"Desbatizados"

Mário Lago, Celso Furtado, Brizola, Aureliano, Gasparian: ‘nova’ Petrobras cancela homenagens

Empresa apresenta pretexto de ordem legal para justificar mudanças. "É uma segunda cassação", diz viúva do economista Celso Furtado

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Em 2010, o então presidente Lula inaugurou termelétrica em Cubatão (SP) com homenagem ao ex-deputado Euzébio Rocha, autor do projeto que deu origem à Petrobras. Agora, a usina perdeu o nome

São Paulo – Com um pretexto de ordem legal, a Petrobras retirou nomes de 11 termelétricas que homenageavam personalidades brasileiras, a maioria vinculada ao pensamento progressista e alguns ligados à história da própria empresa criada em 1953. A estatal, que planeja vender parte das usinas, alega que se trata de uma questão jurídica, porque haveria necessidade de autorização de herdeiros. Mas alguns deles afirmam que essa autorização foi dada.

É o caso de termelétrica em São Francisco do Conde, na Bahia, que em fevereiro de 2007 recebeu o então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, e o diretor Ildo Sauer para batizar a unidade com o nome do economista Celso Furtado. O ex-ministro e ex-presidente da Superintendência para o Nordeste (Sudene) está na lista de “desbatizados”, termo usado pela tradutora Rosa Freire d´Aguiar, viúva de Celso, que foi alertada para o fato por Graça Lago, filha do ator e compositor Mário Lago, que dava nome a uma termelétrica em Macaé (RJ).

“Nós demos autorização. As pessoas foram convidadas para a inauguração”, lembra Rosa, para quem o episódio significa “uma segunda cassação”. No caso do economista, ele entrou na primeira lista de cassados após o golpe de 1964, incluída no Ato Institucional número 1 (AI-1).

Rosa Freire também conversou com Helena Gasparian, filha do industrial Fernando Gasparian, também “desbatizado” na unidade Nova Piratininga, em São Paulo. E falou com a ex-ministra Ana de Hollanda, filha do sociólogo Sérgio Buarque, que aparentemente ainda dá nome a um navio petroleiro. Ana disse que não sabe de nenhuma mudança, pelo menos por enquanto.

A lista inclui ainda o ex-deputado Euzébio Rocha, autor do projeto que deu origem à Petrobras, cuja usina, em Cubatão (SP), foi inaugurada em 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva – a obra fazia parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O assessor econômico Jesus Soares Pereira, que teve papel de destaque na elaboração do projeto, agora não dá mais nome a uma termelétrica em Camaçari (BA). Além deles, Aureliano Chaves, vice do último general-presidente da ditadura, João Figueiredo; o jornalista Barbosa Lima Sobrinho, ex-presidente da Associação Brasileira de Imprensa; o ex-governador Leonel Brizola; o ex-deputado e líder comunista Luiz Carlos Prestes; o líder indígena Sepé Tiaraju; e o ex-deputado e economista Rômulo Almeida.

Segundo a Petrobras, a solicitação foi feita “para facilitar o registro dos nomes no Instituto Nacional da Propriedade Industrial, o Inpi. A empresa alega que segundo a Lei de Propriedade Industrial, em seu artigo 124, não são registráveis “o nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e imagem de terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores”. Pelo menos em alguns casos, já se sabe que o argumento não se sustenta.

Confira abaixo:

NOME ANTERIOR
NOME ATUAL
NOVO NOME
IbiritéUTE Aureliano ChavesUTE Ibirité
EletroboltUTE Barbosa Lima SobrinhoUTE Seropédica
CubatãoUTE Euzébio RochaUTE Cubatão
Nova PiratiningaUTE Fernando GasparianUTE Nova Piratininga
TermoRioUTE Gov. Leonel BrizolaUTE Termorio
Três LagoasUTE Luiz Carlos PrestesUTE Três Lagoas
TermomacaéUTE Mario LagoUTE Termomacaé
CanoasUTE Sepé TiarajuUTE Canoas
TermobahiaUTE Celso FurtadoUTE Termobahia
Vale do AçuUTE Jesus Soares PereiraUTE Vale do Açu
TermocamaçariUTE Rômulo AlmeidaUTE Termocamaçari

 

 

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