos sobre os mais ricos. “O Congresso Nacional tem que ter a consciência de que os ricos precisam pagar impostos neste país”, afirmou.

Já a proposta de uma Renda Mínima Universal, bem mais abrangente, poderia ser custeada através de um fundo a ser abastecido com recursos da exploração do pré-sal, sugeriu Lula.

“A humanidade tem que readquirir a capacidade de se indignar. Se indignar é não permitir que 40 bilionários neste país juntem 140 bilhões de dólares, durante a pandemia, enquanto temos 38 milhões de pessoas que vão ficar sem o auxílio emergencial”, criticou o ex-presidente.

O novo normal, segundo Lula, também inclui a recomposição do orçamento da Saúde, que foi asfixiado em função do teto de gastos. “Voltamos ao mapa da fome, de onde tínhamos saído em 2013, destacou. “O novo normal é que recoloquem o dinheiro que tiraram do SUS. Quando veio a pandemia, o que funcionou de verdade para salvar vidas foi o SUS. Que nunca foi respeitado pelo elite brasileira.”

Eleições

Lula destacou que as eleições municipais estão apenas começando. E que o PT lançou candidatos no maior número possível de municípios, “para defender o nosso legado e apresentar propostas para o futuro”. Por outro lado, ele atribuiu o “revés” nas eleições locais de 2016 “a um massacre midiático jamais visto na história do país”, relacionado à Lava Jato. Contudo, o mesmo partido que os analistas mais precipitados afirmavam que havia morrido naquele momento, são os mesmos que ficaram “assustados” com o desempenho do candidato Fernando Haddad em 2018, ressaltou. “E, se eu fosse o candidato, certamente teríamos sido os primeiros colocados”, provocou.

“As pessoas não conhecem o PT, porque conhecem só pela imprensa. Mas o partido é maior do que isso, muito grande e muito enraizado na sociedade brasileira, como nenhum outro. Obviamente que a gente ganha e a gente perde. Faz parte da democracia. E vamos voltar a ficar fortes. Preparem-se, porque o PT vai ser responsável pela retomada do governo em 2022.”

Assista à entrevista:


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