Anomalias

Polícia Federal não tem tradição republicana, afirma ex-delegado

Instituição pode estar sendo utilizada como arma política pelo governo Bolsonaro, afirma o ex-presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (Fenadepol)

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil
PF viveu "lampejo" de republicanismo e autonomia durante governos petistas, segundo ex-delegado

São Paulo – Para o jornalista e delegado aposentado da Polícia Federal (PF) Armando Coelho Neto, o aparelhamento da instituição pelo governo Bolsonaro é consequência das anomalias jurídico-institucionais derivadas do golpe do impeachment contra a ex-presidenta Dilma Rousseff e das distorções criadas pela Lava Jato. Junta-se a isso a tradição pouco republicana da instituição.

“A Polícia Federal não tem nenhuma tradição de republicanismo. A PF, como perfil, é raivosa, retrógrada, de direita, conservadora, ‘coxinha’, classe média, nos piores sentidos”, afirmou o ex-delegado a Rafael Garcia, para a edição da tarde do Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (27).

Coelho Neto, que foi presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (Fenadepol), também afirmou que a troca do comando da PF é uma atribuição do presidente, mas é “flagrante” o desvio de finalidade nessas nomeações.

Sobre a ação de busca e apreensão contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), há indicadores “claros e nítidos” do seu “viés político”. Por outro lado, diz haver suspeitas a serem apuradas em relação a um suposto esquema de desvio de dinheiro público na compra de materiais médicos para o combate à pandemia de coronavírus.

Coelho Neto também atribui a “fragilidade das instituições” no Brasil à “omissão” do Poder Judiciário e, em especial, do Supremo Tribunal Federal (STF). A Suprema Corte, segundo ele, se omitiu diante dos vazamentos e prisões abusivas da Lava Jato.

“Não consigo fazer uma análise concreta e objetiva diante de todas essas contradições. O país caiu num golpe de Estado e mergulhou numa eleição fraudulenta. Que sempre teve como pano de fundo a anomalia de postura da PF, MPF, da Justiça Federal, da PGR e do Supremo. Ou seja, uma avacalhação total de todas as instituições”, disse o ex-delegado.

Ouça a entrevista:

Correção: Esta matéria foi corrigida. A sigla da Federação Nacional doa Delegados da Polícia Federal é Fenadepol. A sigla grafada anteriormente, ADPF, corresponde à Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, da qual o entrevistado não foi dirigente.


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