Popular e democrática

Em Florianópolis, Psol, PT e mais seis partidos formam frente contra conservadores

Para o candidato Elson Pereira (Psol), é um movimento de resistência diante das ameaças à democracia no país. O vereador Lino Peres (PT) é o seu vice

Alessandra Farias/Flickr/Reprodução
Alessandra Farias/Flickr/Reprodução
Costura da frente democrática começou após participação dos partidos nas manifestações anti-Bolsonaro em 2018

São Paulo – Os partidos do campo popular e democrático se uniram em torno de Elson Pereira (Psol) para disputar a prefeitura de Florianópolis por meio de uma frente nas eleições municipais deste ano. O vereador Lino Peres (PT) é o candidato a vice, numa composição que inclui ainda PCdoB, PDT, PSB, UP, PCB e Rede. A mais ampla aliança progressista dentre todas as capitais começou a ser desenhada após as manifestações #EleNão, lideradas pelas mulheres, às vésperas das eleições de 2018, contra o então candidato Jair Bolsonaro.

“As eleições 2020 podem representar o fortalecimento do nosso campo ou o aumento da permeabilidade do bolsonarismo nas câmaras e prefeituras”, destacou Elson. Ele foi entrevistado na noite desta quinta-feira (1º) no quadro #BarãoEntrevista, no canal do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé no YouTube.

Segundo o candidato, a grande aliança é uma resposta à conjuntura local e nacional, que impõe uma postura de “resistência”. “A busca da unidade é porque a conjuntura impõe. Para que possamos lutar pelos princípios democráticos, que estão em risco neste país.”

Além de deter o avanço bolsonarista, também é uma estratégia para combater os grupos conservadores que tradicionalmente dominam a política na capital catarinense. Já que, separados, os partidos mais à esquerda sequer chegaram ao segundo turno nas duas últimas disputas municipais, em 2012 e 2016.

Sobre a falta de representatividade feminina na sua chapa, Elson afirmou que pretende corrigir essa distorção na montagem do governo, caso eleito.

Ele destacou que, nas eleições presidenciais, os candidatos Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulous (Psol) tiveram 34% dos votos válidos em Florianópolis. Marca repetida pelo candidato petista no segundo turno.

A estratégia também é inspirada na frente ampla que garantiu a vitória do prefeito Sérgio Grando (PPS), nas eleições municipais de 1992. Naquele momento, o candidato foi apoiado por amplo leque de partidos, que incluiu PT, PCdoB, PSB, PDT, PV e até o PSDB.

À exceção desse período, nomes ligados a dois grupos familiares oligárquicos da política estadual – os Ramos e os Bornhausen, – mantiveram o controle do poder político nas eleições em Florianópolis nas últimas décadas. Nestas eleições, esses grupos tradicionais estão representados pela candidatura do atual prefeito Gean Loureiro (DEM) e da ex-prefeita Ângela Amin (Progressistas).

Desigualdades

Elson, que é urbanista, disse que apesar de ser um dos cartões postais do país, vendida como uma cidade rica, Florianópolis também é marcada por fortes desigualdades sociais. Ele citou, por exemplo, o déficit habitacional, que atinge cerca de 10 mil moradias na cidade. Por outro lado, outros 20 mil empreendimentos estão desocupados, mas não abandonados, à espera de valorização. “É muita gente sem casa. E muita casa sem gente, como costuma dizer o Boulos”.

Ainda assim, a administração municipal não estabeleceu nenhum convênio com o governo federal para a construção de habitação pela Faixa 1 do Minha Casa Minha Vida, nas últimas décadas. Segundo ele, esse tipo de empreendimento ficou reservado para cidades como Biguaçu e Palhoça, na região metropolitana.

Elson prometeu o fortalecimento do Fundo Municipal de Habitação para o desenvolvimento de políticas públicas na área. Além disso, ele criticou o atual prefeito por tentar aprovar, em meio à pandemia, uma nova lei municipal que previa a desapropriação “sumária” de casas em condições irregulares. A iniciativa foi temporariamente barrada na Câmara municipal, pelos mesmos partidos que compõem a base do prefeito.

O candidato nas eleições em Florianópolis também destacou que mais da metade da Ilha de Santa Catarina, onde fica a capital, não tem tratamento de esgoto. Outro sinal da desigualdade local é que quase um quinto dos florianopolitanos estão recebendo o auxílio emergencial. Temendo a degradação da situação econômica e social a partir do ano que vem, quando o auxílio deixa de ser pago, a sua coligação estuda uma proposta de renda básica municipal.

Serviços municipais

Ele também destacou que, com a expectativa de empobrecimento das famílias, mais pessoas devem procurar os serviços municipais de saúde e educação, o que demanda uma política de valorização dos servidores públicos. Dentre outras propostas, ele também citou a criação da Patrulha Maria da Penha, para combater à violência contra a mulher. Serão grupos de guardas municipais que farão visitas periódicas em lares em que as mulheres estão em situação de risco. “É preciso rediscutir o papel da guarda municipal, que acabou se tornando uma força repressora, como a Polícia Militar”, afirmou.

Nas eleições municipais, PT e Psol formaram coligações para a disputa em cinco das 26 capitais do país. Em Recife, Manaus e Rio Branco, os candidatos petistas contam com o apoio dos psolistas. Por outro lado, em Florianópolis e Belém, os nomes escolhidos pelo Psol para as eleições receberam o apoio dos petistas. Fora das capitais, os dois partidos caminharão juntos também em cidades como Campinas e Sorocaba, no interior de São Paulo.

Já a questão da mobilidade urbana, por exemplo, depende de uma articulação com as demais prefeituras da região. Ele destacou que Florianópolis exerce uma “centralidade”, onde todas as linhas dos municípios da região metropolitana se dirigem necessariamente à capital, sem conexão direta entre elas. Por outro lado, ele destacou que um “pool” de empresas de ônibus venceu licitação, com contrato de 20 anos, para operar na capital. O que dificulta a implementação de políticas públicas nesse setor.

PT e Psol em outras capitais

PT e Psol formaram coligações para a disputa em outras quatro capitais. Fundado em 2004, o Psol foi criado por dissidentes do PT. Os dois partidos voltaram a se aproximar a partir de 2016, durante o golpe do impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff. O Psol também se opôs à prisão política do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva em 2018. Também estiveram juntos no segundo turno das últimas eleições presidenciais.

Em Recife, Manaus e Rio Branco, os candidatos petistas lideram as chapas com o apoio dos psolistas. Em Belém, o deputado federal Edmilson Rodrigues (Psol) é apoiado pelos petistas. O professor petista Edilson Moura é o seu candidato a vice. PDT, Rede, PCB, UP e PCdoB também participam da coligação.

Em Recife, a candidatura da deputada federal Marília Arraes (PT) terá a companhia do ex-superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) João Arnaldo Novaes Júnior, candidato a vice-prefeito pelo Psol.

Em Manaus, o deputado federal José Ricardo (PT) encabeça a chapa, e tem como vice, pelo Psol, a assistente social Marklize Siqueira. Já na capital do Acre, Rio Branco, o advogado Daniel Zen (PT) será candidato a prefeito, contando com o apoio do professor Cláudio Ezequiel, do Psol, como vice.

Fora das capitais, os dois partidos caminharão juntos também em cidades como Campinas e Sorocaba, no interior de São Paulo. Em Campinas, terceira maior cidade paulista, o vereador Pedro Tourinho (PT) terá como vice a dirigente sindical Edilene Santana (Psol). Perto dali, em Sorocaba, as posições se invertem. O deputado estadual Raul Marcelo (Psol) terá a companhia do sindicalista Paulo Eustasia (PT) na disputa pela prefeitura.


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