Roda viva

João Santana: Lava Jato foi ‘o melhor esquema político de marketing já montado no Brasil’

Segundo marqueteiro, força-tarefa estimulou as “redes de ódio” que dominam hoje a política nacional

Reprodução/TV Cultura
Reprodução/TV Cultura
Para publicitário, Moro "não é do ramo" e Bolsonaro não é favorito nas próximas eleições. Chapa Ciro-Lula seria imbatível, segundo ele

São Paulo – Frustrando as expectativas dos jornalistas que compuseram a bancada de entrevistadores do programa Roda Viva, da TV Cultura, o publicitário João Santana negou que os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff estivessem diretamente envolvidos em esquemas de corrupção. E destacou que os esquemas de Caixa 2 para campanhas políticas “sempre foi a alma do sistema eleitoral brasileiro”.

Foi a primeira entrevista concedida por Santana desde 2016, quando foi preso pela Lava Jato. Ele e sua mulher, Mônica Moura, foram condenados a 7 anos e 6 meses de prisão por lavagem de dinheiro. O casal teve suas penas reduzidas após acordo de delação premiada, em que confirmaram terem recebido recursos oriundos de esquema de Caixa 2 eleitoral.

Contudo, ele destacou que até mesmo os jornalistas se beneficiavam do esquema, causando mal-estar entre integrantes da bancada. “Quando você vive um sistema de ruína moral, todo mundo é cúmplice e todo mundo é vitima. A imprensa sabia do caixa 2. Era costume de jornalistas tirarem licença de 2, 3 meses para trabalhar em campanha e ganhar o que não ganhavam o ano todo, em caixa 2”, disparou o publicitário.

Lava Jato e as redes de ódio

O publicitário classificou a Operação Lava Jato de Curitiba como “o melhor esquema político de marketing já montado no Brasil”. “Se tivesse um prêmio de marketing político eleitoral, a Lava Jato teria levado o tricampeonato: 2015, 2016 e 2017”, provocou. Também criticou a seletividade da Operação, que não investigou igualmente todos os envolvidos no esquema.

Santana sugeriu que as investigações sobre Caixa 2 deveriam ter sido enviadas à procuradoria-geral da República e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que fossem corrigidas as práticas que impregnavam as disputas eleitorais no país. “Pelo próprio escopo da Lava Jato, o Brasil perdeu uma oportunidade de eliminar isso profundamente.”

Ele afirmou, contudo, que o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro e os procuradores de Curitiba utilizaram “vertentes perigosíssimas da comunicação política”, e foram responsáveis por estimular as “redes de ódio” que vicejam hoje na política nacional. “A Lava Jato, querendo ou não, alimentou a rede de ódios.”

Moro não é do ramo

Apesar de contar com a simpatia da imprensa tradicional, João Santana disse no Roda Viva que não aposta na viabilidade eleitoral de Moro. Para ele, a eleição presidencial de 2022 vai ser “disputada, imprevisível”. “Ele não é do ramo. O Bolsonaro deu rasteiras em cima de rasteiras nele, que não faria com outros se fossem do ramo. Me parece que o Sergio Moro seria melhor como pré-candidato do que como candidato”, afirmou.

Bolsonaro “pão e circo”

Para o publicitário, o presidente Jair Bolsonaro também não é favorito na disputa de 2022. “Ao contrário do que se diz hoje, é muito mais provável que Bolsonaro perca as eleições do que ganhe”. Segundo o especialista em marketing político, o melhor e o pior da comunicação de Bolsonaro é ele próprio.

“Aquele quebra-queixo no Alvorada é uma das coisas mais inteligentes e mais burras que já foram feitas. Aquilo ali é teatro vivo. É uma coisa mambembe, é um octógono de MMA, e é evangélico”, comparou. Mas o problema, segundo ele, é o “exagero”.

“Qual o problema do Bolsonaro do ponto de vista de comunicação? É que um personagem como ele só pode viver de exageros e, por viver de exageros, se exaure”, destacou. “Numa mão, o grotesto. Na outra mão, a benesse. E não tem repertório, não tem estoque para isso. O grotesco não fascina e nem agride mais. E a benesse se exaure. É um caso patológico de pão e circo. Ninguém consegue suportar isso.”

Ciro e Lula imbatíveis

Além disso, Santana também afirmou que o ex-governador Ciro Gomes seria “extremamente viável”, se as esquerdas se unissem em torno dele. Com o Lula como vice, tal chapa seria “imbatível”, segundo ele. Essa fórmula repetiria a utilizada pela ex-presidenta argentina Cristina Kirchner, atual vice do presidente Alberto Fernández.

Entretanto, para o marqueteiro, Lula é um candidato que “não pode nem perder nem ganhar a eleição”. E deveria “tirar da cabeça” que precisa de um “banho de urna” para preservar sua imagem.

“Não, ele não precisa disso. Ele não pode perder, porque se perder afunda mais, ele e o PT. E não pode ganhar, nesse sentido metafórico, porque vai estressar ainda mais o ambiente político. Assumiria o governo sangrando. O melhor seria sabe o que? Lula seria o melhor perfil de vice-presidente que poderia ter. Impossível ser isso (vice do Ciro), mas essa chapa seria imbatível”.

Dilma x Marina

Por outro lado, João Santana também rebateu no Roda Viva a alegação da ex-ministra Marina Silva de ter inventado as fake news, nas eleições de 2014. Ele classificou como “exagero retórico” inerente a qualquer discussão política a peça publicitária que acusava a adversária de querer entregar o Brasil ao banqueiros, ao fazer a defesa da autonomia do Banco Central. Ademais, apesar de acusar o golpe, Marina se negou a responder os ataques contra ela.

“Por que na época Marina não respondeu? Um erro tático? Não, acho que tinha pudor sintomático de que se ela fosse defender ideias tão ardentes liberais não ficava bem para uma candidata de esquerda. Eu faria de novo. Não é fake news. É debate de ideias. É jogo metafórico, exagero de retórica. Mas plenamente justificável numa contenda política. Campanha política é isso”, declarou.


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