eleições 2020

Bicicletas e ciclovias: o que dizem os candidatos à prefeitura de São Paulo

Ciclovias estão na boca de todos os candidatos. Questão da mobilidade urbana é um dos temas que mais têm impacto para a população das cidades

arquivo/ebc
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Além da manutenção e ampliação da malha cicloviária, espera-se maior integração com modelos de transporte público de massas

São Paulo – As eleições municipais se aproximam, e os eleitores analisam propostas dos candidatos sobre temas importantes para suas cidades. Entre eles, está a questão da mobilidade urbana. Dentro desse espectro de assuntos, um que se destaca é o que versa sobre bicicletas, malha cicloviária e intermodalidade de transportes.

Falar sobre o papel das bicicletas nas cidades é falar sobre benefícios diretos à saúde, tanto dos ciclistas quanto de toda a população, já que além das pessoas melhorarem sua condição física, ao escolher pedalar para ir de um ponto a outro pela cidade, a menor a quantidade emitida de gases poluentes à atmosfera promove importante redução da poluição do ar. Também é falar sobre soluções práticas para problemas de deslocamento, de congestionamentos de veículos, segurança no trânsito etc. Outros muitos temas perpassam a discussão sobre o estímulo ao uso de bicicletas e ciclovias.

E o que pensam os candidatos à prefeitura de São Paulo sobre o tema? A RBA avaliou as propostas dos cinco candidatos mais bem colocados na última pesquisa Ibope, do dia 22 de outubro. São eles: Bruno Covas (PSDB), Celso Russomano (Republicanos), Guilherme Boulos (Psol), Márcio França (PSB) e Jilmar Tatto (PT).

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O que se espera?

A Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade) produziu a cartilha “Agenda Propositiva para a Cidade de São Paulo. Mobilidade e clima”, com propostas a serem consideradas pelos candidatos nas eleições 2020. O documento é assinado pelo coletivo Bike Zona Sul (BZS), coletivo Cidade A Pé, Greenpeace, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Instituto Saúde e Sustentabilidade, Rede Nossa São Paulo, SampaPé e o Coletivo Metropolitano de Mobilidade Urbana (Commu).

O material trata de “demandas para a efetivação e reconhecimento da mobilidade como garantia de direitos sociais e mecanismos de enfrentamento à emergência climática, sistematiza prioridades, desafios e oportunidades para o avanço da agenda urbana na cidade”.

Eixos

O documento, que se destina às candidaturas do Executivo e do Legislativo, além da sociedade civil, propõe alguns eixos para debate e reflexão para fins de fiscalização e monitoramento de políticas públicas de mobilidade. As entidades esperam que os candidatos estimulem e disseminem a modalidade de transporte cicloviário, com ações propositivas e em busca de conscientização e segurança para a prática. “A implantação de ciclovias e ciclofaixas é uma das principais formas de promover o aumento no uso da bicicleta e atrair novos usuários para este modo de transporte”, afirma o texto.

Além da manutenção e ampliação da atual malha cicloviária, espera-se maior integração com modelos de transporte público de massas, como ônibus, trens e metrôs. Entre as demandas estão: “Facilitar a integração, o embarque e o desembarque com bicicletas nos ônibus municipais; dar prioridade à implantação da rede cicloviária no entorno de pontos de ônibus, terminais e estações de metrô e trem; implantar bicicletários e paraciclos, internet wi-fi, estações de compartilhamento de bicicletas perto de pontos de ônibus, terminais e estações de metrô e trem” e outras.

Outro ponto de destaque é o que trata da disseminação da cultura do transporte por bicicletas no ambiente urbano, especialmente nas periferias. “A infraestrutura viária para bicicleta é mais segura para os ciclistas e melhor para a convivência viária. Além de promover o uso da bicicleta como forma de deslocamento, é importante reconhecer a importância desta infraestrutura especialmente para os bairros periféricos, onde seu uso é alto e ressaltar a necessidade de atender grupos de pessoas mais sensíveis à política cicloviária, como mulheres, crianças e idosos.”

O que dizem os candidatos?

Os cinco principais candidatos à prefeitura paulistana citam eu seus programas de governo medidas de estímulo ao uso de bicicletas e ampliação da malha cicloviária. Confira:

Bruno Covas (PSDB)

O tucano candidato à reeleição inicia as propostas sobre o tema ao afirmar que em sua gestão “161 km de ciclovias foram implantadas e/ou requalificadas”. É importante ressaltar que, deste número citado, apenas 17 quilômetros são realmente de novas ciclovias, feitas durante os quatro anos de governo tucano na capital paulista (dois com João Doria e dois com Covas). O número é francamente baixo perto dos mais de 400 quilômetros construídos durante o governo anterior, do petista Fernando Haddad.

Contudo, nas propostas de sua candidatura, Covas promete mais 200 quilômetros para os próximos quatro anos. “A malha cicloviária da cidade ultrapassará 650 km, com a interconexão dos trechos existentes, iluminação, semaforização, manutenção constante das vias e inauguração de novos bicicletários públicos. Um terço dos deslocamentos da capital é realizado a pé e a segurança do pedestre é prioridade”, afirma.

De forma bastante genérica, a intermodalidade nos transportes também aparece. “Estimular o transporte público e ampliar novos modais para promover facilidade e maior celeridade de deslocamentos, incentivando também a transição para a economia de baixo carbono, com prioridade ao pedestre e à bicicleta; 
Apostaremos também na integração máxima dos diferentes modais de transportes, de bairros a terminais de ônibus e ao sistema metroferroviário.”

Celso Russomano (Republicanos)

Atualmente o candidato com maior rejeição deste pleito, embora apareça em segundo lugar nas pesquisas, cita brevemente a questão das bicicletas em seu programa. A palavra “bicicleta” aparece apenas três vezes em seu programa, todas no mesmo parágrafo. Entretanto, estão ali, breve e superficialmente, ideias de estímulo à intermodalidade dos transportes. Na verdade, este é o eixo sobre o tema que consta no documento do político.

“Refazer o plano diretor de logística de abastecimento e trânsito por meio de bicicletas e patinetes (bicicletas, patinetes e outros meios alternativos de transporte) na cidade de São Paulo, conciliando o traçado da cidade com o acesso aos terminais modais, fluxos prioritários de usuários em face do trajeto de trabalho e de lazer e, também, da necessária disposição de estruturas de estacionamento de bicicletas e patinetes – áreas de descanso e trechos de intersecção com o tráfego dos demais veículos. É preciso que a política de intermodalidade avance para além dos desenhos de ciclovias sem uso e mal cuidadas.”

Na sequência, Russomano volta a falar sobre integração e requalificação da malha. “Elaboração de Plano Cicloviário integrado ao Plano de Mobilidade do Pedestre que deverão ser implementados, sempre buscando a integração plena de todos os modos de transporte, proporcionando meios de deslocamentos saudáveis e não poluentes. Implantar projetos de infraestrutura adequados para circulação de pedestres e ciclistas, incluindo a construção, renovação e rebaixamentos de calçadas, vias públicas e parques.”

Guilherme Boulos (Psol)

No projeto do candidato do Psol estão objetivos de ampliar a malha, integrar as ciclovias com os demais modais de transporte, além de outras propostas práticas. “Integrar os parques urbanos ao sistema de ciclovias da cidade;  planejar e aumentar segurança e qualidade do transporte de bicicletas, investindo na criação e integração entre ciclovias, terminais de ônibus, estações do metrô e os demais modais.”

Como novidade, Boulos traz as ideias de intermodalidade dos sistemas para além das conexões óbvias. “Integrar os bicicletários com o sistema de Bilhete Único da cidade de São Paulo; revisar e aumentar o tempo das integrações com maior facilidade para emissão do Bilhete Único;  garantir infraestrutura de suporte para ciclistas na cidade, como bicicletários cobertos, no entorno das estações desses transportes.”

Márcio França (PSB)

O ex-governador de São Paulo aborda de forma breve as questões que envolvem a capital e a malha cicloviária. O tema aparece por três ocasiões. São elas:

“Priorizar a locomoção não motorizada no Centro Readequação do tráfego na região central da Capital, incentivando a locomoção à pé ou por bicicletas ou outros meios não motorizados; adoção de outros modais como o transporte por bicicleta, aumentando o número de bicicletários e ciclovias existentes e estimulando a integração com outros modais de transporte coletivo; Conexões Urbanas: realização de obras de pequeno e médio porte para conexão de infraestruturas de diferentes modais. Conectar as ciclovias entre elas, expandir calçadas entre espaços públicos de grande fluxo e alta densidade, com a priorização para conexões de ciclovias e passarelas”.

Jilmar Tatto (PT)

Tatto foi secretário de Transportes da cidade de São Paulo durante os governos de dois petistas. Da ex-prefeita Marta Suplicy (2001 – 2004) e do ex-prefeito Fernando Haddad (2013 – 2017). Na gestão deste último, Tatto liderou a construção de mais de 400 quilômetros de ciclovias na cidade em quatro anos. Por esta razão, é o candidato que mais fala sobre o tema e de forma mais aprofundada.

As ações e propostas sobre ciclovias vão além do óbvio sobre aumento da malha, reestruturação e investidas intermodais. Chegam até em medidas de controle sanitário, tendo em vista a pandemia de covid-19. “Implementar iniciativas voltadas às bicicletas, tomando o exemplo do que foi executado em outras cidades, como Bogotá, Paris e Belo Horizonte, ativar ciclofaixas operacionais e facilitar o deslocamento de ciclistas e pedestres nos pontos mais críticos do sistema viário”, afirma no trecho que versa sobre saúde. Para Tatto, o estímulo ao transporte por bicicletas reduz aglomerações nos transportes públicos e diminui a contaminação por doenças transmissíveis pelo ar ou por contato próximo.

Inovação

Sobre a expansão da malha, Tatto é o mais ousado, e propõe o retorno do projeto PanMob, “que previa a expansão de novos 500 quilômetros de estrutura cicloviária a cada 4 anos – priorizando a conexão entre ciclovias, em especial, e as transposições dos rios, viadutos e pontes e novas ciclovias/ciclofaixas na periferia”.

“A escolha por esse modal de transporte vem crescendo consideravelmente, e deve continuar a ser incentivada para que tenhamos uma cidade com menos carros, menos acidentes, menos poluição, mais saúde e qualidade de vida, e aliviando aglomerações nos ônibus, trens e metrôs”, completa.

Bike para trabalhadores

Também estão presentes na proposta do petista, o estímulo à compra e ao aluguel público de bicicletas . “Criar um sistema público de aluguel de bicicletas, que atenda o ciclista paulistano para além das regiões nobres, onde a oferta desse serviço pela iniciativa privada tem se concentrado, alcançando as periferias; Estabelecer políticas de incentivo financeiro à aquisição e à manutenção de bicicletas. Deverá ser regulamentada a lei que criou o Programa BikeSP, que prevê o repasse de subsídios da Prefeitura aos trabalhadores que adotam a bicicleta para seus deslocamentos.”

Tatto ainda fala sobre o cuidado com trabalhadores que utilizam bicicletas para suas atividades. “Criar uma estrutura de assistência para trabalhadores de aplicativos. Cientes de que a ausência de vínculo empregatício entre trabalhadores e aplicativos expõe ciclistas e motociclistas à falta de condições mínimas de trabalho – lugar para descanso, alimentação e uso de sanitários, por exemplo –, serão criadas as Casas da Bicicleta, com wi-fi, bebedouros, banheiros, chuveiros, bicicletários e outros itens para melhorar as condições de trajeto e trabalho. Além disso, praças e outros logradouros, em diferentes regiões da cidade, também receberão investimentos na construção de bancos, sanitários, mesas, vagas de estacionamento para bicicleta e motocicleta e sinal de wi-fi.”


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