Modus operandi

Fiscal preso por extorsão na Lava Jato comandou devassa ao Instituto Lula

Supervisor da Receita preso por cobrar propina impôs multa 50 vezes maior que supostos "desvios" cometidos pelo instituto e abastecendo a imprensa com vazamentos

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Pagamentos a segurança e tradutor foram tratados como indício de corrupção no Instituto Lula

São Paulo – O auditor fiscal Marco Aurélio Canal foi preso nesta quarta-feira (2) por suspeita de cobrar propinas de réus e delatores em troca da suspensão de multas da Receita Federal. Ele era supervisor da Equipe de Programação da Operação Lava Jato, e comandou devassa contra o Instituto Lula entre 2015 e 2018. Os dados da auditoria foram vazados pela imprensa, e pagamentos classificados como “desvio de finalidade” que somaram R$ 365 mil resultaram em multa de R$ 18 milhões.

As investigações contra Canal começaram a partir de delação premiada de Lelis Teixeira, réu da Lava Jato e ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor).

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Ele relatou ter negociado pagamento de R$ 4 milhões ao auditor para evitar uma multa contra a empresa de transportes carioca em um processo que corria na Receita. Ele é apontado como chefe de uma organização que incluía outros 13 integrantes também presos.

O uso político da investigação foi denunciado pelo Instituto Lula à época, e também agora. Além da multa desproporcional, o instituto afirma que os vazamentos à imprensa “serviram para alimentar a investida política e judicial contra o ex-presidente e o projeto de país que tem nele seu maior símbolo”. Os dados eram vazados antes mesmo que pudessem ser contestados pela defesa da entidade.

“Entre os ‘desvios’ estavam, por exemplo, o pagamento da passagem de R$ 936 para um segurança que acompanhou o ex-presidente no velório do vice-presidente José Alencar. Para os auditores, foi uma despesa ‘que diz respeito exclusivamente ao interesse particular do ex-presidente’. Também foi considerado desvio o pagamento do intérprete que acompanhou Lula quando o ex-presidente recebeu prêmio de doutor honoris-causa na Bolívia. O Instituto tem a obrigação estatutária de preservar e defender o legado do ex-presidente Lula”, diz nota divulgada também nesta quarta (3).

Canal era tratado como uma referência no combate à corrupção, ministrando inclusive palestras envolvendo sua atuação junto à Lava Jato, sobre a CPI dos Fundos de Pensão e a Divisão de Fiscalização da Receita comandada por ele.

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